segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Porque teremos nós de sofrer?

Será pânico? Fobia? Será mesmo só medo? E de quê?

As mortes dos nossos queridos, os seus sofrimentos, as possibilidades de eles partirem... deixam-nos com o corpo prensado... com uma cavidade escancarada no tórax... com o cérebro fervilhante e um nó na garganta.

Observo numa ilha do Pacifico, umas fragatas, a pairarem sobre as andorinhas do mar, que de dorso negro, protegem as suas criar; as fragatas, em voos loucos atiram-se sobre as pobres, roubando-lhes os filhotes. Ali mesmo, muitos são engolidos à vista dos pais, outros são levados para o alto, onde acabam por ser objecto de disputa de outras fragatas...

Saberemos nós os sentimentos das andorinhas progenitoras, naquele momento de chacina? Sentiram elas alguma coisa? Se não sentem, porque protegem e guerreiam? E os filhos das fragatas, são eles os vilões? Seres que vivem da morte e com o sofrimento alheio?

Compreenderemos nós os verdadeiros sentidos das nossas vidas? As nossas missões? Saberemos nós a nossa dimensão e como se movimenta a cadeia interminável? Porque sofremos nós? Será o sofrimento, um elemento base e fundamental da existência da vida? Será que vivemos o sofrimento da maneira correcta? Existirá maneira correcta de o viver? Será o sofrimento simplesmente o mais eficaz dos professores? Tal como julgamos, o nosso apoio aos que sofrem, alivia os seus e os nossos sofrimentos?

Para já, apenas me ocorre enviar uma lágrima aos que neste momento têm de sofrer, tão-somente porque lhes é impossível fazer outra coisa.

...muitas outras questões se levantam em redor do sofrimento, que tal como a alegria e a felicidade, são fruto de transmissões eléctricas neurais e... e talvez mais alguma coisa...

© Mário Rodrigues - 2009

12 comentários:

  1. Talvez exista o sofrimento para que possamos dar mais valor à felicidade e à alegria. Seria dispensável? Era bom acreditar nisso. Mas por qualquer razão que nos escapa, a verdade é que há na nossa vida momentos que acabam por ser vividos em dor. É triste, mas diz-me a experiência que assim é. No fundo temos é que encontrar forças para sair desse "tumor" doloroso.
    beijo

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  2. De onde é que eu reconheço isto? ;)

    Num dos teus posts anteriores, onde falas num doente num hospital, não quis comentar por me doer demasiado. Pelo meu post de ontem, terás percebido o porquê. Acho que o percebeste, porque foi esta a resposta que lá deixaste esta manhã.

    Beijinho

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  3. Exacto, pepita. Perdoa-me o eventual “plágio” de ideias, mas senti-te a dor... e chorei ao levantar...

    Um beijo

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  4. «Divina Comédia

    Erguendo os braços para o céu distante
    E apostrofando os deuses invisíveis,
    Os homens clamam: — «Deuses impassíveis,
    A quem serve o destino triunfante,

    Porque é que nos criastes?! Incessante
    Corre o tempo e só gera, inestinguíveis,
    Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
    N'um turbilhão cruel e delirante...

    Pois não era melhor na paz clemente
    Do nada e do que ainda não existe,
    Ter ficado a dormir eternamente?

    Porque é que para a dor nos evocastes?»
    Mas os deuses, com voz inda mais triste,
    Dizem: — «Homens! por que é que nos criastes?»

    Antero de Quental, in "Sonetos"

    Mário, tu sofres porque acreditas. Os pássaros sofrerão se acreditarem. Acreditar faz sofrer, mas dá sentido à vida.

    Abraço, meu amigo!

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  5. Olá caríssimo,

    Em primeiro lugar, a minha vénia ao nosso Antero, que belos textos nos deixou!

    Depois, a preferência pela inexistência, já não é nova, e já lhe conhecemos as vantagens!
    “Homens! por que é que nos criastes?”, Explica que Deus não é o que se pensa (está quase...uma aventura...amigo Cybe) ;-)

    Cybe, tu sofres porque acreditas e porque dúvidas. (os pássaros agora são adereço). Acreditar faz sofrer e trás felicidade, mas dá sentido à vida, muitas vezes iludindo-nos.

    És aquela máquina... abraço.

