quinta-feira, 30 de julho de 2009

México, para além do H1N1...

Deixei a luz a um lado

Deixei a luz a um lado e numa beira
da cama em desalinho me sentei,
sombrio, mudo, os olhos imóveis
cravados na parade.
Que tempo estive assim? Não sei; ao deixar-me
a horrível embriaguez da dor
já expirava a luz, e na varanda
ria o sol.

Não sei tão-pouco em tão terríveis horas
em que pensava ou que passou por mim;
recordo só que chorei e blasfemei
e que naquela noite envelheci.

Autor: Gustavo Adolfo Bécquer

terça-feira, 28 de julho de 2009

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Saudades...

A saudade é um nó que se instala entre a traqueia e a base da língua…
Persiste e insiste numa tentativa de nos sufocar…
Verga-nos o dorso, subjugando-nos…
O alvo, é o que há de bom na saudade, mas que no momento dela… tem um sabor “pálido”, é de um cinzento “amargo”, é…
A saudade, esventra-nos, deixando-nos ocos, vazios… corroídos…

© Mário Rodrigues - 2009

sábado, 25 de julho de 2009

Sei um ninho.

Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...

Autor: Miguel Torga

Talvez - Primeira parte, bocado nº3

...Cherenka Vladsca, que os amigos tratavam, carinhosamente, por “Checa”, não que ela fosse proveniente da República Checa, que não era, tinha trinta e seis anos. Saiu do seu país com vinte e quatro, deixando para trás uma filha com dois anos, a mãe, viúva de um mineiro Ucrâniano, uma irmã, um amor de dois dias com um soldado russo, de que a filha foi o fruto e…

Nas ruas ouvia com frequência que quem partia para ocidente, mandava dinheiro para os que ficavam. Os dias, no leste, eram difíceis… Uma vizinha disponibilizou o contacto de um senhor, que…
- Viaja, e arranja trabalho para mulheres em fábricas e a tomar conta de crianças… - Recebem bom dinheiro! – Dizia a angariadora.

A realidade dos últimos doze anos, foi-lhe bem diferente. Checa, passou por Amesterdão, antes de Barcelona e Lisboa. “Casa Rosso” primeiro e “Bagdad Club” em Barcelona, foram as “fábricas” que Checa viu quando chegou ao, “maravilhoso mundo do ocidente”. Um bar de alterne, nos subúrbios de Lisboa, pô-la a tomar conta de “crianças”. Foi conseguindo arranjar algum dinheiro para comprar um microscópico Tzero, longe do “infantário”. Uma relação “laboral” mais persistente com um cliente, acabou por a tirar de lá.

Júlio, não será exactamente um príncipe encantado, mas, depois de a ter achado, exclusivamente “boa”, começou a ver nela alguém que lhe ouvia os “ventos de revolta” que há muitos anos, “trovoavam”, a sua relação com a sua esposa.

Checa trabalhava agora, como doméstica, em algumas casas de pessoas que, apesar de terem menos habilitações que ela, tinham dinheiro para lhe pagar ao fim do mês. Planeava, agora a possibilidade de trazer para junto dela a sua filha.
AVISO: ATENÇÃO! É possivel que isto continue.

© Mário Rodrigues - 2009

Resposta a Cybe, in "O insubestimavel prazer de observar…"

Olá Cybe,
Tenho enorme respeito por todos os comentários que me dirigem, e a propósito disso, transcrevo para aqui, algo que escrevi no outro dia.
“…Escrevo, principalmente, por falta de espaço dentro de mim para tantas emoções e tão grandes (para mim). Anseio pelos comentários, porque, fico com a sensação de que os pingos de emoção que transbordo, caiem em terras fecundas, e coadjuvam o nascimento de novas emoções, e produzem opiniões e contra pontos e desafios… e isso. Isso é “geleia real”, para as nossas vidas…”
Assim, os comentários, muito menos os teus, são “manchas”, entendo-os sempre como complementos.
Esse eventual defeito de que falas, é tentador, caio também algumas vezes nele, no entanto tem se desvanecido á medida que vou “conhecendo”, outras pessoas que também observam, também respiram lentamente para saborear o ar da manhã, e essas personalidades, são transversais à sociedade, às classes, às habilitações… algumas delas…algumas delas estão internadas, separadas da restante “sociedade normal”, e chamam-lhes… Muitas delas são pessoas livres, sem amarras, amarras de que não nos conseguimos libertar, mas que eles, ditos insanos, pairam acima de nós, em voos rasantes às nossas cabeças que nos assustam, e onde eles largam grandes e rasgadas gargalhadas.
Parafraseando-te, "de uma maneira ou de outra, o mundo faz-se belo todos os dias, mas não é só para mim, é para todos os que queiram ver a sua beleza. Observar, além de um prazer, é um mandamento."

