terça-feira, 20 de abril de 2010
Paro cristalizado de pavor!
Uma epopeia!
Oh! Que epopeia!
A manhã tinha acordado enevoada...
"Março marçagão, manhãs de inverno e tardes de verão..."
Pois bem, a manhã estava enevoada. Gigantescas meias esferas abobadadas de água abundavam por aqueles lados. Campânulas hirtas expostas às forças colossais da brisa matinal, como cápsulas marcianas, espalhavam-se por montes e vales...
Orvalho!...
A área era vastíssima! A vista alcançava...a mais de quinze centímetros de distância apesar do ofuscado da nébula. Tinha acordado de mais uma interminável campanha das trevas. Renhidas lutas onde houve lugar a uma enorme quantidade de baixas nas nossas guerreiras...
Aquelas térmitas eram odiáveis!
Mas um dia...venceremos definitivamente! Esta guerra fará com que nós, dada a nossa supremacia de "Argentus", um dia as derrotemos em todo o seu gigantismo...
Apesar disso, a manhã estava calma. Por entre a nébula, um raio de sol destaca o amarelo intenso de uma flor. Junto ao seu pé, tomo consciência da sua colossal altura!...
Qual será a sabedoria acumulada de tal ser? Que envergadura!...
Extraordinário!...Todo o universo estaria à mercê de meus olhos se o cume das sua pétalas eu alcançasse!...
Mas...porque não subo? É certo que o enorme tronco não oferecia muita aderência, no entanto, com esforço consigo ir subindo. Alcanço um pouco mais. E mais. E mais...
Paro cristalizado de pavor! O barulho ensurdecedor e as vibrações tremem a terra e ficam cada vez mais próximas. Sinto toda a fúria do vento tentando arrancar-me do escorregadio tronco. Uma enorme abelha vem cobrar o seu tributo, nos estames polinizados. Agacho-me e esforço-me para não ser arrancado.
O sol começa a despontar e os seus raios a trespassarem-me o corpo. A escalada é penosa. Os meus olhos já alcançam aquele amarelo quase ofuscante. Mergulho num derradeiro esforço que me leva ao cume das amarelas pétalas...
Ah!...
Tenho muita dificuldade em...apreender o que os meus olhos vêem...
O Universo... é muito maior do que eu algum dia poderia pensar...
© Mário Rodrigues - 2010
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Cartas aos amigos,
Surrealismos
2 comentários:
…Escrevo, principalmente, por falta de espaço dentro de mim para tantas emoções e tão grandes, para mim. Nos comentários, fico com a sensação de que os pingos de emoção que transbordo, caiem em "terras fecundas" e coadjuvam o nascimento de novas emoções, produzem opiniões, contra pontos e desafios… E isso, isso é “geleia real”, para as nossas vidas…
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O problema é que o Universo é maior que o pensamento. Pensando talvez não seja preciso ir vê-lo para confirmar, mas ajuda, lá isso... É compreensível o pavor que subjaz ao facto de haver algo que a imaginação não abarque. Sou acometido frequentemente dessa sensação. Há coisas que só se resolvem com conformidade e o conformismo é também inquietante.
ResponderEliminarAbraço
Muito inquietante...quase urticante!
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