quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Se hoje me bastasse!...

Hoje não me basta esperar para que o dia passe
Hoje não me basta a escuridão para deixar de ver
Hoje não me basta encolher-me para me refugiar
Hoje não me basta chorar para as lágrimas verter
Hoje não me basta o silêncio para sossegar

Hoje também terei que me afundar; e do fundo de um escuro poço, trazer coisas viscosas emaranhadas nas mãos
Hoje também terei de com dor, escarafunchar na carne, e de um rompante, arrancar o espinho que, cravado há já muito, infectou e está rodeado de matéria pútrida

Mas...

Mas hoje, também deveria, desinfectar a carne escarafunchada e cuidar que sã cicatrize.
Mas hoje, também deveria, transformar coisas viscosas que habitam os fundos dos poços escuros em fortificante que em terra cuidada melhorassem os seus frutos
Mas hoje, também deveria, em sossego, cuidar dos silêncios e conhecer-lhes as origens
Mas hoje, também deveria, verter lágrimas sobre o tempo perdido
Mas hoje, também deveria, nos raios do Sol me refugiar ofuscando os incautos distraídos
Mas hoje, também deveria, sair da escuridão e com olhos limpos começar a ver
Mas hoje, também deveria, ansiar que este, que foi mais uma oportunidade de ser melhor, que este dia não passasse...

No entanto, uma inquietude insatisfeita, faz com que se procure o que virá a ser indesejado e que com desprezo se ignore o que se quis...

© Mário Rodrigues - 2010

10 comentários:

  1. Olá Mário!
    A inquietude da alma humana, que está sempre insatisfeita faz-nos perceber que aquilo que vivemos no momento é insuficiente para aquietar e amansar o que vai no "eu", interior.
    Profundo o seu poema, leva-nos a uma reflexão profunda.
    Tenha um belo dia e, permita-me segui-lo e voltar aqui mais vezes!

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  2. Olá Anna,

    Será sempre bem-vinda a este recanto.
    Na realidade há momentos nas nossas vidas que nos parecem derradeiros; e nós acolhemo-los como tal. No entanto não o são...

    Beijo

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  3. toda a gente sabe que não sou fã de poesia. a prosa é-me sempre mais simples de entender, reconheço a minha limitada capacidade.
    mas há uma coisa que eu sei. todos os dias são bons de viver, mesmo quando são menos bons. e são todas essas sensações boas e menos boas por que vamos passando ao longo das 24h que tornam tão fantástica a aventura de os viver. acho que é disso que é feita a felicidade de se estar vivo. acordar. saber à partida que vamos fazer tanto bem feito como mal feito, que vamos fazer tanto quanto o que deixaremos por fazer, que num momento nos sentimos grandes e noutro minusculos, que não somos seres perfeitamente imperfeitos e que, com sorte muita sorte, amanhã será um novo dia carregado da mesma magia

    o que eu gosto neste espaço é que posso divagar à vontade dentro dos meus pensamentos porque o dono da casa não me vai condenar mesmo quando pareça que nada faz sentido :)

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  4. Ambos sabemos a densidade e o que existe de verdade nas tuas palavras.
    Todos nós deveríamos ter noção de que muitas vezes nos queixamos sem a verdadeira legitimidade para tal.

    Quanto a este espaço e ao que dizes dele, deixa-me bastante contente! Sem gostei muito, aqui como na minha casa, que quem por bem vem, se sinta à vontade e descontraído para pensar e filosofar e dissertar sem pré-requisitos...

    És sempre muito bem-vinda!

    Beijo Ana

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  5. Olá, amigo!
    Conheci seu espaço... amei!
    Gostei de tudo o que li...
    Você é muito talentoso!
    Bom fim de semana!
    Beijinhos.
    Brasil ♥

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  6. Olá Inês!

    Muito obrigado pela calorosa visita.
    Volte sempre que desejar

    Um beijo

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  7. *
    tudo me basta,
    ontem e hoje . . .
    ,
    saudações,
    ,
    *

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  8. Insatisfação...um dos grandes defeitos que possuimos.

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  9. Olá Secreta,

    É meu desejo que sejas bem chegada a este recanto e que voltes quando quiseres.

    Insatisfação...
    Não sei se defeito se virtude! O segredo, aliás como em tudo, está na medida. Não obstante deixa um sabor "salobro" nas nossas existências!

    Beijo

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  10. Há tanta coisa que eu deveria ou queria ou esperaria fazer hoje, mas a vida é muito curta para tantos afazeres por isso não te esqueças de aproveites bem o tempo que te resta para fazeres todas essas "inquiétudes" da tua vida.

    Abraço: Bernardo

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…Escrevo, principalmente, por falta de espaço dentro de mim para tantas emoções e tão grandes, para mim. Nos comentários, fico com a sensação de que os pingos de emoção que transbordo, caiem em "terras fecundas" e coadjuvam o nascimento de novas emoções, produzem opiniões, contra pontos e desafios… E isso, isso é “geleia real”, para as nossas vidas…

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