Se nos processos de
aprendizagem, formação da personalidade e estruturamento de prioridades no
desenvolvimento do individuo e do seu carácter, o conhecimento empírico e
holístico tem um peso derradeiro, no ambiente "escola", tais modos de
adquirir saberes, não são tão usados ou correntemente utilizados sendo
preferido um método de administração de conhecimentos mais tutorial.
A incomensurabilidade
simultânea de simplicidade e complexidade do cérebro, fá-lo ser, provavelmente,
o único órgão capaz de desenvolver um estudo aprofundado de si próprio, sendo
que a simplicidade lógica e quase "binaria" dos processos de
estímulo/resposta neurológicos contrasta com a variedade de respostas possíveis
após o decorrer desse mesmo processo. O conhecimento do funcionamento do
cérebro é fundamental para a melhor adaptação dos métodos de ensino, para que
desse modo se agilize a aprendizagem.
Proporcionarmo-nos
experiências frequentes de consciencialização da estrutura física e funcional
do cérebro deverá ser um dos primeiros passos num longo caminho de o bem
utilizar, promovendo através destas um melhor entendimento do que nos rodeia e
de como poderemos transmitir eficazmente esse conhecimento a outros.
Tratando-se de um órgão
essencialmente funcional, a complexidade, diversidade e o trabalho envolvido
nos processos, são decisivos para um amplo crescimento e desenvolvimento do
mesmo, não obstante o dimorfismo sexual humano, condiciona o desenvolvimento
cognitivo.
A adaptabilidade
plástica do cérebro, estrutural e funcional ao longo do decorrer da vida com o
objetivo de acompanhar as exigências e funções da adaptação a ambientes aliada
á ferramenta de excelência, a linguagem em todas as suas vertentes, permitem o
acesso necessário à troca de aprendizagens e conhecimentos. Esses, por sua vez,
fazendo uso da ferramenta de desencriptação da mensagem que lhe transmitimos
dominam a capacidade de "desencriptar" a mensagem, factor determinante
para a quantidade de informação entendida, condicionando assim a eficácia da
mesma.
É imprescindível a
utilização de léxicos comuns a ambos os agentes. Esta ideia poderá levantar
questões relacionadas, nomeadamente de quem deve fazer o quê?
Devem os educadores
utilizar léxicos menos ricos ou até mesmo pobres para fazerem chegar a
mensagem?
Deveremos todos nós,
promover, habilitar ou reabilitar o nosso vocabulário e dinâmica de transmissão
de sensações?
Num verdadeiro
exercício de imaginação, suponho-me fisicamente em uma plateia em discussão,
constituída por ilustríssimos conhecedores de, vamos supor, formas de vida
existentes em Marte. Sou submetido a seis horas de débito transversal de
informações de valor indiscutível, provenientes de estudos aprofundados e dados
retirados de experiencias inquestionáveis. O léxico utilizado pelos meus
colegas de plateia é substancialmente diferente do meu. Eles estão a utilizar
um código de encriptação com diferenças várias perante o meu, provocando assim,
a existência de lacunas nos conteúdos da informação e a consequente deformação
da mensagem por mim recepcionada. Terminada a discussão, sou submetido a uma
prova que tem como objectivo primordial a avaliação dos conhecimentos por mim
apreendidos na mesma. Eu executo a prova tendo por base óbvia a informação
desencriptada pela minha ferramenta, o meu léxico, à qual junto as lacunas
provocadas pela utilização de uma terminologia que não conheço.
Os resultados obtidos
serão efectivamente correspondentes ao meu nível de conhecimento da matéria?
O meu conhecimento
adquirido da matéria tem alguma proximidade da realidade da informação?
Perante os meus maus
resultados é legítimo afirmar que existiu insucesso de aprendizagem?
Face aos resultados
podemos admitir algum tipo de exclusão sociopedagógica?
E se eu pretender
transmitir o que aprendi a um terceiro com um léxico eventualmente mais pobre
que o meu? Que mensagem ele vai reter?
Estas e muitas outras
questões que foram abordadas na formação levaram acima de tudo a que ficasse
com muitas questões em mente. Mais que respostas, surgiram-me inúmeras dúvidas
e perguntas que gostaria de encontrar respostas:
Como estão os programas
lectivos estruturados?
Essa estrutura permite
a adaptabilidade plástica do cérebro?
As matérias colocadas
em programa estão na sequência necessária para a apreensão por parte do
cérebro?
A execução dos
programas lectivos contempla os intervalos imprescindíveis à apreensão,
experimentação e consolidação da aprendizagem promovendo a criação e
consolidação de vias neurológicas?
E no caso de ciclos
pré-escolares, qual é o papel da família?
Os diversos e enormes
problemas causados por processos disfuncionais de vinculação e estereotipagem
dos pais e ou educadores?
As famílias são
promotoras, cooperantes e coadjuvantes do ensino e da aprendizagem?
As famílias têm o
mínimo de conhecimento acerca do funcionamento neurológico e cognitivo dos seus
elementos e como se processa a aprendizagem?
Uma questão
“intrigante” que me fica sem resposta é o “abuso” na administração em tão
precoce idade de Metilfenidato, quase a gosto por incapacidade ou
indisponibilidade para melhor educar?
Qual é o papel do
clínico de clínica geral e familiar neste processo de sobre diagnóstico de
híper actividades?
Poder-se-á equacionar
uma pouco ética manipulação precoce da construção da personalidade da criança
através da utilização de fármacos (leia-se Metilfenidato por ex.) interferindo
directamente na construção e na adaptabilidade plástica do cérebro?
…Quantas questões ficam
no ar!...
A única coisa de que
fico convicto, é que é necessário e urgente obter respostas comprovadas e
experimentadas para muitas questões e dúvidas que estão por responder e muitas
outras que com toda a certeza irão surgir.
É urgente a criação de
um grupo interdisciplinar e multidisciplinar de trabalho que tenha em vista o
desenvolvimento de um trabalho impermeável a pressões políticas, de lóbis, de
preconceitos, de ideologias, etc.…
Fiquei com a certeza de
que não existe uma “receita” inequívoca a seguir.
Fiquei com a certeza de
temos de motivar mais os educadores e os políticos do que os estudantes.
Fiquei com a certeza de
que se estão a cometer muitos “crimes” seguindo determinados métodos.
Fiquei com a certeza de
que é urgente melhor compreender, melhor fazer uso do compreendido e melhor
ensinar dando início a uma corrente consolidadamente direccionada.
© Mário Rodrigues - 2013