sexta-feira, 30 de julho de 2010

Hoje, principalmente, a "Conversa da treta" continua!...

Muito obrigado António...
Até sempre!...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Só posso cheirar muito mal!...

Ontem, enquanto carregava uma considerável quantidade de caixas nas mãos, ia a entrar para um dos edifícios em pleno "Marquês do Pombal", no centro da cidade de Lisboa, quando o sapatinho do menino escorrega na pedra polida do degrau da entrada, e eis que, o menino dá três piruetas e dois mortais, estatelando-se no meio da bela calçada lusitana, rodeado de trinta e seis pequenas caixas de cartão.
Se é certo que efectivamente de modo algum me magoei, também é certo que o máximo que obtive dos vinte ou trinta compatriotas que assistiram ao número de circo, foi umas risadas e uns chutes numas caixas que ficaram a estorvar o esvoaçante andar de uma bela menina. Ninguém, mas rigorosamente ninguém, esboçou o menor gesto de ajuda a levantar-me ou a apanhar as ditas caixas!...
Isto só pode querer dizer uma coisa... Só posso cheirar muito mal!...

© Mário Rodrigues - 2010

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Para mi niña Lita del Carmo



Já a feiticeira Lua espreitava quando de ventre de mãe "jorraste". Senti-te a chegada no clamor da vitória...

Qual gata independente dengosa exibes teus olhos negros de menina
Águas fartas selvagens caídas, teus negros cabelos, fios de vida e de força

Mi niña...mi niña...

Rio de esperança, irreverência pura
Firmamento de estrela das noites de Sol

Em ti trina cordas de aço às mãos de...um alegre cigano
Não deixes que de teus olhos saia a alegria

Rosto pleno, toque veludo, morena cor
Não deixes que de teu corpo saia a primavera

Não deixes que jamais me não lembre o que sentia

Mi niña...mi niña mia...
Mi niña...mi vida...

© Mário Rodrigues - 2010

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Voavam vindos...do sul...

Voavam vindos...do sul...ou talvez mesmo de norte ou do leste...
Voavam; companheiros, guerreiros e amantes...
Voavam por entre brisas que os acariciavam como mãos "voludas" de mãe mulher... Terna fúria de ventre quente...de mãe querida e desejosa!
Voavam, voavam...voavam...voavam...
Tão perto, ao longe; terra imensa doçura plena no coração uma estrela fez brilhar...
...juntos num só encarnaram num novo voar!
Rebelde e audaz de rompantes enérgicos que em picados voos aterrorizava os pedaços de terra saltados no encalço de tal fúria de vida. A vida estava-lhe nos caninos como faca exibida e rosa rubra afrontada...

...Tinham voado até ali... Agora com urgência viam as habilidades exuberantes e perigosas daquele raio de vida... Raio bento de desconhecimento da dor das veredas cravadas no dorso e na alma...

...Mas isso agora nada importa! O raio de vida, por eles encarnado num novo voar...voava, voava, voava...voava...

© Mário Rodrigues - 2010

domingo, 18 de julho de 2010

Resposta de Cybe a Aviãozinho de papel...

Este, é um texto publicado pelo meu amigo CybeRider em "O primeiro voo do albatroz", em resposta ao meu anterior. A importância e o valor humano e sentimental dele, exige que eu lhe preste honra, publicando-o aqui no Recanto. Entendo que estes dois textos, o meu e posteriormente o dele, em conjunto formam uma grande interrogação à existência do homem.


"Ao Mário Rodrigues que encontrou um aviãozinho de papel


Um dia peguei nele e deixei-o sozinho no meio do mundo.


Já não havia a minha força a embalá-lo e a subtraí-lo à chuva. Voltei para as coisas, simples, pequenas e fugazes, como penugem, a recordar-me que todo o significado da minha vida estava ali para trás, a cada metro de cada quilómetro que ia somando a noite à distância, se pudesse ter olhado para trás já não o veria, nem conseguiria prosseguir. O caminho árduo que conduzia ao meu destino embaciava-se agora com frequência. Finalmente parei, a uma distância que, por segurança, já tornava difícil o retorno. Parei, esfrangalhado.


