segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Nunca esperei tal coisa...

...Sempre o admirei! Quase venerei! Era um exemplo que queria seguir. Esforçava-me para que reparasse no que eu fazia; que, diga-se de passagem, era uma repetição das coisas que ele fazia... Tinha a esperança de que um qualquer dia, olhasse e visse, e até mesmo dissesse que estava porreiro ou qualquer outra coisa... Nunca assim foi! Quarenta anos depois, as coisas têm outras proporções. O desprezo, que já por si era consequência da ignorância, passou a indiferença que se apodera dos dias e da relação. As amizades, são como os caminhos do bosque; se não forem percorridos, o mato cresce, e fá-los desaparecer! Não se tratava exactamente de uma amizade... O berço embalou ambos... Em histórias, por vezes choradas, e contadas na primeira pessoa.
Repenso e reflicto sobre a história e o passado...
A culpa sempre foi minha!
Aliás, neste, como em outros casos de idênticos contornos, a culpa foi sempre minha. Tenho de o assumir com frontalidade e sem desculpas hipócritas. Que culpa têm os outros das expectativas que depositei neles? Quando e de que modo os questionei acerca delas? Aliás, para ser sincero, nem eles tinham ou têm consciência da existência e da dimensão das tais expectativas que foram depositadas neles!
Reflicto mais um pouco sobre isso. Acho mesmo que, nem poderiam saber, sob pena de que, sabendo, fossem tomados de um exercício de cinismo e encenassem ema personagem para representar no palco das nossas vidas, que então seria uma farsa. Ou então, poderiam ainda ser genuínos, e ignorado como realmente sou, as minhas expectativas caiem por terra, desiludindo-me permanentemente.
Terei eu, alguma legitimidade para depositar expectativas nos outros, e ainda esperar que eles correspondam a elas? Mesmo porque isso é um autêntico jogo de lotaria. Esperar que alguém acerte em algo que nem sequer tem consciência que seria para acertar, só para corresponder às minhas expectativas! Parece-me muito pretensioso da minha parte...
Vou reflectir mais um pouco sobre isto...
Vem-me á lembrança que muitas vezes crio expectativas em pessoas com base nas promessas que me fazem; ou pelo menos em declarações que eu compreendo como se tratando de promessas. Reparo ainda que ao longo da minha vida tenho criado expectativas por razões muito estúpidas! Caras, sorrisos, olhares, espetos exteriores e ou interiores, frases... Eu sei lá... Sou um bocado parvo, e mesmo maniento! Achar que tenho o direito, silencioso e de exclusiva existência na minha cabeça, de esperar que pessoas façam e que eu espero que façam... Quantas vezes espero, que façam coisas incoerentes em contextos diferentes?
O mundo desilude-me tão só porque eu me iludi acerca dele. E ele não tem qualquer obrigação de o não fazer... Estranho seria se tal acontecesse...
Aí... Aí a minha postura perante os mundos mudou. Quanto menos espero, menos me angustio e desiludo com a frustração das expectativas que não tenho. E cada vez mais, espero nas pessoas de quem nada espero, e tudo obtenho...

© Mário Rodrigues - 2009

2 comentários:

  1. O raio das expectativas. Parece uma coisa com que nascemos, talvez sejam o âmago do progresso. Talvez sem elas não existisse evolução. Por outro lado são elas que nos guiam tantas vezes aos melhores destinos. Seremos capazes de arriscar um novo destino sem expectativas?

    Talvez devamos proteger-nos contra a desilusão. Mas é a perseguição da ilusão que nos dá gosto à vida. Nesta ambiguidade, sou levado a usar a liberdade de decidir, consoante esteja num dia mau ou num dia bom. Já vou percebendo, por isso, que não poderei nunca estar imune ao sofrimento, por outro lado (talvez) não esteja imunizado contra a alegria.

    Um abraço!

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  2. Cybe,

    contra o sofrimento podes imunizar-te, já contra a dor é que penso que não, topas?

    Mas concordo contigo nisso das expectativas... Se é a possibilidade de realizar um sonho que torna a vida interessante, isso, por outro lado, terá consequências!

    Abraço a ambos.

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…Escrevo, principalmente, por falta de espaço dentro de mim para tantas emoções e tão grandes, para mim. Nos comentários, fico com a sensação de que os pingos de emoção que transbordo, caiem em "terras fecundas" e coadjuvam o nascimento de novas emoções, produzem opiniões, contra pontos e desafios… E isso, isso é “geleia real”, para as nossas vidas…

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