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segunda-feira, 1 de julho de 2013

Será que temos... Insucesso escolar, insucesso na aprendizagem, insucesso no ensino ou nenhum deles?



Se nos processos de aprendizagem, formação da personalidade e estruturamento de prioridades no desenvolvimento do individuo e do seu carácter, o conhecimento empírico e holístico tem um peso derradeiro, no ambiente "escola", tais modos de adquirir saberes, não são tão usados ou correntemente utilizados sendo preferido um método de administração de conhecimentos mais tutorial.
A incomensurabilidade simultânea de simplicidade e complexidade do cérebro, fá-lo ser, provavelmente, o único órgão capaz de desenvolver um estudo aprofundado de si próprio, sendo que a simplicidade lógica e quase "binaria" dos processos de estímulo/resposta neurológicos contrasta com a variedade de respostas possíveis após o decorrer desse mesmo processo. O conhecimento do funcionamento do cérebro é fundamental para a melhor adaptação dos métodos de ensino, para que desse modo se agilize a aprendizagem.
Proporcionarmo-nos experiências frequentes de consciencialização da estrutura física e funcional do cérebro deverá ser um dos primeiros passos num longo caminho de o bem utilizar, promovendo através destas um melhor entendimento do que nos rodeia e de como poderemos transmitir eficazmente esse conhecimento a outros.
Tratando-se de um órgão essencialmente funcional, a complexidade, diversidade e o trabalho envolvido nos processos, são decisivos para um amplo crescimento e desenvolvimento do mesmo, não obstante o dimorfismo sexual humano, condiciona o desenvolvimento cognitivo.
A adaptabilidade plástica do cérebro, estrutural e funcional ao longo do decorrer da vida com o objetivo de acompanhar as exigências e funções da adaptação a ambientes aliada á ferramenta de excelência, a linguagem em todas as suas vertentes, permitem o acesso necessário à troca de aprendizagens e conhecimentos. Esses, por sua vez, fazendo uso da ferramenta de desencriptação da mensagem que lhe transmitimos dominam a capacidade de "desencriptar" a mensagem, factor determinante para a quantidade de informação entendida, condicionando assim a eficácia da mesma.
É imprescindível a utilização de léxicos comuns a ambos os agentes. Esta ideia poderá levantar questões relacionadas, nomeadamente de quem deve fazer o quê?
Devem os educadores utilizar léxicos menos ricos ou até mesmo pobres para fazerem chegar a mensagem?
Deveremos todos nós, promover, habilitar ou reabilitar o nosso vocabulário e dinâmica de transmissão de sensações?
Num verdadeiro exercício de imaginação, suponho-me fisicamente em uma plateia em discussão, constituída por ilustríssimos conhecedores de, vamos supor, formas de vida existentes em Marte. Sou submetido a seis horas de débito transversal de informações de valor indiscutível, provenientes de estudos aprofundados e dados retirados de experiencias inquestionáveis. O léxico utilizado pelos meus colegas de plateia é substancialmente diferente do meu. Eles estão a utilizar um código de encriptação com diferenças várias perante o meu, provocando assim, a existência de lacunas nos conteúdos da informação e a consequente deformação da mensagem por mim recepcionada. Terminada a discussão, sou submetido a uma prova que tem como objectivo primordial a avaliação dos conhecimentos por mim apreendidos na mesma. Eu executo a prova tendo por base óbvia a informação desencriptada pela minha ferramenta, o meu léxico, à qual junto as lacunas provocadas pela utilização de uma terminologia que não conheço.
Os resultados obtidos serão efectivamente correspondentes ao meu nível de conhecimento da matéria?
O meu conhecimento adquirido da matéria tem alguma proximidade da realidade da informação?
Perante os meus maus resultados é legítimo afirmar que existiu insucesso de aprendizagem?
Face aos resultados podemos admitir algum tipo de exclusão sociopedagógica?
E se eu pretender transmitir o que aprendi a um terceiro com um léxico eventualmente mais pobre que o meu? Que mensagem ele vai reter?