Foi assim que ele abriu as asas e voou, pela primeira vez. Foi dos dias mais tristes da minha vida, e no entanto a felicidade teria mais lógica, a irracionalidade é por definição inexplicável. Ainda sinto que fui eu quem o empurrou do penhasco, embora todos me digam que não, que aquele acto de pura loucura foi o que havia a fazer, que isso era o bem, a norma, afinal . As asas, essas, eram só dele. A fé no seu voo terá sido minha, minha... Que nem sou um homem de fé. Onde arranjei a coragem? E se ele, a meus olhos implume, não tivesse conseguido? Que tremenda imprudência! A única, a fundamental. Todas as outras são brincadeiras a comparar com aquela cedência que cumpri sem reflectir. Se reflectisse ele não voaria, talvez nunca, e um dia já não saberia voar sozinho.


Mudou-se o centro do universo, que antes via agarrado ao meu umbigo, mas agora só posso imaginar. As primaveras deixaram de ser só uma vez por ano, mas os invernos também. No entanto recordo que também eu abri um dia as minhas asas frágeis e me atirei desse penhasco, esfrangalhando, como compreendo agora, tudo e todos.


É a sina de quem não conseguiu transformar o mundo num lugar seu, de quem se limitou a construir um pequeno quadrado inóspito e dependente. Culpei-me, naquela paragem forçada, por cada passo mais imprudente e por cada decisão mais conformista e inerte. Se, se, se... Tantos ses que me davam a possibilidade daquela partida precoce poder ter sido adiada, e todos a colocarem-me no cerne daquela consequência. Nenhum sofrimento por antecipação que me tenha ocorrido me aliviou sequer um pouco do peso que, embora não se compreenda, acaba por se carregar, porque deriva de termos falhado na conquista suficiente do reino onde a nossa lei seria a medida da protecção que queremos para o nosso clã, que entregamos assim aos verdadeiros senhores do universo, e às suas questionáveis leis, que nos submetem também a nós.


Compreendo que é essa vassalagem que me consome, como nem consumiu Abraão ao entregar o seu filho a um deus. É uma troca injusta porque nada tenho a pedir que me sirva, nem protecção divina que houvesse, porque toda a que quero é só para ele, nada justifica tamanho desequilíbrio. Naquele momento entreguei ao incerto o somatório de tudo o que fui e a continuidade que justificará, para o bem ou para o mal, o pó em que me tornarei.


Passa um ano e outro, cada um não me apazigua a saudade que sinto de cada vez que ele inicia um novo percurso, ainda no momento da partida; nem o temor do momento em que o vejo tentar cada nova aterragem por que anseio, ainda bambaleante, depois de cada longa permanência perscrutando o céu infinito, que apenas adivinho.


Voltando ao ponto de partida, é a penugem que já não consigo olhar. Tudo permanece como que a aguardar que o tempo se inverta e que ele volte para brincar com as quinquilharias desvalidas que para mim são autênticos tesouros, fechados naquela arca, que chegou a ser um quarto, agora mero poleiro, de onde desejo, com frequência, perder a chave de vez.


A esperança que resta é de que a sua liberdade, que muito me apraz, lhe dê, a ele ou aos descendentes, a possibilidade de zelar melhor pelos seus e pelo seu universo, para que não tenha de abandonar um dia no meio do mundo alguém que seja parte integrante de si. Mas sei que peço o inexequível.


Sendo essa provação absoluta e incontornável, sei que no dia da dele, esteja eu morto ou vivo, também assim me realizo.


© CybeRider - 2010"

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Uma grande festa, nas terras destes lados...


