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quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cardhu...bagaço...álcool etílico...perfumes... (reedição)



Hoje venho aqui reeditar um post já passado, pela única razão de que as coisas melhoraram e um desejo muito profundo de alguém, hoje tornou-se realidade...

Há trabalhos que valem muito, mas mesmo muito os sofrimentos com que nos beijam... Obrigado...

...
"Trinta e seis. Em Lourenço Marques!"
"Sim. Foi uma infância maravilhosa...tinha muitos amigos...e animais...a casa era enorme e tínhamos vários empregados...tínhamos uma divisão muito grande onde nos juntávamos todos à noite, onde havia cabeças de animais que o meu pai caçara...e um aquário...um aquário enorme onde tínhamos Tilápias e Muçambas...lindo..."
"1976. O meu pai veio mais tarde...mas veio...houve quem nunca chegasse..."
"Cedo, muito cedo. Pouco tempo depois de chegar. Os trabalhos piores eram para os "retornados". Um dia, um GNR foi lá a casa levar o recado; tinha-se soltado uma viga e que...talvez no dia seguinte pudéssemos levantar o corpo...no Chile, sim na praça do Chile"
"Não, não parei. Depois fiz mestrado e duas pós-graduações, mas..."
"Bastante bem. Escolhia-os. Nunca ia com homens...menos correctos e desalinhados. Tinham de ter, principalmente, capacidade financeira...percorri uma boa parte da Europa e estive nos melhores hotéis..."
"Um dia bateu-me à porta...outra vez! Iria ser diferente...ia deixar a mulher...mas...antes disso...o teste de gravidez deu positivo e ele...filho da puta...tinha a família dele! Disse-me! Somos sempre muito boas mas já mais se casariam connosco...Vermes!"
"Lindo, claro. Como todas as mães acham os seus bebés..."
"Não! Não nos faltava nada. Aturei clientes que...tinham dinheiro e viajavam muito em negócios e reuniões. Precisavam de uma companhia vistosa e culta para exibir aos outros palhaços nos jantares...indivíduos sexualmente desequilibrados...completamente..."
"Era um SLK. Era muito bonito e não foi completamente oferecido..."
"Não, não eram clientes. Era um grupo de amigos impecáveis...íamos vomitando os nossos fantasmas mutuamente..."
"Sim. Fui para a cama com um deles. Mero sexo animal...era uma pessoa especial...não tinha nada a ver com clientes..."
"Sim, já tínhamos bebido bastante...e uns riscos de branca..."
"Parciais! A esquerda tenho dos terços do fémur e a direita o primeiro terço da tíbia..."
"A principio, do bom e do melhor...depois Martin's, Dimple, Cardhu...bagaço...álcool etílico...perfumes..."
"Só duas vezes por semana! E com a vigilância de uma tipa sempre de olho...lutei muito para lhe dar o melhor...deitei tudo a perder..."
"A assistente social disse-me que se as coisas continuassem a melhorar, falava com o advogado para pedirem uma reapreciação...talvez me deixem voltar a ficar com ele..."
"E...posso contar com a vossa ajuda! Não posso?...pelo menos a tua?!..."

© Mário Rodrigues - 2010

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A propósito da ablação...



A propósito da ablação e das variadas mutilações genitais infligidas nas mulheres e crianças do sexo feminino por esse mundo... Pergunto-me; quando ouvirei que os homens por detrás dessas tradições são alvo de "carinhos" equivalentes e de iguais propósitos...

Submeter uma criança com menos de um ano a "ablação faraónica", com o pretexto de que se o não fizer ela não pára de chorar com comichão... É... uma estupidez de uma dimensão, ela sim, faraónica!

Há vidas mais "caras"! São é muito estúpidas...


© Mário Rodrigues - 2010

quarta-feira, 17 de março de 2010

Cardhu...bagaço...álcool etílico...perfumes...