Estas e muitas outras questões que foram abordadas na formação levaram acima de tudo a que ficasse com muitas questões em mente. Mais que respostas, surgiram-me inúmeras dúvidas e perguntas que gostaria de encontrar respostas:
Como estão os programas lectivos estruturados?
Essa estrutura permite a adaptabilidade plástica do cérebro?
As matérias colocadas em programa estão na sequência necessária para a apreensão por parte do cérebro?
A execução dos programas lectivos contempla os intervalos imprescindíveis à apreensão, experimentação e consolidação da aprendizagem promovendo a criação e consolidação de vias neurológicas?
E no caso de ciclos pré-escolares, qual é o papel da família?
Os diversos e enormes problemas causados por processos disfuncionais de vinculação e estereotipagem dos pais e ou educadores?
As famílias são promotoras, cooperantes e coadjuvantes do ensino e da aprendizagem?
As famílias têm o mínimo de conhecimento acerca do funcionamento neurológico e cognitivo dos seus elementos e como se processa a aprendizagem?
Uma questão “intrigante” que me fica sem resposta é o “abuso” na administração em tão precoce idade de Metilfenidato, quase a gosto por incapacidade ou indisponibilidade para melhor educar?
Qual é o papel do clínico de clínica geral e familiar neste processo de sobre diagnóstico de híper actividades?
Poder-se-á equacionar uma pouco ética manipulação precoce da construção da personalidade da criança através da utilização de fármacos (leia-se Metilfenidato por ex.) interferindo directamente na construção e na adaptabilidade plástica do cérebro?

…Quantas questões ficam no ar!...

A única coisa de que fico convicto, é que é necessário e urgente obter respostas comprovadas e experimentadas para muitas questões e dúvidas que estão por responder e muitas outras que com toda a certeza irão surgir.
É urgente a criação de um grupo interdisciplinar e multidisciplinar de trabalho que tenha em vista o desenvolvimento de um trabalho impermeável a pressões políticas, de lóbis, de preconceitos, de ideologias, etc.…
Fiquei com a certeza de que não existe uma “receita” inequívoca a seguir.
Fiquei com a certeza de temos de motivar mais os educadores e os políticos do que os estudantes.
Fiquei com a certeza de que se estão a cometer muitos “crimes” seguindo determinados métodos.
Fiquei com a certeza de que é urgente melhor compreender, melhor fazer uso do compreendido e melhor ensinar dando início a uma corrente consolidadamente direccionada.

© Mário Rodrigues - 2013

sábado, 7 de maio de 2011

Nós não conhecemos nem dominamos os nossos cérebros!

