quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

E esta vida, que sentido tem esta vida?

Hoje, sem compreender exatamente porquê, acordei!

Acordei muito antes do despertador, que normalmente já costuma tocar depois de eu acordar. O dia ainda não tinha nascido. Olhei em redor e, com a pouca luz que existia no quarto, reparei na minha companheira de guerra, observando-a de um modo de que não me lembro de alguma vez ter feito, meramente biológico. Realmente, a vida é uma grande maravilha!

Dormia suave e silenciosamente. Um complexo bioquímico, organizado numa verdadeira prova de mestria inimitável de complexidade.

Levantei-me e fui até uma janela, que abri...

Um ar fresco e rico em oxigénio inundou-me os pulmões de assalto, de um modo que quase me provocou dor.

O silêncio da manhã e o espetáculo de ver um dia nascer são-me muito agradáveis. Mesmo muito. Uso-os muitas vezes como refúgio após dias menos fáceis. Interrogo-me acerca da sorte que tenho em assistir a um espetáculo que, apesar de se repetir diariamente, raramente reparo em como é belo — e tão raramente usufruo da energia inigualável que me proporciona. Apesar da minha existência ser completamente indiferente a ele, o nascer do dia.

Ao sair de casa, vi uma minúscula flor violeta de quatro pétalas. Era capaz de jurar que não existia ali, naquela pequena racha do muro de pedra... Aliás, nem tinha reparado bem que o muro era feito daquelas pedras grandes.

Aquele muro é um enorme habitat, um cosmos de vida e de seres de importância idêntica à minha.

Aquele muro é a casa de muitos seres...

Como será o muro que alberga o habitat dos seres dos quais eu faço parte, visto pelos olhos do transeunte que acorda cedo e repara num mero muro de pedra?


© Mário Rodrigues - 2020

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

O teatro eterno...


A vida em sociedade é uma árvore que tende, permanente e incessantemente, ao equilíbrio, procurando ter exactamente o mesmo número, massa e valor em ramos, pedúnculos, flores, aromas e folhas, tanto na parte aérea como na subterrânea. Qualquer alteração num dos lados gera uma resposta no outro.

No entanto, acima do solo, as condições são distintas das que existem abaixo, promovendo, assim, criações, perspectivas e respostas díspares, com fundamentos e resultados diferentes ou até antagónicos. Como complemento a esta miscigenação, há a proliferação de neoplasias fúngicas em ambos os lados do ambiente árvore — defeitos processuais que invadiram espaços que lhes não eram próprios. Numa demência idolatrada, manipulam povos inteiros com objectivos embusteiros, muito diferentes dos que verdadeiramente os movem.

O que lamento é a existência de espectadores deste teatro, que, conscientemente, se alheiam de todos os sofrimentos causados em ambos os lados. São eles que incentivam e promovem a nata dos obstinados e acéfalos psicopatas, marionetas que operam em ambos os lados do sistema, perpetuando o desequilíbrio para que este se torne eterno e continue a gerar poder e lucros — independentemente do lado: luz ou escuridão, ar ou sufoco, alimento ou fome, guerra ou paz...

Muitos deles manifestam-se publicamente pela paz, pela liberdade e pela tolerância...


© Mário Rodrigues - 2020

domingo, 13 de setembro de 2015

Estepes vivendo...

A estepe atravesso,
aos elementos exposto,
adversas condições,
sereno imbuindo vou...

Por terras de ninguém,
sonhando aguardo,
um desejado amor que nunca tive...

Moribunda esperança és,
a de que um dia...

A de que um dia silenciosa mudes...
E eu, eu que por isso esperaria!... 


© Mário Rodrigues - 2015

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

...como penas pontas de asa...

Algures numa estrada por onde passava, senti um som gordo no peito. Estalava como as palmas das mãos de meninas, esticando dolorosamente os dedos para trás, como penas nas pontas de uma asa.

Uns braços varriam a linha da estrada, como que indicando um hipotético caminho. Os caminhos, compostos de generosas quantidades de vazio, de nadas e de aridez... Podemos caminhar e até mesmo voltar para trás, com uma ilusória sensação de liberdade; mas podemos também cruzar a fronteira — para o desconhecido ou para um regaço embalado por déjà vu's

Timbres de pequenas canções, cantadas ao som de batidas em latas e ferros. Eu poderia salvar-me, claro que sim! Bastava, para isso, que quisesse.