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  6. Por vezes penso nisto, no sofrimento humano, embora os animais também sofram, pelo menos é o que aparenta, lembro-me da minha mãe fazer desaparecer uma ninhada inteira de gatos recém-nascidos. Nos dias seguintes, era ver a mãe gata a miar desesperada, por tudo quanto era canto. Procurava os filhos. Talvez fosse apenas o instinto, mas lá que sofria,sofria. E, o que mais me intriga é o facto de conhecer casos de pessoas ou famílias a quem o infortúnio parece perseguir. São acometidos por graves doenças, sofrem a morte de alguns dos entes mais queridos, enfim, um verdadeiro rol de desgraças. Contudo, outras pessoas ou famílias existem em que a vida parece correr-lhes sobre rodas. Tudo lhes corre bem, o paraíso na Terra! Não tenho a certeza se aprendemos grandes coisas com o sofrimento. Há alguns vivi uma situação muito sofrida, julguei até que iria endoidecer, afectou-me profundamente, contudo, quando um dia, mais tarde, resolvi registar esses factos, para memória futura, foi com espanto que conclui que nem já me lembrava de determinados pormenores. Li algures que a nossa memória é selectiva, que mais facilmente guarda as boas recordações do que as más, afinal, não encontro motivos para desta premissa duvidar, porque me parece ser uma lei, que melhor faculta a sobrevivência da espécie humana. Lembro-me bem melhor das vivências que me foram agradáveis. E mais ainda: Sempre que agi influenciada por cuidados, que uma determinada experiência negativa me inspirou, não me dei bem. Terminei por concluir que há acontecimentos da nossa vida que devem ser esquecidos, colocar-lhes um grande pedregulho em cima e seguir em frente. Todavia cada caso é um caso, resta-nos saber intuir o que devemos aproveitar nos descombros dos acontecimentos infelizes da nossa vida.
    Um beijinho.

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  7. olá, não sei se o conheço, talvez o seu retrato, nesta posição, com esta luz, ou por qualquer outra razão da imagem, esconda memórias ou contextos... mas enfim, com o Tobom conheci uma óptima forma de tratar as palavras. obrigado pela partilha.
    dalila gonçalves

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  8. Olá Dalila Gonçalves

    Também não sei se a conheço pessoalmente, penso que talvez não, no entanto o trabalho vou observando, e eu, ando pelo mundo e é natural que já nos tenhamos vistos ou cruzado... quem sabe!
    Fico bastante contente por ter gostado do texto! Volte sempre, que para isso tenha tempo. Será um prazer recebê-la.

    Mário Rodrigues

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  9. Porque sofremos, Mário?

    Porque nem tudo são escolhas e porque as que o são... Têm consequências!

    Se até a tua dor pode ser a minha...

    Um grande abraço!

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  10. Não sei como sofrerá a andorinha, mas acredito que sofre, daí tentar proteger. Penso, no entanto, que não deve ter a capacidade que nós temos de guardar esse sofrimento, de o prolongar no tempo, de o recordar.
    Porque sofremos? Boa pergunta! Certamente não é por escolhermos sofrer. Simplesmente acontece. Temos enraizados em nós demasiados sentimentos. Se perdemos alguém que amamos, se vemos alguém que amamos padecer de uma doença, como podemos não sofrer por ele? O sofrimento é inevitável. Faz parte da vida. Costuma-se dizer que nos faz crescer. Eu não me importava de ficar sempre pequenina...

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  11. Pois é Nirvana, quem nos dera continuarmos pequeninos... No entanto, os pequeninos também sofrem, e muito... Quantas vezes sem compreenderem os seus sofrimentos, tal como nós, os mais maiorezinhos... De rompante, lembro-me do verdadeiro culpado! A memória! Sim essa é a verdadeira culpada dos sofrimentos! Sem ela tudo seria mais fácil... Ou talvez não...

    Um beijinho

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  12. A dor é inevitável, porém o sofrimento é opcional!...

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…Escrevo, principalmente, por falta de espaço dentro de mim para tantas emoções e tão grandes, para mim. Nos comentários, fico com a sensação de que os pingos de emoção que transbordo, caiem em "terras fecundas" e coadjuvam o nascimento de novas emoções, produzem opiniões, contra pontos e desafios… E isso, isso é “geleia real”, para as nossas vidas…

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