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terça-feira, 11 de março de 2025

Só há dois tipos de problemas, os que o tempo resolve e os que nem o tempo resolve!

 

O Tempo, o Homem e a Mancha na Parede



O tempo não era problema. Ele estava lá, insensível, deslizando por entre os dias e as noites como uma névoa que se infiltra pelas frinchas das portas. O problema era o homem.

Naquela casa antiga, onde o soalho rangia queixas de madeira envelhecida, havia uma mancha na parede. Não era uma mancha qualquer. Começara tímida, um tom levemente mais escuro, quase imperceptível. Mas os anos passaram e ela foi alastrando, desenhando formas indecifráveis que ora pareciam mapas de terras distantes, ora rostos deformados pelo acaso.

Durante anos, o homem olhou para a mancha como quem olha para um relógio parado. "O tempo resolve", pensava. Mas o tempo não resolveu. O tempo fez crescer a mancha. Fez dela um monumento à sua própria inércia.

Houve um dia em que a sua mulher, cansada do silêncio cúmplice entre os dois, apontou directamente:
— Não aguentas mais olhar para isso?

Ele suspirou.
— O tempo vai dar conta dela.

Ela riu. Não era riso de graça, era riso de desespero, de quem já não tinha paciência para o ouvir.
— O tempo!? O tempo só deu conta de ti! Olha-te, encolhido, esperando que as coisas se resolvam sozinhas. Se queres que a mancha desapareça, pega numa trincha e pinta-a!

Ele não respondeu. A mulher virou costas, exausta, e deixou-o com a sua parede, a sua mancha, o seu tempo.

Mas naquela noite, pela primeira vez, o homem encarou a verdade. O tempo não resolveria. O tempo apenas arrastava consigo o peso dos dias. Se a mancha fosse para desaparecer, não seria o tempo, mas ele próprio, a ter de fazê-lo.

Na manhã seguinte, abriu a lata de tinta e cobriu a parede.

E, pela primeira vez em anos, sentiu-se vivo.


© Mário Rodrigues - 2025

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Debandada derradeira de um amor vital

Um amor verdadeiro...
Um amor impregnante...
Um amor estridentemente silencioso...

Cheguei às 6.20 h. Encontro-o solitariamente abalado no meio da multidão.
- Zé!
- Mário!
- Não te consigo dizer nada!
- Desde ontem, quando ela..., deixei de ouvir o quer que seja...

Notei-lhe uma existência entre a madeira e um esferovite, com as evidências vitais reduzidas aos sistemas voluntários. Muito pouco ali estava de homem. Absolutamente nada de conforto.

- Ontem, dizia-me ela à tarde:
    "Sinto-me cansada! Estas correrias matam-me!..."
- Nunca me contava as coisas, quando sabia que eu ia ficar chateado!... Agora aqui estão os meus restos. Os dela, ali... Nem forças tenho para estar chateado...

© Mário Rodrigues - 2013

sábado, 19 de março de 2011

Dia do Pai

Ao meu, disse-lhe que gostava de ser como ele quando for grande.

A mim...

Mil beijos

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Para mi niña Lita del Carmo



Já a feiticeira Lua espreitava quando de ventre de mãe "jorraste". Senti-te a chegada no clamor da vitória...

Qual gata independente dengosa exibes teus olhos negros de menina
Águas fartas selvagens caídas, teus negros cabelos, fios de vida e de força

Mi niña...mi niña...

Rio de esperança, irreverência pura
Firmamento de estrela das noites de Sol

Em ti trina cordas de aço às mãos de...um alegre cigano
Não deixes que de teus olhos saia a alegria

Rosto pleno, toque veludo, morena cor
Não deixes que de teu corpo saia a primavera

Não deixes que jamais me não lembre o que sentia

Mi niña...mi niña mia...
Mi niña...mi vida...

© Mário Rodrigues - 2010

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Aviãozinho de papel...


Apesar de muitas vezes o procurar no meio dos outros discos para ouvir, não era o caso de hoje. A Jukebox estava em modo aleatório e a música anterior tinha sido Led Zeppelin. Estava a cantar Antony and the Johnsons e eu estava a arrumar um monte de papeis que pediam organização há já alguns tempos... No meio da papelada, apareceu-me um aviãozinho de papel. Uma folha de caderno pintada com lápis de cera às riscas e quadrados de muitas cores... Peguei nele e abri-lhe as asas, no interior tem escrito...
"FELIZ DIA DO PAI"
Suou-me como se fosse um grito...
...Sem qualquer controle saltam-me lágrimas dos olhos! Choro quase compulsivamente! Penso que...parece que sou parvo!... Tenho os meus filhos na sala do lado, autores desse mesmo avião, saudáveis e felizes e choro porquê?... Depressa descubro que choro só porque gosto deles e sei que um dia terei saudades deles, por qualquer razão normal das nossas existências. Nesse dia, decerto que lamentaria não ter guardado este aviãozinho de papel feito de uma velha folha de caderno e pintada a lápis de cera... Assalta-me a mente um pensamento! Os meus pais, saudáveis e felizes que estão, terão com eles algum aviãozinho de papel que um dia eu tenha feito? Porque saudades eu sei que eles têm, seja por horas ou dias como eu, mas...
...está a cantar a Lina Avellaneda; um belo tango...como a vida...

© Mário Rodrigues - 2010

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