Era cedo, bastante cedo. Geralmente acordo muito cedo, o que, quando por lá estou, me possibilita um prazer que tenho dificuldade em descrever.
Sente-se uma frescura de fim de madrugada, o sol, ainda se passeia pelo leste, e dele vislumbro uma nuvem difusa de claridade que traz com ela a promessa dos primeiros raios...
O silêncio do vale é guarnecido com o cantar do ribeiro. Os insectos, parecem ainda não existir. Os pássaros, esses, poucos dão o ar da sua graça!
Os primeiros raios, ao surgirem no cume, trazem despertares aos animais. Sentem-se acordar.
Havia já meia hora, que estava sentado num "toco" de uma oliveira velha, que cortei há algum tempo. É um local privilegiado. Naquele local, sentado com as pernas penduradas, abandono-me. Quando me lá sento, é para lá ficar... Aquele local não pode ser profanado. O vale, escancara-se numa escarpa quase abrupta de uns cem metros a meus pés. De oriente, chega o sol, preguiçoso!
Os primeiros raios, ao surgirem no cume, trazem consigo o início do espectáculo. Os actores já lá estavam; à espera!
Num perfeito acto de natalidade, a montanha deixa que nasça das suas entranhas um vapor matinal que com a chegada dos primeiros raios de sol, e com as correntes térmicas ascendentes por eles provocadas, caminham pela encosta acima como se fossem enormes lençóis alvos... Chegados ao cume, encontram os outros, os de sul e os de oeste, e juntos ascendem nos céus, na qualidade de enormes e lindas nuvens brancas.
Por estas horas, já os melros se divertem nos seus saltos e assobios extraordinários. O pica-pau, lindo no seu negro e escarlate, esconde-se. Esconde-se sempre. Levei algum tempo até ser contemplado com a sua imagem. Soberba! Os esquilos, dormem.
Eu, sinto-me como de fosse uma pedra daquela montanha. Assim como estou, encaixo na perfeição naquele quadro.
A vida do ser humano, pode ser muito simplesmente bela e justificada...
© Mário Rodrigues - 2009
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
Toco de oliveira velha...
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Cartas aos amigos,
Hinos de felicidade
6 comentários:
…Escrevo, principalmente, por falta de espaço dentro de mim para tantas emoções e tão grandes, para mim. Nos comentários, fico com a sensação de que os pingos de emoção que transbordo, caiem em "terras fecundas" e coadjuvam o nascimento de novas emoções, produzem opiniões, contra pontos e desafios… E isso, isso é “geleia real”, para as nossas vidas…
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Ao ler isto, a palavra que me ocupa o pensamento é Paz. Impossível não a sentir!
ResponderEliminarBeijinhos
É como dizes. De quando em vez, vou lá. Chego a ficar ali, sentado, uma ou duas horas. Ali, ponho muita vez a conversa em dia comigo e com a alquimia do universo...
ResponderEliminarBeijinhos
Desconhecia completamente que há pica-paus e esquilos em terras lusas. De facto o teu refúgio tem maravilhas singulares. A forma como o referes é cativante.
ResponderEliminarOh meu querido amigo Cybe!
ResponderEliminarPica-paus, esquilos e muitas outras maravilhas da fauna e da botânica de nosso "rectângulo". O local de que falo, fica encravado numa enorme sequência de penhascos perto das terras do Luso, Matas do Buçaco e Pampilhosa da Serra. Felizmente, e se tiver muito cuidado, respeito e suavidade, posso ser premiado com cenas como passeios matinais de famílias de ouriços-cacheiros, mães javali a revolverem tocos de árvores velhas com os seus porquinhos, procurando formigas e bolbos, esquilos dos vermelhos e também uns negros e bege, ambos bastante grandes, fetos mais altos que eu e com um tronco da grossura da minha perna... Muitas, mesmo muitas maravilhas... Deverias levar a tua companheira a uns recantos destes... Dou-te três sugestões, se me permites; Mata da Margaraça e Fraga da Pena, Folques-Benedita e Piodão-Colmeal.
Abraço
Obrigado pelas dicas, vou ficar com esses locais em mente. É pena que as viagens sejam sempre muito curtas e que nos centremos sempre nas megalópodes. Sou naturalmente curioso em relação à fauna ibérica. Os ouriços e javalis também há cá na terra (já vão sendo poucos); mas esquilos e pica-paus estou quase certo que não temos. Vislumbram-se aves de rapina diversas, aves aquáticas no litoral, cheguei a ver corvos marinhos, e em certas épocas há flamingos também - aposto que destes não tens - e claro os camaleões, que aí também não há. A riqueza natural do Norte e Centro são no entanto incomparáveis com o Sul do território... Aqui também já não se vêem lobos nem herbívoros de porte em estado selvagem (não gosto de lhes chamar "caça grossa", para mim nunca seriam caça). Adicionei ao "Outra" um link para o "Fauna Ibérica", para me recordar do que ando a perder.
ResponderEliminarPodes querer. Em relação aos flamingos, já os tenho o ano inteiro aqui no estuário do Tejo, nos sapais do Samoco. Camaleões ainda não, mas! Do modo que vão as coisas... Quanto lobos, ainda os ouço lá em cima no Gerês. Os herbívoros vi-os, mas tive de ir procura-los lá para Foz Côa e no Douro Internacional.
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