terça-feira, 4 de maio de 2010
Gyachung Kang ao longe...
A montanha esculpiu-lhes cada detalhe dos rostos. Ela mesma, levara-lhes os progenitores há já vinte invernos, quando tinham apenas doze anos. Irmãs gémeas, ficaram sós e entregues a si mesmas desde então.
O nascer do Sol era o momento em que com as mãos unidas olhavam a Gyachung Kang, de onde a brisa gélida da aurora lhes trazia as recomendações maternais lá dos lados do Nepal. A força que as unia, apesar de invisível, era inquebrável. Ambas eram tudo o que as duas tinham.
A distância da localidade mais próxima era tanta que, de longe a longe, uma delas a fazia numa alternância que doía prantos e clamores à outra.
Numa das viagens, um dia, uma delas por lá encontrou um rapaz bom e lutador. Na dureza das atitudes os gestos se demonstraram, alguns defeitos sem importância e umas tantas virtudes se notaram. Enamorados se amaram e algo se modificou...
Chegada junto da irmã, um pouco atrasada, a pergunta surgiu num olhar de cumplicidade que desde logo tudo explicou. As viagens começaram a ser um pouco mais amiúde, bem como um pouco mais demoradas...
A irmã da irmã enamorada, numa das últimas duras viagens feitas, por lá encontrou um rapaz bom e lutador. Na dureza das atitudes os gestos se demonstraram, alguns defeitos sem importância e umas tantas virtudes se notaram. Enamorados se amaram e algo se modificou...
Chegada junto da irmã, um pouco atrasada, a pergunta surgiu num olhar de cumplicidade que desde logo tudo explicou...
No silêncio de um prolongado olhar decidiram se juntar e desse modo a viagem fazer. Chegadas à localidade, ambas procuram os seus amores para com eles regressarem. Nos locais habituais, ambas encontraram um único, rapaz bom e lutador...
No silêncio de um prolongado olhar, ambas repararam que a vida, mais uma vez as juntara. Sem ciúme nem rancor para as suas terras veio o rapaz bom e lutador.
A partilha da vida e do amor, com o passar dos tempos, nos corações das irmãs provocou dor. Dor silenciosa mas cortante que em menos de um instante farpas agudas entre ambas veio pôr. Os dias foram passando e a força que as unia foi reclamando atitudes e fervor.
Numa manhã ao nascer do Sol, momento em que com as mãos unidas olhavam a Gyachung Kangde onde a brisa gélida da aurora lhes trazia as recomendações maternais lá dos lados do Nepal, num silêncio de um prolongado olhar, um sussurro se ouviu:
"Assim será..."
Então, com ambas envoltas em dor, uma a mão da outra largou e a casa regressou...
A outra estática ali ficou olhando os raios do Sol nascerem. Lágrima não tinha. Antes um tremor no coração.
Um corpo por terra ficou...
Alguns instantes passados atrás de si os passos pressente. Para trás se vira e de frente para a irmã, num silêncio de um prolongado olhar, um sussurro se ouviu:
"...acabou..."
Na manhã seguinte, ambas unidas por uma força que apesar de invisível era inquebrável, a caminho de seu labor passaram pelo monte de pedras e neve onde jazia a vida breve do rapaz bom e lutador...
© Mário Rodrigues - 2010
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Curtas,
O infinito e mais aquém…,
Talvez
6 comentários:
…Escrevo, principalmente, por falta de espaço dentro de mim para tantas emoções e tão grandes, para mim. Nos comentários, fico com a sensação de que os pingos de emoção que transbordo, caiem em "terras fecundas" e coadjuvam o nascimento de novas emoções, produzem opiniões, contra pontos e desafios… E isso, isso é “geleia real”, para as nossas vidas…
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Uma história bem bonita! Mas, eu cá dava-lhe outro final, ou seja, não matava o rapaz, que diabo! Então se as irmãs se davam tão bem e parece que dividiam tudo, porque não haveriam de dividir o resto? :D
ResponderEliminarOlá Milu
ResponderEliminarMuito obrigado por teres lido.
Elas tentaram:
"A partilha da vida e do amor, com o passar dos tempos, nos corações das irmãs provocou dor. Dor silenciosa mas cortante que em menos de um instante farpas agudas entre ambas veio pôr."
...mas, elas não conseguiram que ele entrasse nos olhares longos e silenciosos que constituíam os seus diálogos...
Um beijo, Milu
Por mero acaso não as conheci, é que o Nepal não é senão ali ao lado, e o tempo também. Mas o amor é universal. Quando me dizem que se pode amar diferente em simultâneo fico expectante, o meu multitasking é muito rudimentar, antes prefiro ver o amor como uma manta que estendemos ou encolhemos à medida do que pretendemos abarcar. As escolhas acontecem pelas circunstâncias e os retalhos na manta são sempre muito dolorosos, por vezes consegue-se voltar a cosê-la, noutras não e fica para ali em farrapos.
ResponderEliminarAbraço!
Com isso dizes-me que quem ama sofre, quem sofre ama, quem não ama sofre e gente sem sofrimentos não existe... O que faz do sofrimento, uma das componentes da vida, sendo que para vivermos temos de arriscar e sofrer ou então não arriscar e sofrer...
ResponderEliminar;-{|
Epá!!! Não fui eu quem inferiu isso! Foste tu. E está mesmo muito bem inferido, apesar de parecer que explicas o inexplicável. Esse raciocínio confirma que a vida não nos é a essência mas também que o Inferno só existe nesta mera passagem.
ResponderEliminarEstás a ver!...
ResponderEliminarGosto de ti por seres assim!...
Gandas malucos. :-)))