Querer de um modo inequívoco, em que tudo o que compõe a decisão fosse claro e abarcasse toda a amplitude da palavra e do ato.

Mas qual das salvações desejo?

Na estrada, a maré está alta! As raízes que brotam do asfalto, quais ondas térmicas, desenham caminhos ladeados de trompetes cujas terminações ecoam em dós menores de oboés…

Mas este... Este é apenas mais um dos percursos possíveis na existência de um homem...

Caminhemos...


© Mário Rodrigues - 2013

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Quem existo efectivamente?... Terá importância?...



Nas noites em que as tardes não ficaram…

Nas vidas em que as mortes não visitam…
Nos dias em que as manhãs não desabrocharam…
Nas manhãs em que os despertares não explodiram!
Nos amores em que e desejo não matou…
Nas dores em que o ser não morreu!
Nos filhos em que a vida não nasceu…
Nas mortes em que a dúvida não nasceu…
Só aí…
Só aí se sente a ausência de um existir conexo e fortuito, uma vida de raiva e desejo; ora doce e serena, ora louca e, qual dente tubarão; cortante, numa essência conspirativa de existências perdidas e sinapses ofuscadas por embriaguezes neurotransmitidas numa confusão obscura sem certezas de quem efectivamente sou…
Quem serei?
Biologia?
Cada vez mais me acho apenas bicho!...

© Mário Rodrigues - 2013

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Debandada derradeira de um amor vital

Um amor verdadeiro...
Um amor impregnante...
Um amor estridentemente silencioso...

Cheguei às 6.20 h. Encontro-o solitariamente abalado no meio da multidão.
- Zé!
- Mário!
- Não te consigo dizer nada!
- Desde ontem, quando ela..., deixei de ouvir o quer que seja...

Notei-lhe uma existência entre a madeira e um esferovite, com as evidências vitais reduzidas aos sistemas voluntários. Muito pouco ali estava de homem. Absolutamente nada de conforto.

- Ontem, dizia-me ela à tarde:
    "Sinto-me cansada! Estas correrias matam-me!..."
- Nunca me contava as coisas, quando sabia que eu ia ficar chateado!... Agora aqui estão os meus restos. Os dela, ali... Nem forças tenho para estar chateado...

© Mário Rodrigues - 2013

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

...Enfim, este é o Deus que me convém!...

Isso?... Isso não é nada!... Aliás, tu nem sabes o que é!
Jamais serás iluminado pela luz plena! Jamais sentirás o perfume inebriante e penetrante que enche inteiramente a tua existência redundante. A do meu Deus!...

Havia vários, no entanto fiquei com este, porque este é o que mais me convêm!

...Este:

Mata os ímpios
Destrói os infames
Castiga os que me incomodam
Devolve-me as riquezas
Abunda-me com deleites
Castiga-te no rancor do remorso
Apascenta a minha ganância
Justifica os meus crimes
Fundamenta a minha crueldade
Justifica a minha estupidez
Castra-te a vida
Alegra-se na minha conspiração
Auxilia na ambição e mais, muito mais...

Se sofro é ele
Se tenho fome é ele
Se meu filho morre é ele
Se corro é ele
Se durmo é ele
Se vilmente me iludo é ele, mas não só...

Quando mato é por ele
Quando usurpo é por ele
Quando castro é por ele
Quando privo é por ele
Quando minto é por ele
Quando desrespeito é por ele
Quando intransijo é por ele
Quando a verdade altero é por ele
Quando da ingenuidade me aproveito é por ele
Quando da boa-fé abuso é por ele... E é assim porque está escrito,

Nas palavras que escrevi
Nas verdades que encobri
Nas mentiras que defendi
Nas realidades que alterei
Nos monstros que pari
Nas jugulares que cortei
Nos corações que feri
Nos inocentes que queimei
Nos movimentos que bani
Nos obedientes que mal tratei
Nas virgens que violei
Nos homens que matei...

