sábado, 10 de julho de 2010

Nas viagens desconhecidas...


Nas viagens desconhecidas, pergunto-me como será por lá enquanto estou cá. Ansiaria eu que um abraço apertado me esperasse à chegada. Ir sem saber para onde, tem tanto de tentador como de...fio de lâmina fria em dorso hirto. A possibilidade de me ser permitido arrepender e voltar para trás poder-me-ia acalmar. Todos os dias no cais de um porto de mares conturbados, o ciclo ininterrupto da vida não pára com pessoas a chegar para ficar e outras a partir para não mais voltar. Alguns embarcam mas queriam ficar, outros queriam ir mas cá terão de estar. Alguns acabados de chegar, com medo querem se ir, são recebidos por outros a sorrir. Alguns estão só a observar, outros limitam-se a, no cais em círculos, caminhar. Há mesmo alguns que ninguém os recebe e ficam a chorar. Vejo neste cais a azáfama de chegar e partir como pontas de uma mesma viagem que muitas chegadas tende, como tantas partidas terá. A barcaça que está a chegar é a mesma que vejo já no horizonte de partida. O momento em que a prancha a liga ao cais alia as chegadas às partidas, os risos aos choros e as euforias às despedidas. Eu sou só mais um destes viajantes, sem saber o ponto em que me encontro. Quero ter acabado de chegar estando pronto para a partida...

© Mário Rodrigues - 2010

6 comentários:

  1. coisa esta do ser humano que não está bem em lado nenhum; que anseia por tudo e não quer nada; que não pára em lado nenhum; e quer o mundo todo de um só vez e depois não lhe chega e quer mais. e anda, em circulos, no cais, no meio da azáfam, da confusão, da multidão, inebriado pelo cheiro que paura no ar...

    ****

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  2. Olá Taniah,

    ...Epá... Bbuuffffffff!... Pois!...

    Olha, um beijo para ti ;-)

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  3. sabes... fizeste-me lembrar aqueles (poucos porque raramente lá vou) dias de embarque em que por vezes fico a olhar à volta os que partem e os que ficam, os que dizem adeus, os que tentam conter as lágrimas ou o medo (como eu) com 1 sorriso forçado e uma calma ainda mais forçada, ou quando chegam... os que os aguardam ansiosos e saudosos, os que não têm ninguém a aguardá-los, os que nos abraçam, os que respiram de alivio, os que já pensam noutra partida e... aquele que me tocou especialmente porque tocou o filho com 3 dias e beija-o agora com 6 meses... escolhas... a vida é feita de escolhas de vai-e-vem, de bom e mau, de perda e ganho, de lágrima e sorriso... talvez por isso não gosto muito de ir ao cais... apesar de gostar tanto... contraditório, não é?! :)

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  4. Olá escarlate,

    É!... Chega a parecer contraditório. E estranho se por momentos nos limitarmos a observar "exteriormente"...

    Um beijo

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  5. A todos os possíveis puzzles falta sempre uma peça, e só sabes disso quando lá chegas e vês que afinal és tu.

    (A ver se não me esqueço que disse isto...)

    Abraço

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  6. Pois, pois!... Tens de achar o puzzle onde a peça em falta és tu...

    ;-))

    Abraço

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…Escrevo, principalmente, por falta de espaço dentro de mim para tantas emoções e tão grandes, para mim. Nos comentários, fico com a sensação de que os pingos de emoção que transbordo, caiem em "terras fecundas" e coadjuvam o nascimento de novas emoções, produzem opiniões, contra pontos e desafios… E isso, isso é “geleia real”, para as nossas vidas…

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