Nas terras destes lados, foi organizado um festim com o intuito de me imolarem.
No entanto, esqueceram que o candidato a carcaça teria de estar presente.
Toda esta cerimónia foi preparada há já alguns tempos, mesmo antes de eu nascer. Incauto transeunte, fui rematado por poucos cobres e nem uma vénia me fizeram.
Não me ofereceram o cachimbo da paz, ainda que cianeto houvesse na fornalha.
Com escárnio me foram entregando as charretes para que gentilmente as arrumasse.
Em todas as nomeações fiquei a ver de fora, das mesas nem as migalhas me tocaram e só sou escutado no fio da faca.
Escroques mostrem os vossos rostos, digam quem são os responsáveis por nós vivermos assim!
Déspotas, escancarem as vossas tramas expliquem as vossas manhas e os que com elas beneficiam!
Nas terras destes lados, dancei na mesa nu e na liga não obtive notas.
A mim não me subornaram, nem em troca de traição no terreiro fui aclamado.
Pelo preço do pão dos meus filhos querem que como um cão marioneta, abane a cabeça que sim.
Quem são vocês, os filhos de mães gentis criadas, que das entranhas tais merdas pariram.
Pois então podem-se preparar para no festim a carniça disputarem com olhos que nunca viram.
Não esqueçam no entanto, que muito antes do meu pranto, já os vossos companheiros com os olhos cravados nos vossos lombos, o vosso couro pedirão.
Escroques mostrem os vossos rostos, digam quem são os responsáveis por nós vivermos assim!
Déspotas, escancarem as vossas tramas expliquem as vossas manhas e os que com elas beneficiam!

© Mário Rodrigues - 2010

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Aviãozinho de papel...


Apesar de muitas vezes o procurar no meio dos outros discos para ouvir, não era o caso de hoje. A Jukebox estava em modo aleatório e a música anterior tinha sido Led Zeppelin. Estava a cantar Antony and the Johnsons e eu estava a arrumar um monte de papeis que pediam organização há já alguns tempos... No meio da papelada, apareceu-me um aviãozinho de papel. Uma folha de caderno pintada com lápis de cera às riscas e quadrados de muitas cores... Peguei nele e abri-lhe as asas, no interior tem escrito...
"FELIZ DIA DO PAI"
Suou-me como se fosse um grito...
...Sem qualquer controle saltam-me lágrimas dos olhos! Choro quase compulsivamente! Penso que...parece que sou parvo!... Tenho os meus filhos na sala do lado, autores desse mesmo avião, saudáveis e felizes e choro porquê?... Depressa descubro que choro só porque gosto deles e sei que um dia terei saudades deles, por qualquer razão normal das nossas existências. Nesse dia, decerto que lamentaria não ter guardado este aviãozinho de papel feito de uma velha folha de caderno e pintada a lápis de cera... Assalta-me a mente um pensamento! Os meus pais, saudáveis e felizes que estão, terão com eles algum aviãozinho de papel que um dia eu tenha feito? Porque saudades eu sei que eles têm, seja por horas ou dias como eu, mas...
...está a cantar a Lina Avellaneda; um belo tango...como a vida...

© Mário Rodrigues - 2010

sábado, 10 de julho de 2010

Nas viagens desconhecidas...


Nas viagens desconhecidas, pergunto-me como será por lá enquanto estou cá. Ansiaria eu que um abraço apertado me esperasse à chegada. Ir sem saber para onde, tem tanto de tentador como de...fio de lâmina fria em dorso hirto. A possibilidade de me ser permitido arrepender e voltar para trás poder-me-ia acalmar. Todos os dias no cais de um porto de mares conturbados, o ciclo ininterrupto da vida não pára com pessoas a chegar para ficar e outras a partir para não mais voltar. Alguns embarcam mas queriam ficar, outros queriam ir mas cá terão de estar. Alguns acabados de chegar, com medo querem se ir, são recebidos por outros a sorrir. Alguns estão só a observar, outros limitam-se a, no cais em círculos, caminhar. Há mesmo alguns que ninguém os recebe e ficam a chorar. Vejo neste cais a azáfama de chegar e partir como pontas de uma mesma viagem que muitas chegadas tende, como tantas partidas terá. A barcaça que está a chegar é a mesma que vejo já no horizonte de partida. O momento em que a prancha a liga ao cais alia as chegadas às partidas, os risos aos choros e as euforias às despedidas. Eu sou só mais um destes viajantes, sem saber o ponto em que me encontro. Quero ter acabado de chegar estando pronto para a partida...

© Mário Rodrigues - 2010

A dama de... veio ao BO...


Esta madrugada a cena repete-se... Não! Não é a segunda, nem terceira, nem...
Volto a dar um pontapé no puzzle que se vai montando muito lentamente e por em causa coisas que nestas alturas doem de um modo profundo e prolongado...
No entanto desta...algo foi diferente!...

