quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O navio de espelhos

O navio de espelhos
não navega cavalga

Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele

Os armadores não amam
a sua rota clara

(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga

O seu porão traz nada
nada leva à partida

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)

E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo


Autor : Mário Cesariny

4 comentários:

uminuto disse...

em grande no seu estilo muito próprio
um beijo

Nirvana disse...

Gosto muito de Cesariny.

"Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso querer falar"


Beijinhos, Mário, e bom fim de semana

Mário Rodrigues disse...

Olá uminuto e Nirvada. O homem era um senhor surealista...

Beijos

CybeRider disse...

Pois era Mário, daí que as suas palavras tenham mais de sensação que de sentido. É arte pura e imensa, o sentido está nos brilhos da nossa alma. Nós, navios de espelhos também.

Abraço

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