O navio de espelhos
não navega cavalga
Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele
Os armadores não amam
a sua rota clara
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga
O seu porão traz nada
nada leva à partida
Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta
(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)
Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto
A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)
E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo
Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo
Autor : Mário Cesariny
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
4 comentários:
…Escrevo, principalmente, por falta de espaço dentro de mim para tantas emoções e tão grandes, para mim. Nos comentários, fico com a sensação de que os pingos de emoção que transbordo, caiem em "terras fecundas" e coadjuvam o nascimento de novas emoções, produzem opiniões, contra pontos e desafios… E isso, isso é “geleia real”, para as nossas vidas…
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em grande no seu estilo muito próprio
ResponderEliminarum beijo
Gosto muito de Cesariny.
ResponderEliminar"Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso querer falar"
Beijinhos, Mário, e bom fim de semana
Olá uminuto e Nirvada. O homem era um senhor surealista...
ResponderEliminarBeijos
Pois era Mário, daí que as suas palavras tenham mais de sensação que de sentido. É arte pura e imensa, o sentido está nos brilhos da nossa alma. Nós, navios de espelhos também.
ResponderEliminarAbraço