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quinta-feira, 16 de maio de 2013

Debandada derradeira de um amor vital

Um amor verdadeiro...
Um amor impregnante...
Um amor estridentemente silencioso...

Cheguei às 6.20 h. Encontro-o solitariamente abalado no meio da multidão.
- Zé!
- Mário!
- Não te consigo dizer nada!
- Desde ontem, quando ela..., deixei de ouvir o quer que seja...

Notei-lhe uma existência entre a madeira e um esferovite, com as evidências vitais reduzidas aos sistemas voluntários. Muito pouco ali estava de homem. Absolutamente nada de conforto.

- Ontem, dizia-me ela à tarde:
    "Sinto-me cansada! Estas correrias matam-me!..."
- Nunca me contava as coisas, quando sabia que eu ia ficar chateado!... Agora aqui estão os meus restos. Os dela, ali... Nem forças tenho para estar chateado...

© Mário Rodrigues - 2013

segunda-feira, 28 de junho de 2010

A revolta de um Suatrub



Um dia, sem que muita importância tivesse o onde e o como, um Suatrub revoltou-se. Acordou quase revoltado e logo em seguida ficou uniforme e totalmente revoltado!
A revolta devia-se principalmente à fúria de não saber quem era! Não conseguia definir-se e caracterizar-se de uma forma sincera e que em simultâneo também fosse correcta e sua. Que fosse exclusiva, própria!

- Quem sou realmente?

Não conseguia responder sem hesitações e nem mesmo com elas...
Sabia de quem era filho, sabia de quem era pai, sabia de quem era cônjuge, (de uma Acetum belíssima que tinha um feitio péssimo e uma mãe...desprezível), sabia a que nome respondia quando chamado, sabia onde e o que fazia e sabia mais uma série de coisas, mas que na melhor das hipóteses lhe eram periféricas! Gravitavam em redor dele como se fossem electrões em camadas sucessivas em torno do núcleo que era ele. No entanto, nada disso era ele!

A indignação disparou, quando estando a pensar nisto, chega à conclusão que nem nos desejos e nos actos ele se conseguia identificar e rever. Respeitava regras, seguia princípios, enveredava por condutas, apoiava causas, concordava e discordava tendo em conta causas e efeitos terceiros, fazia a vontade, fazendo-a ou contrariando-a, a uma enorme quantidade de Suatrubs e Acetum, e nesta sopa gigantesca de vontades transversais, com benefícios e prejuízos para muitos e outros tantos, ele...não era nada de concreto!

O que serei realmente eu - perguntava-se a si mesmo - se o melhor que consigo é ter uma ideia de um espaço pseudo virtual onde poderá haver hipóteses de eu por ali andar!... Mas isso, por si, não me diz o que sou!... Na realidade, nem onde estou me diz!...

Esperem!... Esperem que estou a ter uma ideia!...

Aquilo que mais sinto ser é...zinco, cálcio, sódio, hidrogénio, estrôncio, lítio, ródio, oxigénio, bromo...

Finalmente!... Sinto-me um pouco mais calmo! Estou a começar a vislumbrar quem sou!...

RAIOS!!!

Tudo o que por aqui há é o mesmo que eu!!!

Se não sou nada em particular, nem mesmo o que penso, porque o que penso não sou eu mas apenas pensamentos!...
...
Só posso ser, na realidade, aquilo que não sou!


© Mário Rodrigues - 2010

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O monarca Acetum está em maus lençóis...


Estava abafado dentro de casa. Não o ar mas...o barómetro!
Demorei algum tempo, bastante, a desalojar-me da poltrona...Não me estava a sentir...desconfortável mas era-me urgente sair dela sob pena de sufocar!

Saí. Caminhei alguns metros e encontrei uma eira de pedras polidas. O vento soprava como sopra nas eiras. Parei ausente de tudo e até mesmo do local. Um gritar de uma urze despertou-me. Olho em frente e vejo um enorme mar!... Mescalina?... Bem sei... Não, não bebi Mescal nem nada...

O mar era profundo. Muito profundo. Mergulhei nele. Não me movimentei nem um milímetro para mergulhar...apenas os olhos fitos me levavam na direcção da incomensurabilidade...

A profundidade era tanta, que as bolhas de ar, devido à força gravitacional do núcleo terrestre já não conseguiam subir. No entanto, a pressão da água, dada a profundidade era tal que as expulsava desesperadamente. Assim, privadas de subir pela gravidade, concentraram-se no fundo do mar. Comprimidas contra o fundo do mar, formavam uma cápsula de ar esmagada contra o solo submarino. A pressão atmosférica no interior dessa cápsula era muito alta, cerca de trezentos kgf/cm².
Os Acetum eram seres em forma de disco plaquetário. Tinham uma estrutura social que incluía um monarca que era o primordial servo da teia social. Observo, curioso, o relacionamento entre os Acetum e o seu meio. Cuidavam-no como se estivessem a cultivar colonias de células vitais...
Apesar e hermafroditas os Acetum, cortejam-se e enamoram-se uns dos outros com muita dedicação e delicadeza. Vivem e conchas de náutilo compartimentadas que albergam dezenas de famílias.
De quando em vez, apareciam Suatrubs, que apesar de assexuados, emanavam intensos odores a feromonas. As conchas dos Suatrubs eram cónicas e eram deixadas ao abandono sempre que mais uma orgia se desenrolava.
Haviam grandes bailes de Acetuns com Suatrubs. Os Acetum eram muito ciumentos e com facilidade despoletavam batalhas de morte. Cada Acetum que sucumbia, renasciam três Suatrubs. A situação há já algum tempo que preocupa o monarca Acetum...

"Então? Que estás aí a fazer?" - Dizia-me alguém com uma voz que me era íntima!

"Acorda! Vamos para casa que está frio... Já é noite... Constipas-te!"

Pestanejei!...

O monarca Acetum está em maus lençóis...


© Mário Rodrigues - 2010

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