Estou moído! Sinto-me nevrálgico e hibernante. Ontem, um dia bastante agitado, deixou sequelas para o futuro. Estou moído!
Uma tentativa, quase inebriante, que vamos desenvolvendo para sermos cada vez mais pró éticos, uma preocupação com os discernimentos de partículas "microscópicas" de ética e justo bem nas nossas existências, tem-se vindo a demonstrar, não só contranatura, como, em si mesmo, conspirativo numa dinâmica dificultadora de um saudável processo de pensamento.
Tenho reparado e sentido a acção de uma preocupação constante, permanente e, admito-o, por vezes quase patológica, em me "encaixar" nuns padrões social, cultural e antropologicamente, ditos éticos. Isso em si aparenta-se à primeira vista, algo que todos deveríamos fazer, num verdadeiro esforço de harmonia e bem-estar universal.
Não! Não só não tenho essa certeza, como vou duvidando da sua eficácia e vou sentido o seu efeito nefasto na saúde mental dos indivíduos e das sociedades.
A quantidade de casos de ansiedade patológica e depressões pré e pós traumáticas que se vão espalhando como a sombra de uma negra nuvem pelas paisagens de belos dias de Sol, vai aumentando com o crescimento dos efeitos nefastos de processo de justificação ética que vamos tentando assimilar e ensinar aos mais pequenos desde tenras idades.
De modo algum poderei afirmar que abandonada seja a ética e a tentativa da justiça!
Apenas vou achando que estamos a ir depressa demais, e isto pode parecer uma barbaridade, com este processo. Antropologicamente, não estamos preparados para esta aceleração na aplicação de todos os princípios éticos que inventamos, sendo que alguns são mesmo muito pouco éticos, claro está, vistos através das minhas "lentes" éticas. Não posso deixar de pensar no que têm sido estes 50 milhões de anos de evolução natural que produziram o homem de hoje. Não obstante, entendemos que estamos, intrinsecamente, quase totalmente errados!
Os processos contidos nestes milhões de anos de evolução sócio biológica foram amplamente constituídos por crueldades, injustiças, oportunismos e traições integrantes e derradeiras no desenrolar desses mesmos processos e no seu êxito de hoje.
O nível a que temos elevado a complexidade do pensamento, com tentativas de dissertação acerca de pensamentos, já em si, de elevado nível filosófico e complexidade de escalonamento psíquico, leva-nos a ponderar situações, circunstâncias e hipotéticas realidades que nos transportam para níveis que estamos muito longe de controlar e compreender. Sendo que, inevitavelmente, ficamos reféns deles mesmos, numa espiral de surrealismo virtual em cadeia. Nós não conhecemos nem dominamos os nossos cérebros!
Tenho ponderado a possibilidade de ir mantendo, até provas contrárias, a justiça e a ética, na gaveta entreaberta das inexistências, na companhia da liberdade, do acaso e da verdade...



© Mário Rodrigues - 2011

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A charrete de tule.



A charrete de tule tinha mil cocheiros sentados em parapeitos nos dorsos de mil cavalos. Os mil cocheiros tinham mil casacas molhadas pelas lágrimas de mil corvos brancos que voavam sob os cascos de mil cavalos verdes com crinas de medo. Os cocheiros divergiam permanentemente em mil trilhos sob novecentas e noventa e nove insurreições dos restantes. Mil chapéus altos adornavam as mil cabeças acéfalas dos mil cocheiros que com mil rédeas de secos nervos de mil homens tangentes, incitavam em mil galopes frenéticos os mil cavalos verdes de cascos de ouro com mil diamantes e crinas de medo.
A charrete de tule voava de portas escancaradas.
A charrete de tule transportava coisa nenhuma em quantidades generosas. O vácuo, aspirava-lhe para o interior nada, sendo que nada de lá saía bem como nada lá ficava.
A charrete de tule tinha mil rodas de cristal que reflectiam imagens de mundos exteriores ao interior do seu mundo.
A charrete de tule era feita de tule. O tule era feito de ânsia e desejo em filamentos de escarpa tecidos em teias de neblina. Por sobre a charrete de tule, deslizavam mil esperanças vestidas a rigor. Mil esperanças de mais não voltar a mil homens que esperavam mil coisas terríveis. Mil homens de mil amores por mil donzelas que voavam, quais corvos brancos sob os cascos de mil cavalos verdes com crinas de medo. Mil terrores eram esperados por mil homens, acéfalos de casacas molhadas pelo suor de mil mães parindo. Mil mães parindo a esperança de mil salvadores, correndo em mil charretes de tule, chegarem ao mundo interior do seu mundo, porque lá fora, no exterior, já mil milhares de milhão de estrelas voavam sensatas e errantes.
A charrete de tule, era a última de mil charretes divinamente enviadas para mil mentiras entregarem a mil homens de mil esperanças maravilhosas, de que com tais mil mensagens divinas, mil vezes fizesse um milhar de alegrias em mil felizes corações de mil homens justos...

Mas, a charrete de tule...


© Mário Rodrigues - 2010

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Voavam vindos...do sul...