...Enfim, este é o Deus que me convém!...

© Mário Rodrigues - 2010

sábado, 22 de dezembro de 2012

The Day After...

Felizmente não o foi e a ser não o deveríamos saber.
No entanto, será uma óptima desculpa para recomeçarmos. Dada a época festiva em que nos encontramos, até isso poderá ser um pequeno alavancamento para, não mais uma vez, negarmo-nos o direito, o dever e o prazer de renascermos. Podemos fazer renascer um olhar mais meigo, um sorriso mais aberto, um "Bom-dia" mais verdadeiro; poderemos mesmo, não obstante as agruras que nos marcam, fortalecer os olhares "horizontais" em detrimento dos "superiores" e reequacionarmos as nossas definições de felicidade, de satisfação e de realização.
Se a nossa vida está uma "merda", a sua manutenção é-nos prejudicial, penosa, frustrante e, eventualmente, tivesse ela terminado mesmo com o fim do mundo. Teria a profecia dos perdidos, nos bafejado, os incapazes, com o conforto de um fim predestinado por terceiros e em que nada teríamos culpa alguma, tornando-nos nas vítimas prefeitas.
Se a nossa vida está uma "merda", e a sua manutenção é-nos prejudicial, penosa e frustrante, possivelmente ser-nos-á benéfico, refrescante e incentivador tomarmos as rédeas dela mesma, decidirmos decidir e escolher de entre todas a agruras, as que nos mostraram caminhos, lições e o quanto estivemos errados tantas vezes.
Façamos de hoje um primeiro dia do resto das nossas vidas; um dia seguinte ao da catástrofe; um dia de bonança pós tempestade; esforcemo-nos sem qualquer esforço para recolhermos os "cacos", nossos e os dos nossos vizinhos, colocá-los no local nas vivências vividas, limpar o que sobra e reconstruir.
Não percamos a oportunidade de sermos uma peça de um puzzle melhor e mais bonito, não deixemos que se perca mais este mundo num fim mesquinho e desperdiçado. Se eventualmente alguma coisa não tiver corrido como bem desejávamos, daqui a vinte e quatro horas começará um novo mundo como tem acontecido nos últimos cento e cinquenta milhões de anos.
 
© Mário Rodrigues - 2012

quinta-feira, 7 de junho de 2012

DEUS

"A religião do futuro será cósmica e transcenderá um Deus pessoal, evitando os dogmas e a teologia."
Albert Einstein

domingo, 15 de janeiro de 2012

Psiquiatria...


Nas sociedades pré-históricas, primitivas e nos inícios das civilizações, as doenças mentais eram de origem divina ou mágica. Os terapeutas eram os feiticeiros e os sacerdotes. Os tratamentos compreendiam terapias físicas.

Com os gregos e as escolas de orientação filosófica e psicológica, somática e mistas, as coisas modificaram-se um pouco. Hipócrates em 450 a.C.-355 a.C. desenvolve a teoria dos humores e considera a doença mental como uma doença somática ou seja do corpo. As terapias utilizadas eram os banhos, as dietas, purgantes, vomitórios (produtos que induziam o vómito) e sangrias. A teoria doas humores baseava-se nos quatro humores existentes no organismo pela própria natureza do homem: sangue, fleuma, bílis amarela e atrabílis, representando terra, ar, fogo e água tendo como consequência a demência, o furor maníaco, a melancolia e a cólera.

Por que razão venho eu agora com isto?

Porque vai voltar a ser preciso saber estas coisas!...

