segunda-feira, 28 de junho de 2010
A revolta de um Suatrub
Um dia, sem que muita importância tivesse o onde e o como, um Suatrub revoltou-se. Acordou quase revoltado e logo em seguida ficou uniforme e totalmente revoltado!
A revolta devia-se principalmente à fúria de não saber quem era! Não conseguia definir-se e caracterizar-se de uma forma sincera e que em simultâneo também fosse correcta e sua. Que fosse exclusiva, própria!
- Quem sou realmente?
Não conseguia responder sem hesitações e nem mesmo com elas...
Sabia de quem era filho, sabia de quem era pai, sabia de quem era cônjuge, (de uma Acetum belíssima que tinha um feitio péssimo e uma mãe...desprezível), sabia a que nome respondia quando chamado, sabia onde e o que fazia e sabia mais uma série de coisas, mas que na melhor das hipóteses lhe eram periféricas! Gravitavam em redor dele como se fossem electrões em camadas sucessivas em torno do núcleo que era ele. No entanto, nada disso era ele!
A indignação disparou, quando estando a pensar nisto, chega à conclusão que nem nos desejos e nos actos ele se conseguia identificar e rever. Respeitava regras, seguia princípios, enveredava por condutas, apoiava causas, concordava e discordava tendo em conta causas e efeitos terceiros, fazia a vontade, fazendo-a ou contrariando-a, a uma enorme quantidade de Suatrubs e Acetum, e nesta sopa gigantesca de vontades transversais, com benefícios e prejuízos para muitos e outros tantos, ele...não era nada de concreto!
O que serei realmente eu - perguntava-se a si mesmo - se o melhor que consigo é ter uma ideia de um espaço pseudo virtual onde poderá haver hipóteses de eu por ali andar!... Mas isso, por si, não me diz o que sou!... Na realidade, nem onde estou me diz!...
Esperem!... Esperem que estou a ter uma ideia!...
Aquilo que mais sinto ser é...zinco, cálcio, sódio, hidrogénio, estrôncio, lítio, ródio, oxigénio, bromo...
Finalmente!... Sinto-me um pouco mais calmo! Estou a começar a vislumbrar quem sou!...
RAIOS!!!
Tudo o que por aqui há é o mesmo que eu!!!
Se não sou nada em particular, nem mesmo o que penso, porque o que penso não sou eu mas apenas pensamentos!...
...
Só posso ser, na realidade, aquilo que não sou!
© Mário Rodrigues - 2010
3 comentários:
…Escrevo, principalmente, por falta de espaço dentro de mim para tantas emoções e tão grandes, para mim. Nos comentários, fico com a sensação de que os pingos de emoção que transbordo, caiem em "terras fecundas" e coadjuvam o nascimento de novas emoções, produzem opiniões, contra pontos e desafios… E isso, isso é “geleia real”, para as nossas vidas…
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Claro que nós humanos nada temos de semelhante com estas criaturas! Todos cheios das nossas certezas acerca de quem somos e do que cá fazemos, sempre inquestionáveis na nossa individualidade, estranhos ao meio e principalmente aos outros. Que diferentes somos dessas tuas figuras de ficção! Ao ponto de se terem já criado tantas correntes filosóficas pelo asco que essas constatações nos trariam.
ResponderEliminarAbraço
"...Ao ponto de se terem já criado tantas correntes filosóficas..." !!!
ResponderEliminarNão! Ter-se-iam criado! Se no nosso íntimo tais primordiais questões existissem...
Um abraço
Exacto Mário, deixei-me levar pela embalagem e troquei os verbos todos, é o entrosamento que as tuas palavras transmitem.
ResponderEliminarUm abraço