Voavam vindos...do sul...ou talvez mesmo de norte ou do leste...
Voavam; companheiros, guerreiros e amantes...
Voavam por entre brisas que os acariciavam como mãos "voludas" de mãe mulher... Terna fúria de ventre quente...de mãe querida e desejosa!
Voavam, voavam...voavam...voavam...
Tão perto, ao longe; terra imensa doçura plena no coração uma estrela fez brilhar...
...juntos num só encarnaram num novo voar!
Rebelde e audaz de rompantes enérgicos que em picados voos aterrorizava os pedaços de terra saltados no encalço de tal fúria de vida. A vida estava-lhe nos caninos como faca exibida e rosa rubra afrontada...

...Tinham voado até ali... Agora com urgência viam as habilidades exuberantes e perigosas daquele raio de vida... Raio bento de desconhecimento da dor das veredas cravadas no dorso e na alma...

...Mas isso agora nada importa! O raio de vida, por eles encarnado num novo voar...voava, voava, voava...voava...

© Mário Rodrigues - 2010

sábado, 10 de julho de 2010

Nas viagens desconhecidas...


Nas viagens desconhecidas, pergunto-me como será por lá enquanto estou cá. Ansiaria eu que um abraço apertado me esperasse à chegada. Ir sem saber para onde, tem tanto de tentador como de...fio de lâmina fria em dorso hirto. A possibilidade de me ser permitido arrepender e voltar para trás poder-me-ia acalmar. Todos os dias no cais de um porto de mares conturbados, o ciclo ininterrupto da vida não pára com pessoas a chegar para ficar e outras a partir para não mais voltar. Alguns embarcam mas queriam ficar, outros queriam ir mas cá terão de estar. Alguns acabados de chegar, com medo querem se ir, são recebidos por outros a sorrir. Alguns estão só a observar, outros limitam-se a, no cais em círculos, caminhar. Há mesmo alguns que ninguém os recebe e ficam a chorar. Vejo neste cais a azáfama de chegar e partir como pontas de uma mesma viagem que muitas chegadas tende, como tantas partidas terá. A barcaça que está a chegar é a mesma que vejo já no horizonte de partida. O momento em que a prancha a liga ao cais alia as chegadas às partidas, os risos aos choros e as euforias às despedidas. Eu sou só mais um destes viajantes, sem saber o ponto em que me encontro. Quero ter acabado de chegar estando pronto para a partida...

© Mário Rodrigues - 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Centelhas cintilantes de luz gelada...


Gotas, gotas, gotas; muitas gotas de cristal...

Ontem, sem esforço e pela acção da brisa, acordarei... Acordarei de um sono que nem pesadelos nem sonhos terá. Acordarei suavemente, precedido de uma expiração demorada que culminaria com a inspiração de centelhas de luz branca...no acto de em nada actuar.
Ontem, quando eu despertar chegar-me-ei à beira da pétala única da flor do jarro e de lá, com os olhos fechados, veria o ponto infinito de onde "desconvergem" as centelhas cintilantes de luz gelada. Elas dirigir-se-iam a mim em movimentos cónicos e de trajectória indefinida. Inspiraria, daí, dessa beira, nada porque nada haveria à partida...

Amanhã, quando terminou a noite que não começou, apesar do aparecimento do segundo sol que permitiu o alinhamento aleatório, fruto das regras inaplicáveis, dos astros, eu que era muitas pessoas teria tido a oportunidade de em pequenos actos microcósmicos, prever que um dia assim será!...
As centelhas virão até nós e perguntar-nos-ão se o vácuo das nossas vidas teve alguma cor...
...perguntar-nos-iam se está na hora de acordarmos!...

© Mário Rodrigues - 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Prelúdio de uma inexistência anunciada...




Assim haja Deus... Na verdade o paraíso existe!...

