Na casa das minhas tias-avós, em plena Serra do Açor, existia um cubículo, que como porta tinha um pano, e que tinha um buraco redondo no chão. Esse buraco, dava directamente para a corte dos porcos. Se bem que enquanto as nossas necessidades fazíamos, víamos o pobres animais a olharem para nós, ou pelo menos para a parte que eles podiam ver, pelo menos, era raro por aqueles lados o uso dos penicos, com os quais, nunca simpatizei; mesmo nos tempos em que se tinha de ir para o meio do mato, fosse à hora que fosse.
A segunda, quanto a mim, sempre me foi muito estranha. Na Lisboa antiga, em pleno Bairro Alto, numa casa onde o meu avô materno vivia, existia uma, apelidada de "pia de despejos", onde realmente se despejava tudo, mesmo tudo; inclusive servia de sanita. O mais estranho, é que a tal pia estava numa parede onde de um lado tinha o lava loiças e do outro um fogão...Pois certo. A pia estava ao meio...Imagine-se uma diarreia em qualquer dos elementos do agregado, durante a confecção dos repastos...
Realmente, ainda há muito pouco tempo, os conceitos de higiene eram...
© Mário Rodrigues - 2009
domingo, 18 de outubro de 2009
Duas lembranças!
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Cartas aos amigos,
Constatações,
Recordações
8 comentários:
…Escrevo, principalmente, por falta de espaço dentro de mim para tantas emoções e tão grandes, para mim. Nos comentários, fico com a sensação de que os pingos de emoção que transbordo, caiem em "terras fecundas" e coadjuvam o nascimento de novas emoções, produzem opiniões, contra pontos e desafios… E isso, isso é “geleia real”, para as nossas vidas…
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Olá Mário!
ResponderEliminarQuando li o teu comentário fartei-me de rir, porque imaginei algumas hipotéticas cenas. Por vezes penso que recordar estas coisas do passado nos faz bem, na medida, em que podemos constatar toda a evolução que tivemos para melhor, o que contraria a opinião de certos, que só vêem nestes tempos actuais motivos de desgraça.
Afinal ainda não se passou assim tanto tempo e hoje um apartamento normamíssimo tem pelo menos duas casas de banho, com todas as condições.
Mas voltando ao caso que contaste: coitados dos porcos! Como se eles já não fizessem esterqueira que chegasse, e estou-me a rir só de imaginar o porco a olhar para cima enquanto um ovni mal cheiroso lhe irrompia na direcção do focinho! Ehehe!
O meu pai, pessoa antiga sempre preferiu o campo a uma casa de banho. Dizia ele que se regalava todo em ir para o campo no escuro da noite para satisfazer as necessides fisiológicas, ao mesmo tempo que se deliciava com o fresco e os sons da noite. Aquele sentimento de liberdade e comunhão com a natureza faziam-lhe sentir uma paz infinita. No dia seguinte íamos nós filhos brincar para o campo e, uma vez por outra, distraídos, lá pisávamos um daqueles presentes que o meu pai por lá havia semeado abundantemente!
Um beijinho
olá, Quantos de nós que não fazemos de conta que somos muito finos e nascidos em berço de ouro, temos coisas destas para contar?
ResponderEliminarDesde pequena que me habituei a ver e a lidar com estas situações, pois também os meus familiares mais idosos eram pobres de meios e condições.Não de educação, mas isso é outra história.
A história do "W.C." em Portugal (porque é a que eu conheço e não acredito que além fronteiras tenha sido muito diferente)é bem peculiar para quem tenha interesse no assunto. À semelhança do que contou o Mário, também o meu avô paterno possuia uma idêntica e, quando se abria a porta da corte na hora da vontade, para além de todas as vistas possiveis (só que aqui eram vacas barrosãs), também vinha cá uma corrente de ar...
