PASTELARIA
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra
(Um poema de Cesariny)
quinta-feira, 14 de maio de 2009
2 comentários:
…Escrevo, principalmente, por falta de espaço dentro de mim para tantas emoções e tão grandes, para mim. Nos comentários, fico com a sensação de que os pingos de emoção que transbordo, caiem em "terras fecundas" e coadjuvam o nascimento de novas emoções, produzem opiniões, contra pontos e desafios… E isso, isso é “geleia real”, para as nossas vidas…
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Ola´, Ma´rio,
ResponderEliminarGosto muito do Mario de Cesariny, uma vez ele promoveu um encontro "informal", uma "conversa" e eu fiz-lhe uma pergunta... ele respondeu-me dizendo-me que n~~ao sabia e pedindo-me que eu o esclarecesse! Eu fiquei muito embaraçado, pois nao tinha ido ali gozar com um dos meus herois e respondi-lhe que eu n~~ao sabia... os outros participantes seguindo em frente la me desenrascaram.
"Muito alta,
muito branca,
muito educada,
a estatua toxica avança."
do que dele li, isto ´´e o que prefiro. Infelizmente cito de memoria (tenho o teclado avariado para acentos) e sei que o poema era muito maior e n~~ao me lembro da disposiçao dos versos.
Um abraço,
Jorge
Olá Jorge,
ResponderEliminarTambém gosto bastante, principalmente da fusão entre a "escarpa e a planície" que faz com palavras de veludo. Infelizmente, não consigo ser útil em relação ao poema que tentas identificar, visto que o não conheço.
Aproveito para deixar um dos que mais gosto.
O Navio De Espelhos
O Navio De Espelhos
O navio de espelhos
não navega cavalga
Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele
Os armadores não amam
a sua rota clara
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga
O seu porão traz nada
nada leva à partida
Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta
(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)
Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto
A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)
E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escuta o mar do fundo
Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo
Mário Cesariny
Abraço