São sete horas e vinte e três minutos da manhã neste preciso momento. Esta brisa, que deve ter aproximadamente vinte e muitos graus célsius, dada a sensação de conforto que me transmite, passa-me pelo rosto e entra-me por entre os botões da camisa "cru", de linho fresco, já entreabertos, transmitindo-me um bem-estar e uma calma que nunca experimentei!...

Recostado na cadeira de lona e madeira, com o oceano quente que me banha até às canelas, usufruo de uma ténue sombra de palmeira que me deixa repousar, sem qualquer irritação, os olhos num cardume de zebrasoma tang, que por ali petiscam...

À extraordinariamente simpática moça que me perguntava:
-"Do you want some thing? Sir!", eu pedi um...
-"Sorry", mas não sei como se chama! Mas tome nota, "please"!

Num copo grande coloque nata fresca e quase gelada, batida com um pouco de caramelo e uma pitadinha de gengibre fresco... Depois, por cima, coloque com muito cuidado, para que se não misture, duas doses de café arábico aromatizado com canela...finalmente e com idêntico cuidado coloque uma dose de "Napoleon" devidamente saturado com menta... Por favor traga-me também uma palha de três olhais laterais...
O que ela trouxe prontamente e com uma perfeição na elaboração...
Huumm! Mesmo muito, muito bom!...
Como a vida é extraordinária!...
-"Excuse me Sir! One letter for you!"
Uma carta para mim? Aqui?
Com certeza que não passará de um engano!
Pego no envelope e...
O remetente sou eu!...

Parece impossível! Como me fui descobrir aqui! Logo desta vez que fiz tudo com um perfeito rigor e secretismo para jamais ser incomodado e descoberto e logo eu, numa perfeita falta de respeito por mim próprio, tenho o arrojo e a pouca vergonha de me incomodar a mim próprio... Estúpido!...

Bem! Vou pelo menos abrir o envelope e ver o que é que me venho dizer!...


"Aqui, hoje deste mês do ano que antecede o próximo.

Excelentíssimo senhor eu, eu venho através desta comunicar-me que, por razões que se prendem com términos do período de batimentos do meu miocárdio previstos no momento da expansão da não-matéria, também chamado criação primordial do universo, estou morto. Assim, e de acordo com a legislação cujo regulamento prevê o abate de indivíduos fora de prazo, deverei providenciar a emissão e atempada remessa de documentação provatória do meu estado de óbito.
Desde já informo-me de que tais provas terão de ser convincentes, sendo que no sistema têm dado entrada provas sem qualquer teor de veracidade do tipo:

"Não respiro há dois dias.", "A Angelina Jolie convidou-me para beber um copo e eu fiquei imóvel" ou até mesmo "Estou roxo e tenho vermes nas entranhas."... Enfim, faz-se de tudo para nos enganarmos.

Sem outro assunto, apresento-me as condolências pela minha morte.
Atentamente, eu."

Sinto-me enjoado. Mas eu estou-me a dizer que estou morto? Mas que me terá passado pela cabeça? Não me recordo de ter recebido qualquer aviso!

Huumm! Nunca fui de confiança! Com toda a certeza que sabendo que estaria para breve a minha morte estive atento ao correio e antes que eu visse o aviso escondi-o, ou até mesmo era capaz de o queimar na lareira, só para que de tal não tivesse conhecimento apanhando-me de surpresa e desprevenido...

Traí-me!
Nunca esperei ser o meu maior inimigo!
Deveria ter-me acautelado, no que diz respeito às minhas desonestas investidas!
Afinal de contas, poderia ter-me preparado convenientemente, com uma vida que neste momento me orgulhasse e por puro desrespeito e total desprezo condenei-me a uma inexistência virtuosa em que tudo ficou por fazer e dizer...
Se eu tivesse sabido...
As coisas maravilhosas que eu teria feito por aquele mundo!...

Já sei!
Vou-me enviar uma carta de resposta, onde me irei opor à decisão e impugnar o acto...