Na casa do meu avô materno, a modernidade chegou um pouco mais além, pois a sanita em vez de ser de madeira era de cimento cujo fundo era uma bacia de barro vidrado sem fundo, onde os dejectos se evacuavam no vazio escuro de um esgoto para algures. Escusado será dizer que nestes espaços nada mais havia para além da dita pia.
Mas havia pior! E conheci a lei do desenrrasca-te quando faleceu este meu avô e tive de pernoitar na casa de um outro familiar. A certa hora da noite tive vontade de fazer xixi e a minha prima não se fez rogada, mostrou-me um buraquinho no soalho do quarto onde dormiamos e foi aí que me aliviei. Para onde foi parar o dito liquido nunca cheguei a saber. Mas o que é certo é que aquele gesto era por ali habitual.
E, à semelhança do que disse o Mario, nas cidades as coisas não eram nada melhores, muito pelo contrário. Nem hoje ainda são para os mais desfavorecidos. Ainda não vai à muito tempo, ia eu no autocarro 9, na avenida da liberdade, em Lisboa, e qual não é o meu espanto, dou de caras com o traseiro de um sem abrigo a aliviar-se num dos jardins, ás 5 da tarde, e à vista de quem passava.
Estas coisas dão que pensar... Uns com tanto e outros com tão pouco. Isto foi noutros tempos e é no nosso tempo.
...eram conceitos pouco higiénicos, mas eram os que existiam
ResponderEliminarum beijo
Olá uminuto
ResponderEliminarRealmente...E ainda há quem diga que este país está cada vez pior!
Beijocas
Engenhosa ideia a dos serranos! Aí está um brilhante exemplo dos primórdios da reciclagem, já que os detritos deveriam posteriormente ser aproveitados para adubar as terras.
ResponderEliminarNo entanto os buracos que referes no segundo parágrafo só os conheci numa vila alentejana onde tinha família e onde passava férias em miúdo, curiosamente ficavam situados (todos os que vi) junto à porta de casa - talvez para minorar a distância dali à conduta de esgoto, porque há que referir que a água vinha da fonte a cântaros e não se podia desperdiçar para empurrar os dejectos por uma canalização longa e complexa. O que me leva a concluir que não estaria assim tão atrasada como se poderia pensar quando vinham todos espreitar ao postigo para ver o automóvel que circulava pela rua. Em Lisboa nunca conheci essa realidade.
Oh! A Lisboa do poço dos negros...
ResponderEliminarEh! Coitadinhos dos porcos. Não deviam gostar muito quando se fazia luz lá em cima!
ResponderEliminarA pia parece-me o início da compostagem biológica :).
Lembro-me de na aldeia do meu avô ainda haver casas em que a casa de banho ficava ao fundo do quintal, mas sempre conheci a casa dele já com tudo incluído.
Lembro-me também que em miúda, quando ia para o campo, tinha de vir a casa sempre que tinha de ir à casa de banho. Uma vez, teria uns 8-9 anos, a minha tia mandou-me levar uma coisa a uma "vizinha", que ficava a uns bons 15 minutos de caminho. Ouvi poucas e boas quando cheguei a casa com a cesta ainda na mão, porque a meio do caminho a bexiga apertou e eu voltei para trás!
Beijinhos
Recordar estas coisas é como tirar cerejas, vêm umas a seguir às outras!
Na aldeia dos meus avós, não havia ligações com as suites dos animais. Tinhamos que retirar-nos com um recipiente próprio, para uma divisão, e no fim ir aliviar o próprio recipiente algures na terra!
ResponderEliminarOs meus pais, entre os irmãos de ambos, foram os únicos que quando casaram, foram morar para Coimbra, centro. Onde as habitações já possuiam casas-de-banho. Desde sempre convivi com elas e nas visitas à aldeia, pior, nos periodos de férias por lá, era um tormento!
Até por isto, lhes dou valor ao esforço que fizeram para conseguirem ter uma casa, na cidade, que reunisse estas condições, (que hoje consideramos minimas e que na altura seriam um luxo!) para os filhos que estariam para chegar!
Um abraço, Mário.