Silêncio e Solidão - A Energia Primordial da Existência: Reflexões Sobre a Vida, Morte e a Partilha Infinita com o Universo
Introdução
O nascimento e a morte são dois momentos de solidão radical que moldam a condição humana. Eles representam pontos extremos da existência, onde o indivíduo se confronta com o mistério primordial. Essas reflexões pertencem tanto ao domínio da filosofia quanto ao da poesia, mas acima de tudo ao domínio do grito — aquele grito que se ergue, não para ser ouvido, mas para escapar ao silêncio.
No nascimento, o grito é o primeiro anúncio de uma vida arrancada da escuridão primordial, uma afirmação bruta de existência, de dor, de separação. Por outro lado, o grito da morte é mais subtil — uma implosão da identidade, um último esforço para fixar na memória do mundo aquilo que se desfaz. Assim, nascimento e morte surgem como margens de um rio cujas águas são desconhecidas. Entre elas, a vida flui como um caminho feito de silêncio e ruído, de presença e ausência, onde o verdadeiro mistério reside precisamente no que permanece intocado pelas vozes da vida e pelas sombras da morte.
1. Antes do Nascimento: O Estado de Potencialidade
Antes do nascimento, essa entidade energética encontra-se num estado de potencialidade dispersa, integrada num ambiente energético universal. Esse ambiente compõe-se de fluxos e interacções energéticas indefinidas — um oceano de energia primordial, sem individualidade ou consciência.
2. O Momento da Fertilização: A Captura da Energia
A fertilização marca o instante em que a entidade energética é capturada pela união do espermatozóide com o óvulo. Esta captura não implica um aprisionamento definitivo, mas uma organização gradual de energia em torno de um sistema biológico. Durante o desenvolvimento embrionário, a energia dispersa começa a ganhar coesão, preparando-se para a consciência e identidade que emergirão mais tarde.
3. O Nascimento: A Solidão da Individualidade
O nascimento não é apenas o início da vida, mas também um momento de separação radical da energia primordial. A entidade energética, ao ser capturada pela biologia, vive uma solidão intensa, pois é retirada de um estado difuso para um contexto individualizado.
O grito do recém-nascido é a manifestação física dessa solidão. É o som de uma energia a cristalizar-se num corpo, separando-se de um estado primordial e indefinido para uma identidade concreta e limitada.
4. Durante a Vida: A Experiência Física da Energia
O corpo humano actua como veículo temporário desta entidade energética, permitindo-lhe interagir com o mundo material. A energia primordial está formatada pelo corpo biológico, traduzindo-se em percepções, sentimentos e pensamentos. Durante a vida, esta energia está em constante troca com o ambiente, absorvendo e emitindo energia, local e universalmente.
5. Partilha Energética: O Ciclo Infinito da Existência
Durante o intervalo que chamamos de vida, a entidade energética não permanece isolada. Pelo contrário, está em permanente troca com o ambiente, num processo de partilha energética contínua.
Partilha Energética Permanente
A energia primordial interage com o meio físico, emitindo e recebendo fluxos de informação. Esse intercâmbio não se limita ao nível planetário, mas potencialmente ao nível cósmico, sugerindo que a consciência é uma manifestação temporária de algo muito mais vasto.
Conectividade Universal
Conceitos da física moderna, como o entrelaçamento quântico e a conservação de informação, reforçam a ideia de que a energia não se perde, mas se transforma e se partilha eternamente.
6. O Momento da Morte: A Dissolução Energética
Quando o corpo cessa a sua função, a entidade energética liberta-se. A morte não representa um desaparecimento, mas uma reintegração na energia universal. A identidade dilui-se, mas a energia, como princípio primordial, dissemina-se, mantendo uma continuidade que transcende a existência física.
A morte é a última solidão — uma libertação da individualidade e um regresso ao estado primordial. A essência dissolve-se para se tornar parte do todo novamente.
7. Implicações Científicas e Filosóficas
A visão de uma Entidade Energética Primordial está em sintonia com princípios da física quântica e teorias informacionais. A conservação da informação e os campos electromagnéticos podem sugerir que a morte não implica destruição da consciência, mas uma reconfiguração desta energia no tecido universal.
Teoria da Informação e Princípio Holográfico
A realidade física pode ser entendida como informação organizada. Se a entidade energética primordial é informação, então o corpo físico poderia ser uma manifestação limitada de uma informação mais vasta.
Biofotónica e Emissão Biofotónica Ultra-Fraca
A emissão de biofotões pode ser entendida como um veículo através do qual a energia primordial interage e se organiza num organismo biológico.
Entrelaçamento Quântico e Coerência Quântica
O entrelaçamento quântico sugere que a energia primordial tem uma base quântica que se mantém conectada com o universo, independentemente da localização física do corpo.
Lei de Lavoisier e a Entidade Energética Primordial
A Lei de Lavoisier, que afirma que “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, valida a hipótese de que a entidade energética persiste de alguma forma, transformando-se e continuando a influenciar o ambiente mesmo após o fim da existência corpórea.
Conclusão
A reflexão sobre a solidão primordial do nascimento e da morte abre caminho para pensar a existência como uma transição energética contínua. O nascimento seria o som de uma energia a cristalizar-se num corpo, enquanto a morte seria o murmúrio dessa mesma energia a disseminar-se no universo.
Entre esses dois extremos, a vida apresenta-se como uma manifestação passageira, onde a entidade energética não está nunca totalmente isolada, mas sempre em diálogo com o todo.
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