© Mário Rodrigues - 2010

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Manhã (reedição)



Hoje, sem compreender exactamente porquê, acordei!

Acordei muito antes, do despertador que normalmente já costuma tocar depois de eu acordar. O dia ainda não tinha “nascido”. Olhei em redor… com a pouca luz que existia no quarto, observei a minha companheira de “guerra”, de um modo que me não lembro de alguma vez ter feito; meramente biológico. Realmente, a vida é uma grande maravilha. Dormia suave e silenciosamente, aquele complexo bioquímico, organizado numa verdadeira prova de mestria inimitável...
Levantei-me e fui até uma janela que abri… Um ar fresco e rico em oxigénio inundou-me os pulmões de assalto de um modo que quase me provocou dor…
O silêncio da manhã e o espectáculo de ver um dia nascer, é-me muito agradável. Mesmo muito. Utilizo-o muitas vezes na sequência de dias menos fáceis. Pergunto-me a mim mesmo, quanta sorte tenho em estar a assistir a um espectáculo, que apesar de se repetir diariamente, raramente reparo como é belo, e tão raramente usufruo da energia inigualável que ele me proporciona. Apesar da minha existência ser completamente indiferente a ele mesmo, (o nascer do dia).
Ao sair de casa vi uma minúscula flor violeta de quatro pétalas, que seria capaz de jurar que não existia numa pequena racha do muro de pedra. Aliás, nem tinha reparado bem que o muro era daquelas pedras; grandes... Aquele muro é um enorme habitat... Aquele muro… é o universo de muitos seres… Como será o “muro” que alberga o habitat de seres dos quais eu faço parte visto pelos olhos do transeunte que acorda cedo e repara num mero muro de pedra?

© Mário Rodrigues - 2009

terça-feira, 4 de maio de 2010

Gyachung Kang ao longe...



A montanha esculpiu-lhes cada detalhe dos rostos. Ela mesma, levara-lhes os progenitores há já vinte invernos, quando tinham apenas doze anos. Irmãs gémeas, ficaram sós e entregues a si mesmas desde então.
O nascer do Sol era o momento em que com as mãos unidas olhavam a Gyachung Kang, de onde a brisa gélida da aurora lhes trazia as recomendações maternais lá dos lados do Nepal. A força que as unia, apesar de invisível, era inquebrável. Ambas eram tudo o que as duas tinham.
A distância da localidade mais próxima era tanta que, de longe a longe, uma delas a fazia numa alternância que doía prantos e clamores à outra.
Numa das viagens, um dia, uma delas por lá encontrou um rapaz bom e lutador. Na dureza das atitudes os gestos se demonstraram, alguns defeitos sem importância e umas tantas virtudes se notaram. Enamorados se amaram e algo se modificou...
Chegada junto da irmã, um pouco atrasada, a pergunta surgiu num olhar de cumplicidade que desde logo tudo explicou. As viagens começaram a ser um pouco mais amiúde, bem como um pouco mais demoradas...
A irmã da irmã enamorada, numa das últimas duras viagens feitas, por lá encontrou um rapaz bom e lutador. Na dureza das atitudes os gestos se demonstraram, alguns defeitos sem importância e umas tantas virtudes se notaram. Enamorados se amaram e algo se modificou...
Chegada junto da irmã, um pouco atrasada, a pergunta surgiu num olhar de cumplicidade que desde logo tudo explicou...
No silêncio de um prolongado olhar decidiram se juntar e desse modo a viagem fazer. Chegadas à localidade, ambas procuram os seus amores para com eles regressarem. Nos locais habituais, ambas encontraram um único, rapaz bom e lutador...
No silêncio de um prolongado olhar, ambas repararam que a vida, mais uma vez as juntara. Sem ciúme nem rancor para as suas terras veio o rapaz bom e lutador.
A partilha da vida e do amor, com o passar dos tempos, nos corações das irmãs provocou dor. Dor silenciosa mas cortante que em menos de um instante farpas agudas entre ambas veio pôr. Os dias foram passando e a força que as unia foi reclamando atitudes e fervor.
Numa manhã ao nascer do Sol, momento em que com as mãos unidas olhavam a Gyachung Kangde onde a brisa gélida da aurora lhes trazia as recomendações maternais lá dos lados do Nepal, num silêncio de um prolongado olhar, um sussurro se ouviu:

"Assim será..."

