domingo, 19 de julho de 2009

As palavras...

Entre nós e as palavras há metal fundente entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirardo mais fundo de nós o mais útil segredo entre nós e as palavras há perfis ardentes espaços cheios de gente de costas altas flores venenosas portas por abrir e escadas e ponteiros e crianças sentadas à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos há palavras de vida há palavras de morte há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar há palavras acesas como barcos e há palavras homens, palavras que guardam o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente, as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras noturnas palavras gemidos palavras que nos sobem ilegíveis à boca palavras diamantes palavras nunca escritas palavras impossíveis de escrever por não termos conosco cordas de violinos nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar e os braços dos amantes escrevem muito alto muito além do azul onde oxidados morrem palavras maternais só sombra só soluço só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Autor: Mário Cesariny

4 comentários:

CybeRider disse...

De outro autor, e noutro registo...

http://outranaferradura.blogspot.com/2009/03/do-calao-ao-erudito.html

Boa lembrança, a tua, de um dos meus autores preferidos.

Um abraço!

Mário Rodrigues disse...

Delicioso exemplo da magia das palavras, o que me envias…

Um abraço

Joanina disse...

Sem comentarios... E sem palavras! ;)
Bj da Jo

Mário Rodrigues disse...

Olá Joaninha,
És muito expressiva…
Bjs

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