segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sim, latas de conserva com óleo queimado dos carros


"Adeus! Até amanhã!"
"Adeus Mário..."
"O Dr. Ângelo alterou-te a medicação?"
"Não! Diz que estava tudo a ir bem e não era preciso."
...
...
"Olá! Então como vai isso?"
"Olá Mário, bom dia!"
"Dormiste bem?"
"...Sim!..."
"Que sim estranho!..."
"...Tive um pesadelo..."
"Outra vez?"
"Não!... Quer dizer sim mas este foi diferente...acabou bem!..."

"Ai foi? Queres falar disso?"
"Sim! Estava à tua espera porque queria falar-te de...umas coisas..."
"Estou a escutar!..."

"Havia latinhas..."
"Latinhas?"
"Sim, latas de conserva com óleo queimado dos carros. Punha uma em cada pé do beliche para os bichos não me subiram para a esteira. Já me bastava o cabrão de cima que berrava a noite inteira e acabava sempre a mijar-se todo e a mim que estava por baixo. Um dia fudi-lhe um dedo com um...
Numa noite...acho que era de dia mas estava tudo muito escuro e eu não conseguia ver nada. Havia umas coisas ao alto, muito grandes e finas e tinham braços. Os primeiros passos...demorei alguns segundos a dá-los porque não via o chão. Depois corri, corri e cavalguei e galopei e devorei a terra e o mato numa velocidade alucinante até bater numa parede e cair. Levantei-me palpei a parede que tinha cerca de oitenta ou noventa centímetros. Não hesitei pus-lhe a mão de cernelha e saltei-lhe por cima. Tinha muita pressa...

AHAHAHAHAHAHA !!!

Do lado de lá deveria ter uns três metros de altura e eu senti-me cair para o inferno...

Estava tudo negro! Negro muito escuro! Dentro de uma...jaula havia uma merda de uns bichos que se movimentavam muito rápido e gritaram muito... Pareciam umas coisas negras...panteras! Isso, panteras que andavam com as patas da frente no ar. Com a faca rebentei logo com uma e com um arame amarrei-a a um tronco. A outra...atei-lhe a patas da frente no alto. Ela, com as patas rasgou-me a roupa enquanto sangrava não sei porquê! Com o saibro rasguei-lhe a pele, senti-lhe o cheiro e o sabor do sangue... A outra rosnava um rosnar odioso. Implorava cânticos selvagens... A esta senti-lhe vida no ventre...
...existia outro monstro dentro dela... Caí... Vazio... Sem medo nem pavor!
Com a faca abri-lhe as entranhas, arranquei uma cria que deixei no chão a berrar para os outros comerem..."

"Porra!... Meu Deus!...
Queres contar mais?"
...
"Não!... O resto não interessa. Escuta-me outra coisa tens visto a Dra. Zilda?"
"Sim! Ainda há pouco a vi!"
"Gostava de a ver..."
"D. Maria! Pode chamar a Dra. Zilda por favor que o Sr. Machado queria falar com ela, por favor?"
"Sim Mário vou já!"
...
"Mário, ela é uma grande médica! Não é?"
" Sim! Penso que sim! E também tem um lindo rosto canela!... É uma mulher muito bela!"
...
"Olá Mário!"
"Olá Dra. Zilda! Como está?"
"Está tudo bem...vamos andando nos nossos trabalhos!..."
"Então Sr. Machado quer falar comigo?"
"Olá Dra. ...Zilda..."
...
"Sabe Dra. Zilda, contaram-me umas coisas sobre a sua terra e...outras coisas...sobre...
Sinto uma labareda caustica que me corrói e abre buracos por onde não sai nada...só jorra medo e dor...
Perdão! Não vale a pena! Mesmo que o obtivesse de si, de Deus e até do inferno... Nunca o obteria de mim... A sua mãe...era...linda!...nunca pagarei o que fiz..."

Atónitos assistimos a um movimento brusco e calculado há muito, decepou com um pedaço de vidro a carótida interna...

© Mário Rodrigues - 2010

1 comentário:

  1. Epá! Que coisa inquietante, mas como já vi que tem seguimento, deixa-me lá saltar lá para cima.

    Até já Mário

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…Escrevo, principalmente, por falta de espaço dentro de mim para tantas emoções e tão grandes, para mim. Nos comentários, fico com a sensação de que os pingos de emoção que transbordo, caiem em "terras fecundas" e coadjuvam o nascimento de novas emoções, produzem opiniões, contra pontos e desafios… E isso, isso é “geleia real”, para as nossas vidas…

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