Então, com ambas envoltas em dor, uma a mão da outra largou e a casa regressou...
A outra estática ali ficou olhando os raios do Sol nascerem. Lágrima não tinha. Antes um tremor no coração.
Um corpo por terra ficou...
Alguns instantes passados atrás de si os passos pressente. Para trás se vira e de frente para a irmã, num silêncio de um prolongado olhar, um sussurro se ouviu:

"...acabou..."

Na manhã seguinte, ambas unidas por uma força que apesar de invisível era inquebrável, a caminho de seu labor passaram pelo monte de pedras e neve onde jazia a vida breve do rapaz bom e lutador...


© Mário Rodrigues - 2010

quarta-feira, 31 de março de 2010

Eram outros tempos... II


A eficácia foi-lhe morte.
Fruto do ventre de uma mortal, que a sua vida abandonou numa cesariana derradeira, teve como pai Apolo, filho de Zeus o senhor do Olimpo.
Senhor de mil sabedorias, medicinas e ciências, a Deus foi chamado.
A agilidade e dedicação levaram a que, contrariando os poderes de Hades, das suas garras lhe arrancasse os mortos com uma só mão.
Apolo, apesar de senhor da luz e da verdade, de seu filho, não manteve a divindade. Punido pela devolução da vida a quem dela tinha sido privado, Zeus sem piedade mata Esculápio com um raio!

© Mário Rodrigues - 2010

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Porque teremos nós de sofrer?

Será pânico? Fobia? Será mesmo só medo? E de quê?

As mortes dos nossos queridos, os seus sofrimentos, as possibilidades de eles partirem... deixam-nos com o corpo prensado... com uma cavidade escancarada no tórax... com o cérebro fervilhante e um nó na garganta.

Observo numa ilha do Pacifico, umas fragatas, a pairarem sobre as andorinhas do mar, que de dorso negro, protegem as suas criar; as fragatas, em voos loucos atiram-se sobre as pobres, roubando-lhes os filhotes. Ali mesmo, muitos são engolidos à vista dos pais, outros são levados para o alto, onde acabam por ser objecto de disputa de outras fragatas...

Saberemos nós os sentimentos das andorinhas progenitoras, naquele momento de chacina? Sentiram elas alguma coisa? Se não sentem, porque protegem e guerreiam? E os filhos das fragatas, são eles os vilões? Seres que vivem da morte e com o sofrimento alheio?

Compreenderemos nós os verdadeiros sentidos das nossas vidas? As nossas missões? Saberemos nós a nossa dimensão e como se movimenta a cadeia interminável? Porque sofremos nós? Será o sofrimento, um elemento base e fundamental da existência da vida? Será que vivemos o sofrimento da maneira correcta? Existirá maneira correcta de o viver? Será o sofrimento simplesmente o mais eficaz dos professores? Tal como julgamos, o nosso apoio aos que sofrem, alivia os seus e os nossos sofrimentos?

Para já, apenas me ocorre enviar uma lágrima aos que neste momento têm de sofrer, tão-somente porque lhes é impossível fazer outra coisa.

...muitas outras questões se levantam em redor do sofrimento, que tal como a alegria e a felicidade, são fruto de transmissões eléctricas neurais e... e talvez mais alguma coisa...

© Mário Rodrigues - 2009

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O infinito e mais aquém…

No início era…
Depois, mas só depois; força, matéria e alquimia, em absoluto simultâneo…

© Mário Rodrigues - 2009

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