© Mário Rodrigues - 2012

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O oscar e a tartaruga

Ok!...
Finalmente encontrei um parceiro à altura para o meu confessor!
O meu amigo Oscar (Astronotus ocellatus), conhecido por “o peixe”, incomodado com uns certos habitantes do seu aquário, foi lhes demonstrando que a democracia é muito bonita desde que seja ele a mandar! Certo?
Ao que parece, este seu temperamento não foi sendo muito bem compreendido pelos “amigos”, a tal ponto que se viu obrigado a... digamos subtraí-los... ao espaço envolvente. Assim, e como resultado dessa sua politica, ficou sozinho no aquário.
Os dois Plecostomus”, com a sua forte caixa óssea e escamas agressivas, ainda pensavam que venceriam a guerra... Não! Um após o outro, foram também eles, engolidos e digeridos ao longo de quase duas semanas, tal como o Corydora!
Ao fim de dois meses de solidão, o meu amigo Oscar encontra-se melancólico e imóvel flutuando só, no imenso aquário. Desesperado de tanta calmia, abandona as suas cores vivas apresentando-se desmaiado e adormecido a quem o visita.
Hoje, olhando para ele, tive uma ideia!
Uma tartaruga!
Uma tartaruga tem as características adequadas a um ditador! Jovem, irrequieta, comilona e o mais importante, tem uma casca dura e dez vezes maior que a boca do meu amigo.
Ele agora, o Oscar, é vê-lo em correrias no encalço a nova amiga. As suas cores vivas voltaram e a sua vida deixou de ser uma tristeza.
Poderíamos tirar várias reflexões disto! E não estou a falar só de biologia!
Há aqui lições sociais e politicas a tirar ou é impressão minha?
© Mário Rodrigues - 2011

sábado, 7 de maio de 2011

Nós não conhecemos nem dominamos os nossos cérebros!

Estou moído! Sinto-me nevrálgico e hibernante. Ontem, um dia bastante agitado, deixou sequelas para o futuro. Estou moído!
Uma tentativa, quase inebriante, que vamos desenvolvendo para sermos cada vez mais pró éticos, uma preocupação com os discernimentos de partículas "microscópicas" de ética e justo bem nas nossas existências, tem-se vindo a demonstrar, não só contranatura, como, em si mesmo, conspirativo numa dinâmica dificultadora de um saudável processo de pensamento.
Tenho reparado e sentido a acção de uma preocupação constante, permanente e, admito-o, por vezes quase patológica, em me "encaixar" nuns padrões social, cultural e antropologicamente, ditos éticos. Isso em si aparenta-se à primeira vista, algo que todos deveríamos fazer, num verdadeiro esforço de harmonia e bem-estar universal.
Não! Não só não tenho essa certeza, como vou duvidando da sua eficácia e vou sentido o seu efeito nefasto na saúde mental dos indivíduos e das sociedades.
A quantidade de casos de ansiedade patológica e depressões pré e pós traumáticas que se vão espalhando como a sombra de uma negra nuvem pelas paisagens de belos dias de Sol, vai aumentando com o crescimento dos efeitos nefastos de processo de justificação ética que vamos tentando assimilar e ensinar aos mais pequenos desde tenras idades.
De modo algum poderei afirmar que abandonada seja a ética e a tentativa da justiça!
Apenas vou achando que estamos a ir depressa demais, e isto pode parecer uma barbaridade, com este processo. Antropologicamente, não estamos preparados para esta aceleração na aplicação de todos os princípios éticos que inventamos, sendo que alguns são mesmo muito pouco éticos, claro está, vistos através das minhas "lentes" éticas. Não posso deixar de pensar no que têm sido estes 50 milhões de anos de evolução natural que produziram o homem de hoje. Não obstante, entendemos que estamos, intrinsecamente, quase totalmente errados!
Os processos contidos nestes milhões de anos de evolução sócio biológica foram amplamente constituídos por crueldades, injustiças, oportunismos e traições integrantes e derradeiras no desenrolar desses mesmos processos e no seu êxito de hoje.
O nível a que temos elevado a complexidade do pensamento, com tentativas de dissertação acerca de pensamentos, já em si, de elevado nível filosófico e complexidade de escalonamento psíquico, leva-nos a ponderar situações, circunstâncias e hipotéticas realidades que nos transportam para níveis que estamos muito longe de controlar e compreender. Sendo que, inevitavelmente, ficamos reféns deles mesmos, numa espiral de surrealismo virtual em cadeia. Nós não conhecemos nem dominamos os nossos cérebros!
Tenho ponderado a possibilidade de ir mantendo, até provas contrárias, a justiça e a ética, na gaveta entreaberta das inexistências, na companhia da liberdade, do acaso e da verdade...



© Mário Rodrigues - 2011

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