Tudo corria na aparente normalidade rotineira, bom clima, bom texto, escrita porreira... Ouvia-se “Ana Moura”…… 45 minutos. Paragem. Rea.30 minutos. Paragem. Rea, e,e,e…….Instala-se o caos sincronizado e normal para o caso, pressinto uma presença!... Já vi este filme!... Sinto-me estranho e procuro a "dama de negro flutuando…" os movimentos tornam-se perpétuos, e estranhamente retardados. Vejo um rosto, entubado, esboçar uma impossível expressão sorridente!?...

Sem qualquer pudor arranca-nos das mãos o seu tributo…

Mas não foi a "dama de negro"!... Fosse o que fosse era branco! Muito branco! Equacionei a possibilidade de se estar a ver alguém a chegar! Alguém de quem se tinha muitas saudades e se estava muito feliz por voltar a ver!...
Hoje não sei o que lhe chamar…depois; a cruel trova do…”hora do óbito: quatro horas e dezoito minutos do dia………..” Hoje vim para casa e não fiquei a andar pela cidade vazia com as janelas abertas…outra vez.

Estes anos...

© Mário Rodrigues - 2010

A outra dama: http://recantodossuricates.blogspot.com/2009/07/dama-desceu-ao-bloco.html

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Mas... O que eu gosto mesmo é...


Mas... O que eu gosto mesmo é de Dodó!...

Principalmente se poder contar com a companhia do Anthony Hopkins e assentados debaixo de uma alfarrobeira conversarmos de temas que nos são queridos como a constituição fecal dos ornitorrincos dois meses após o cio... Já sei que Santo Anselmo vai argumentar que duvida que esses bichos tenham tal coisa... Ainda se fosse um desejo inexplicável e incontrolável que os impulsionasse a perpetuar a espécie!...

Epá!... Está bem!...

© Mário Rodrigues - 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Os que da escrita se enamorarem...


Tal não poderia continuar! Tigre e Eufrates eram testemunhas de que algo teria de mudar... A primordial idade Suméria exigia que por terras da Mesopotâmia uma nova aurora aparecesse...

Enlil, senhor dos ares, ainda sem esposa, um dia vislumbra a beleza sedutora de um corpo de mulher. A deusa Sud.
Os seus longos cabelos e formas belas logo despertaram em Enlil o desejo de a desposar. Ao pedido de que o seguisse, Sud responde prontamente que não.
Enlil compreende então que Sud não prescindiria de um pedido público e formal de casamento, em que todos os Suméris fossem testemunha.
Nusko, obediente e dedicado pajem de Enlil, sai em busca da mãe da jovem deusa com o objectivo de lhe transmitir o desejo de seu amo.

- Pois sabei, senhora, que meu amo o grande deus Enlil, pretende desposar sua filha a deusa Sud. Se assim acontecer, ela viverá com ele no palácio, sendo que a ela pertencerá o poder sobre o destino dos homens e distribuirá os poderes pelos deuses. Terá o nome de Ninlil e o amor por ela será entregue.

Tendo a mãe de Sud consentido o casamento, Enlil, felicíssimo, envia centenas de presentes à sua noiva Sud.
Elefantes, ursos, e cervos, vacas, ovelhas e macacos, gazelas, carneiros e auroques, atravessam a cidade num desfile interminável até às mão de Sud, que terna via chegar frutas, mel e queijos bem como ouro, prata e pedras preciosas...
Consumado o casamento e a noite de núpcias passada, Enlil, encantado resolve mais e novos poder à sua esposa dar...

- No dia de hoje começará nova era. Tu, Ninlil, minha esposa passarás a ser a deusa do amor e dos nascimentos, observarás o trabalho de parteiras, cuidarás que nos campos os grãos germinem e de igual modo iluminarás os que da escrita se enamorarem...


© Mário Rodrigues - 2010

Centelhas cintilantes de luz gelada...


Gotas, gotas, gotas; muitas gotas de cristal...