"Trinta e seis. Em Lourenço Marques!"
"Sim. Foi uma infância maravilhosa...tinha muitos amigos...e animais...a casa era enorme e tínhamos vários empregados...tínhamos uma divisão muito grande onde nos juntávamos todos à noite, onde havia cabeças de animais que o meu pai caçara...e um aquário...um aquário enorme onde tínhamos Tilápias e Muçambas...lindo..."
"1976. O meu pai veio mais tarde...mas veio...houve quem nunca chegasse..."
"Cedo, muito cedo. Pouco tempo depois de chegar. Os trabalhos piores eram para os "retornados". Um dia, um GNR foi lá a casa levar o recado; tinha-se soltado uma viga e que...talvez no dia seguinte pudéssemos levantar o corpo...no Chile, sim na praça do Chile"
"Não, não parei. Depois fiz mestrado e duas pós-graduações, mas..."
"Bastante bem. Escolhia-os. Nunca ia com homens...menos correctos e desalinhados. Tinham de ter, principalmente, capacidade financeira...percorri uma boa parte da Europa e estive nos melhores hotéis..."
"Um dia bateu-me à porta...outra vez! Iria ser diferente...ia deixar a mulher...mas...antes disso...o teste de gravidez deu positivo e ele...filho da puta...tinha a família dele! Disse-me! Somos sempre muito boas mas já mais se casariam connosco...Vermes!"
"Lindo, claro. Como todas as mães acham os seus bebés..."
"Não! Não nos faltava nada. Aturei clientes que...tinham dinheiro e viajavam muito em negócios e reuniões. Precisavam de uma companhia vistosa e culta para exibir aos outros palhaços nos jantares...indivíduos sexualmente desequilibrados...completamente..."
"Era um SLK. Era muito bonito e não foi completamente oferecido..."
"Não, não eram clientes. Era um grupo de amigos impecáveis...íamos vomitando os nossos fantasmas mutuamente..."
"Sim. Fui para a cama com um deles. Mero sexo animal...era uma pessoa especial...não tinha nada a ver com clientes..."
"Sim, já tínhamos bebido bastante...e uns riscos de branca..."
"Parciais! A esquerda tenho dos terços do fémur e a direita o primeiro terço da tíbia..."
"A principio, do bom e do melhor...depois Martin's, Dimple, Cardhu...bagaço...álcool etílico...perfumes..."
"Só duas vezes por semana! E com a vigilância de uma tipa sempre de olho...lutei muito para lhe dar o melhor...deitei tudo a perder..."
"A assistente social disse-me que se as coisas continuassem a melhorar, falava com o advogado para pedirem uma reapreciação...talvez me deixem voltar a ficar com ele..."
"E...posso contar com a vossa ajuda! Não posso?...pelo menos a tua?!..."

© Mário Rodrigues - 2010

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Mas o Tiago disse logo que assumia...

"Para mim estás morta! Ouviste? Morta! Sabes o que é? Sai-me da frente...porca, puta..."