© Mário Rodrigues - 2009

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A menina gorda.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O insubestimavel prazer de observar…

Hoje, sem compreender exactamente porque, acordei!
Acordei muito antes, do despertador que normalmente já costuma tocar depois de eu acordar. O dia ainda não tinha “nascido”. Olhei em redor… e reparei que, com a pouca luz que existia no quarto, observei a minha companheira de “guerra”, de um modo que me não lembro de alguma vez ter feito; meramente biológico. Realmente, a vida é uma grande maravilha. Dormia suave e silenciosamente, aquele complexo bioquímico, organizado numa verdadeira prova de mestria inimitável. Levantei-me e fui até uma janela que abri… Um ar fresco e rico em oxigénio, inundou-me os pulmões de assalto de um modo que quase me provocou dor… O silêncio da manhã e o espectáculo de ver um dia nascer, é-me muito agradável. Mesmo muito. Utilizo-o muitas vezes na sequência de dias menos fáceis. Pergunto-me a mim mesmo, quanta sorte tenho em estar a assistir a um espectáculo, que apesar de se repetir diariamente, raramente reparo como é belo, e tão raramente usufruo da energia inigualável que ele me proporciona. Apesar da minha existência, ser completamente indiferente a ele mesmo, (o nascer do dia).
Ao sair de casa, vi uma minúscula flor violeta de quatro pétalas, que seria capaz de jurar que não existia numa pequena racha do muro de pedra. Aliás, nem tinha reparado bem que o muro era daquelas pedras; grandes. Aquele muro é um enorme habitat. Aquele muro… é o universo de muitos seres… Como será o “muro” que alberga o habitat de seres dos quais eu faço parte, visto pelos olhos do transeunte que acorda cedo e repara num mero muro de pedra?

© Mário Rodrigues - 2009

segunda-feira, 20 de julho de 2009

As aparências iludem...


domingo, 19 de julho de 2009

As palavras...

Entre nós e as palavras há metal fundente entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirardo mais fundo de nós o mais útil segredo entre nós e as palavras há perfis ardentes espaços cheios de gente de costas altas flores venenosas portas por abrir e escadas e ponteiros e crianças sentadas à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos há palavras de vida há palavras de morte há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar há palavras acesas como barcos e há palavras homens, palavras que guardam o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente, as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras noturnas palavras gemidos palavras que nos sobem ilegíveis à boca palavras diamantes palavras nunca escritas palavras impossíveis de escrever por não termos conosco cordas de violinos nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar e os braços dos amantes escrevem muito alto muito além do azul onde oxidados morrem palavras maternais só sombra só soluço só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Autor: Mário Cesariny

sábado, 4 de julho de 2009

A Dama desceu ao bloco...

Sinto-me... Não vale a pena. Tudo corria na aparente normalidade rotineira, bom clima, bom texto, escrita porreira, “Supertramp”…… 45 minutos. Paragem. Rea.30 minutos. Paragem. Rea, e,e,e…….Instala-se o caos sincronizado e normal para o caso, pressente-se a presença da… dama de negro flutuando… os movimentos tornam-se perpétuos, e estranhamente retardados. Sem qualquer pudor arranca-nos das mãos o seu tributo…nunca hei-de estar preparado para a; “desvida”…hoje não me apetece chamar-lhe outra coisa…depois; a cruel trova do…”hora do óbito, 21 horas e cinco minutos do dia………..” Merda. Não sei se vou para casa…outra vez. Estes anos de contacto com sofrimento rebentam-me...

© Mário Rodrigues - 2009

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A excitação de uma noite voraz…

A insónia é fodida. A insónia é como uma lanterna que revela merdas que estão escondidas atrás das paredes, dentro de armários, soterradas debaixo de montanhas. A insónia, tenho a certeza que não é uma criação de Deus… A insónia não é nossa amiga. O que não acontece com a excitação de uma noite voraz…

© Mário Rodrigues - 2009

20 anos de casamento podem ser muito bons...

Naquela manhã, ela decidiu, não prender o cabelo. Naquela manhã, ele repousou demoradamente um olhar terno, sobre ela. Naquela manhã, ela ouvia “Osvaldo Requena”. Naquela manhã, ele sorria uma melodia. Naquela manhã, ela vestia rosa romã. Naquela manhã, ele disse-lhe baixinho:
-Cheiras a rosas!
Naquela manhã, ela ouviu o "chilrear" das águas do ribeiro. Naquela manhã, ele abandonou-se e leu-lhe os movimentos… Naquela manhã, ela desejou-o como nunca… Naquela manhã, ela pareceu-lhe decidida e apaixonada pelo facto de ser mulher. Naquela manhã, ela sentiu-se olhada… Naquela manhã! Naquela manhã, desvendaram-se… Naquela manhã, amaram-se… Naquela manhã… Naquela manhã, foram muito felizes…

© Mário Rodrigues - 2009

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Haveremos de ser um dia…

Haveremos de ser um dia…
…Pessoas que se desviam nos seus automóveis, para as ambulâncias passarem e que se não colam a elas para passarmos todos os outros que obedientemente, ou tão simplesmente ocupam as suas posições na fila de trânsito…

…Pessoas que nos banquetes dos casamentos, só comeremos e que devemos e não encheremos pratos e pratos de comida que deixaremos intactos em cima das mesas, e onde colocamos guardanapos e beatas de cigarros, garantindo que aqueles alimentos irão para o lixo…

…Uma enorme multidão de pessoas, que pelas ruas pediremos a todos os que connosco se cruzar, para que tão-somente, vivam de modo inócuo para com os outros. E então, com a luz que nos será endógena, provocarmos o desejo de nos acompanharem…

E então; então seremos dignos da denominação de seres humanos e inteligentes…

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Conspiração de morte...

Os maus tratos aos velhos, aos novos, aos assim e assim, as antecâmaras da morte que são muitos lares, hospitais e outros que tais, a contrafacção dos medicamentos, o modo como e estado parasita, os que ainda trabalham, etc, não passam de elementos de uma conspiração para enfraquecer uma nação, para que cega, eleja um qualquer ditador que se mostrará como sendo a nossa salvação, mas… Psicopata? Talvez seja um pouco! Falarei mais sobre isto um dia destes…

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