Ontem, sem esforço e pela acção da brisa, acordarei... Acordarei de um sono que nem pesadelos nem sonhos terá. Acordarei suavemente, precedido de uma expiração demorada que culminaria com a inspiração de centelhas de luz branca...no acto de em nada actuar.
Ontem, quando eu despertar chegar-me-ei à beira da pétala única da flor do jarro e de lá, com os olhos fechados, veria o ponto infinito de onde "desconvergem" as centelhas cintilantes de luz gelada. Elas dirigir-se-iam a mim em movimentos cónicos e de trajectória indefinida. Inspiraria, daí, dessa beira, nada porque nada haveria à partida...

Amanhã, quando terminou a noite que não começou, apesar do aparecimento do segundo sol que permitiu o alinhamento aleatório, fruto das regras inaplicáveis, dos astros, eu que era muitas pessoas teria tido a oportunidade de em pequenos actos microcósmicos, prever que um dia assim será!...
As centelhas virão até nós e perguntar-nos-ão se o vácuo das nossas vidas teve alguma cor...
...perguntar-nos-iam se está na hora de acordarmos!...

© Mário Rodrigues - 2010

terça-feira, 6 de julho de 2010

Aviso à navegação...


Este blog é um local que metamorfoseia linhas transversais com outras paralelas das minhas vidas... Assim, sinto necessidade e dever, de dar algumas satisfações às pessoas que me vão lendo neste recanto. As já centenas de post's que aqui vão sendo publicados são geralmente fruto de reflexões minhas, quando assim não é, estão identificados com os respectivos autores. Por hábito e não só, muitos dos meus textos são escritos, estando eu a "tentar" simular uma reflexão de outrem acerca do assunto. Assim, muitas vezes, afirmo, defendo e declaro coisas em textos, que na realidade estão muito longe das minhas opiniões e convicções... Se isso em si já não constituísse um suficiente grau de ambiguidade, também por hábito e não só, o sarcasmo e a ironia proliferam com muita abundância... Chamo a atenção para as etiquetas que em geral dão alguma introdução aos textos. Se objectivo há nos meus textos, ele é sempre interpelar consciências e interrogar, nunca ofender ou desrespeitar quem quer que seja.

Muito obrigado. Mário Rodrigues

sábado, 3 de julho de 2010

O problema é que...


O problema é que tu sorris-me e eu gosto!

Realmente, barbeei-me antes do duche, perfumei-me e vesti uma roupita "janota", preparei-me e saí quando o cão me veio "cumprimentar", e sujou-me todo e deixou-me cheio de pelo e "smell"!
Realmente, encravei-me no meio do trânsito e cheguei atrasado!
Realmente, perdi o "post-it" onde escrevi o local do encontro!
Realmente, quando cheguei ao carro tinha dois pneus furados!
Realmente, está um gelo e parece que as unhas me vão cair!
Realmente, a fazer a barba cortei-me, já sujei duas camisas e ainda está a sangrar!
Realmente, não "engoli o sapo" e por um murro na mesa perdi um bom negócio!
...
O problema é que tu sorris-me e eu gosto!
Vamos ser felizes e ter um pequeno rebanho!... Eu aposto!

Realmente, está montes de gente desempregada!
Realmente, o 25 de Abril podia ter sido melhor!
Realmente, as guerras são sempre uma enorme estupidez!
Realmente, o dez de Junho e o cinco de Outubro são relativos!
Realmente, no autocarro roubaram-me a carteira, mas que hei-de eu fazer!
Realmente, desde o dia que nascemos que sabemos que vamos morrer!
Realmente, já nem ligo às calúnias, promessas e pisadelas!
...
O problema é que tu sorris-me e eu gosto!
Vamos ser felizes e ter um belo rebanho!... Eu aposto!

Realmente, armo-me em mau e faço birra, ainda que isso seja parvo!
Realmente, eu sei que hoje vens tarde, mas já estou a olhar para a porta!
Realmente, acho que aquela árvore está no lugar errado porque faz sombra à minha toalha!
Realmente, por vezes acho que tudo o que é chatice cai-me em cima!
Realmente, estas coisas podiam-me chatear, aborrecer e fazer infeliz!
Realmente, não ignoro estas coisas todas que me esbarram no nariz!
...
O problema é que tu sorris-me e eu gosto!
Vamos ser felizes e ter um enorme rebanho!... Eu aposto!