Foram estas as últimas palavras que ouvi da boca dela. Eu fazia-lhe tudo o que podia...tomava conta dos meus irmãos...limpava a casa bué vezes...mas já estava farta! Bêbado! Chamava ela ao meu pai...talvez fosse! Não tanto como ela. Ela para além de bêbeda é má!
Tinha doze anos, quando me apareceu o período a primeira vez. Ela, quando eu corri a dizer-lhe, assustada por não saber o que se estava a passar, disse-me:
"Não sabes o que é? Deixa que não vais morrer! E se morresses, também não se perdia nada...não te ponhas a pau, não...aparece-me prenha...que ponho-te no olho da rua"
Quando olho para eles tenho medo! Tenho medo de os não conseguir tratar como deve ser...são tão pequenos e...frágeis...se pelo menos eu tivesse já os vinte! Se calhar conseguia arranjar trabalho e seria diferente...arrendar uma casa...mas, ainda faltam quatro anos! O Tiago, o meu namorado, ele é tão fixe comigo! Apesar de ainda só ter quinze, é um homem! Foi espectacular...quando ele chegar, tudo vai ser diferente. Lá na Suíça, quando ele me escreveu disse-me, que anda a guardar uma manada de vacas muito grande, e que já juntou seiscentos euros para os nossos meninos. Diz que depois vai fazer uma casa e que vamos viver à grande! O primo dele já lá está há muitos anos. Também guarda vacas. Diz que a manada dele é de vacas melhores...
Os "stores"!...aquilo era uma seca...
Esta cena de gémeos, é que me faz muita confusão!...não sei! São iguaizinhos! Menos a orelhas!
Aqui, há umas que são porreiras, mas outras falam à bruta...O Dr. Luís é fixe!
A senhora Amélia ensinou-me montes de cenas! Ela é muito fixe!
Não, eu não sou essa cena da mãe solteira...está bem que não me casei. Mas o Tiago disse logo que assumia...

© Mário Rodrigues - 2010

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Parida para morrer...

A pedra estava gelada. Sentia uma perfusão gélida que me anestesiava as nádegas. O dorso vergava-se-me. Tinha a sensação de o coração ter diminuído, lenta, mas claramente os seus batimentos... Mal o sentia! Os olhos vidrados fixavam-se no horizonte...
Bastante ao fundo, havia um monte redondo com uns arbustos mesmo na ponta. Parecia uma mama.
Não me lembro de ter mamado!
Não me lembro de ter sido uma criança feliz!
Um dia... Um dia o mundo acabou! Pareceu-me que assim tinha sido!
O cheiro era nauseabundo. A gritaria, que incluía várias línguas e idiomas por mim desconhecidos, era-me alheia bem como o chiado das rodas nos carris... Em silêncio, pelo único rasgo de mundo que me era visível, via-a a ficar longe...mais longe...bastante longe...muito longe... Desapareceu! Da vista, do meu alcance e...Era uma mulher castigada pelo trabalho brutal, pela fome e pelos espancamentos do monstro... (cuspi três vezes para o chão e limpei a boca com a manga da camisola). O ódio saltou-me de dentro como um vulcão que me aperta a garganta e quase me asfixia... Miserável... Nojo... Por muito que me lave, ainda não estou limpa, nem vinte e oito anos depois... Não sei se me virei a sentir limpa algum dia... Apesar dos lábios serrados, gritava em brados estridentes "Mãe, Mãe, Mãe..." em sussurros de um silêncio insuportável... O mundo acabara de acabar!
A minha mão direita deslizou lentamente e encontrou a mãozita dele. Também ele, silencioso e imóvel. Que pensará ele da vida? Que achará ele, no seu mais profundo intimo, de mim? Não tenho coragem de lhe perguntar! E eu? Que penso eu de mim? Sei demais para pensar o quer que seja. O meu corpo, sim porque só o meu corpo interessou, foi um "local". Sitio onde, entre outros, eu própria estupidamente me mutilei. A beleza bastava-me num "lambuzante" banho de narcisismo. O meu corpo voltou a ser o meu nó Górdio...
Mas ele, o polvo através do qual eu toco em todo o universo, saiu-me do seio como a lava irrompe das entranhas da terra. Com ele tenho a possibilidade de me rasgar em pedaços atirando-me para a fogueira, recomeçar a minha vida... Nunca é tarde... Nunca será tarde... Recuso-me a deixar que entardeça!
Poderei eu nascer trinta e quatro anos depois de ser parida? Não sei. Nem sei se isso me preocupa realmente.
Ele puxa-me a camisola e procura as minhas mamas. Eu acordo de um sonho mau. Poderás perfeitamente ser diferente de todos eles. A minha lágrima escorre-te no rosto, mas tu, serás diferente de todos eles...

© Mário Rodrigues - 2010

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