© Mário Rodrigues - 2010

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Enfim, este é o Deus que me convém!...


Isso?... Isso não é nada!... Aliás, tu nem sabes o que é!
Jamais serás iluminado pela luz plena, inebriante e penetrante que enche inteiramente a tua existência redundante. A do meu Deus!...

Havia vários, no entanto fiquei com este, porque este é o que mais me convêm!

...Este:

Mata os ímpios
Destrói os infames
Castiga os que me incomodam
Devolve-me as riquezas
Abunda-me com deleites
Castiga-me no rancor do remorso
Apascenta a minha ganância
Justifica os meus crimes
Fundamenta a minha crueldade
Justifica a minha estupidez
Castra-me a vida
Alegra-se na minha conspiração
Auxilia na ambição e mais, muito mais...

Se sofro é ele
Se tenho fome é ele
Se meu filho morre é ele
Se corro é ele
Se durmo é ele
Se vilmente me iludo é ele, mas não só...

Quando mato é por ele
Quando usurpo é por ele
Quando castro é por ele
Quando privo é por ele
Quando minto é por ele
Quando desrespeito é por ele
Quando intransijo é por ele
Quando a verdade altero é por ele
Quando da ingenuidade me aproveito é por ele
Quando da boa-fé abuso é por ele...é assim porque está escrito,

Nas palavras que escrevi
Nas verdades que encobri
Nas mentiras que defendi
Nas realidades que alterei
Nos monstros que pari
Nas jugulares que cortei
Nos corações que feri
Nos inocentes que queimei
Nos movimentos que bani
Nos obedientes que mal tratei
Nas virgens que violei
Nos homens que matei...

...Enfim, este é o Deus que me convém!...

© Mário Rodrigues - 2010

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Anúncio: "Precisa de pena"


- Deixem-me passar! Quero entrar! Vá lá, cheguem-se para o lado! Vão falar para mim e eu tenho de ouvir!...

Alguém, no alto da tribuna, tosse e prepara a garganta para falar. Beberica um pouco de água e alinha o casaco. Segura algumas folhas de papel que nada tinham escrito e bate com elas de topo...

- Atenção!...
...
- Atenção! Venho hoje aqui para solicitar que tenhamos pena! Pena de nós próprios e também, não esquecer, de nós mesmos!
...
- Nós, deploráveis desprezados do cosmos, fruto dos grãos de trigo que caíram no meio dos áridos seixos, germinando em forma de fracasso, que muito lutamos para nada almejar, a menos que de mesquinhas estupidezes se trate ou de uma ou outra inveja tacanha. Nós que não mudamos nem quando morremos, não nos desperdiçámos com amores porque os felizes contra nós conspiram, e esvoaçamos como melgas e borboletas da traça, em redor de uma lâmpada à noite... De nós ninguém se lembra!... Teremos todos de, em lamuriosos brados, afirmar que somos coitados e pedir que tenham pena de nós!...

A plateia, completamente envolvida por aquelas palavras sábias, sem vacilar um instante que seja, grita em uníssono:

TENHAM PENA DE NÓS!...
TENHAM PENA DE NÓS!...
TENHAM PENA DE NÓS!...
...
- Atenção!...
...
- Vêm-nos dizer para nos deixarmos de ser ignóbeis e traiçoeiros! Pedem-nos para abandonarmos a cobardia e a mediocridade! Dizem!... Atrevem-se a dizer que deveríamos procurar ter magnificência, bravura e audácia! Que deveríamos substituir as "naftalinas" por brisas do mar!... Do mar!... Vejam só! De em vez de nos lamentar deveríamos sonhar e trabalhar!... A loucura é tal, que nos pedem para lutarmos por um mundo melhor!... Ahahahaha!!!...

TENHAM PENA DE NÓS!...
TENHAM PENA DE NÓS!...
TENHAM PENA DE NÓS!...
TENHAM PENA DE NÓS!...
TENHAM PENA DE NÓS!...
TENHAM PENA DE NÓS!...
TENHAM PENA DE NÓS!...
...

© Mário Rodrigues - 2010

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