terça-feira, 27 de outubro de 2009

Queria que hoje fosse um dia importante

Queria que hoje fosse um dia importante na minha vida... Queria que hoje, numa soma decisões plenas da inexistente liberdade, mas temo que esta intenção, só por si, sirva para boicotar tudo o resto, decidisse decidir, deixar de dar guarida a uma enorme; enorme demais, montanha de porcarias que me tornam o arrasto abrasivamente aderente ao meio...

© Mário Rodrigues - 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

Duas lembranças!

Na casa das minhas tias-avós, em plena Serra do Açor, existia um cubículo, que como porta tinha um pano, e que tinha um buraco redondo no chão. Esse buraco, dava directamente para a corte dos porcos. Se bem que enquanto as nossas necessidades fazíamos, víamos o pobres animais a olharem para nós, ou pelo menos para a parte que eles podiam ver, pelo menos, era raro por aqueles lados o uso dos penicos, com os quais, nunca simpatizei; mesmo nos tempos em que se tinha de ir para o meio do mato, fosse à hora que fosse.

A segunda, quanto a mim, sempre me foi muito estranha. Na Lisboa antiga, em pleno Bairro Alto, numa casa onde o meu avô materno vivia, existia uma, apelidada de "pia de despejos", onde realmente se despejava tudo, mesmo tudo; inclusive servia de sanita. O mais estranho, é que a tal pia estava numa parede onde de um lado tinha o lava loiças e do outro um fogão...Pois certo. A pia estava ao meio...Imagine-se uma diarreia em qualquer dos elementos do agregado, durante a confecção dos repastos...

Realmente, ainda há muito pouco tempo, os conceitos de higiene eram...


© Mário Rodrigues - 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Não era cedo; mas também já não era tarde!

Não era cedo; mas também já não era tarde! A luz era esbatida nas estepes, e frio regelava os pensamentos.

Onde estariam naquele momento? Que estariam a fazer? E ela? Aquela boca, o corpo, as ancas, os seios, as pernas...Seriam ainda, paisagens da sua exclusiva contemplação? E porque haveriam de o ser?

A saudade misturada com a solidão, formavam uma pasta cinza podre, pegajosa que se ladeava no corpo e nos membros, provocando sucessivas quedas pelo torpor no andar dos pensamentos.

A sua existência doía. Doía-lhe mesmo muito existir!

Os dias foram se transformando em coisas miseráveis, que nada tinham de desejado. O urso que sacudia toda a casa, casa...; o urso, com as patas, partia pedaços a cada impacto; desejoso, selvagem, brutal...quando ainda havia cheiros...Era a sua única visita... Mas desde que o ultimo pedaço de gordura de foca se extinguiu... Deixou, sim, deixou de aparecer.

O couro das botas cozido em neve na chama de querosene, foi o último manjar...

Lá fora...branco, muito branco!

Que quente que está o seu ventre... Acabara de lhe beijar os seios, muito suavemente, eles, dormiam já...hoje teria vergonha de fazer amor com ela...está impuro; mas por dentro. Nada fez de condenável, mas sente-se degradado.

Não era cedo; mas também já não era tarde! Talvez, de manso, ela se aproxime. Talvez, sem dor, o acolha. Talvez sedutora o envolva...

Lembro-me de a ver chegar, lenta, discreta, poderosa. Lembro-me de a desejar. Lembro-me de lhe não resistir. Lembro-me de o último suspiro expirar...

Não era cedo; mas também já não era tarde!

© Mário Rodrigues - 2009

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Levi’s e D&G a 500mg...

“...contrafacção de comprimidos?”, “Sim. Não sabias?”, “Então mas isso é como as calças e os perfumes, queres ver!?”, “Pior!”, “Pior porquê?”, “Porque mata pessoal e as calças e os perfumes não!”, “Estás parvo! Explica lá essa!”, “Queres mesmo?”, “ Deixa-te de cenas...”, “Ok! Está bem.”

“Então imagina o seguinte: “, “O quê?”, “Eu tenho um grande laboratório de medicamentos, pago uma fortuna a uns tantos cientistas que trabalham num laboratório que eu paguei, e que me custou outra fortuna. No entanto não estou muito chateado, porque logo que os meus cientistas desenvolvam uma determinada droga, eu vou regista-la e ao abrigo da legislação internacional, vou explora-la em exclusividade durante oito anos. Eu como tenho de recuperar o meu investimento, marco esse produto e vendo-o no mercado com uma margem de 1800%, durante o período em que só eu o tenho. Certo?”, “Épa... Certo...”, “Ok. Continuando. Durante esses oito anos como tenho de demonstrar que a minha droga, é excelente, procedo à sua produção, exclusivamente na minha fábrica, com os meus melhores técnicos e com matéria-prima de qualidade e síntese de primeiríssima qualidade, vigiada e controlada constantemente.”, “Porreiro, ainda bem! Assim é que deve ser, não é?”, “Sim, claro. Deveria ser sempre assim!”, “Deveria?”, “Sim. Deveria. Mas não é! Durante esses anos, as matérias-primas mal sintetizadas, deterioradas, estragadas nos transportes, rejeitadas nos controlos de qualidade, etc, etc...”, “Foram destruídas, claro!”, “Não, Nem por isso! Foram armazenadas na Índia e arredores, nuns armazéns de umas indústrias que foram desmanteladas e que parecem estar abandonadas...”, “Para quê?”, “ Espera, uma coisa de cada vez! No final dos oito anos de exploração exclusiva, as coisas mudam de figura! A fórmula descoberta pelos meus cientistas, passa por força da legislação internacional, para o domínio público, devido ao seu interesse para a sociedade. Aí, desço o preço do meu original para um terço, lanço através dos média em que sou accionista, algum descrédito controlado sobre a passagem da droga para o mercado de outros laboratórios e descredibilizo completamente o mercado dos genéricos, apelidando-os de contrafeitos ou de proveniência duvidosa”, “Pois, mas se eles não fazem as coisas bem?”, “Eles quem?”, “Esses gajos dos genéricos!”, “Espera, deixa-me explicar-te. Em primeiro lugar existem laboratórios de genéricos que laboram em perfeitas condições, tão ou melhores que os de marca. Depois esses outros gajos, são micro “laboratórios” artesanais de vão de escada que existem milhares na Índia, China, Koreia, Países Médio Oriente, Bangladexe e outros, mantidos graças a fundos meus e de amigos meus, tais como outros accionistas de outros laboratórios, rapazes porreiros do tráfico, e industria encoberta do mercado “extasi”. Quando um produto passa para o mercado livre, todos o querem ter mais barato. Assim são feitos concursos/leilão, em círculo altamente secreto para encontrar/adjudicar a produção de uma droga X, a um desses “laboratórios”, sem controlo, de qualquer tipo, com mão-de-obra escrava, por vezes a troco de uma “dose” para o dia, e em que política ambiental e outras, são megalomanias ocidentais. Depois agarra-se a matéria-prima que esteve armazenada e anteriormente rejeitada, mistura-se com substâncias compatíveis e de baixíssimo valor comercial, cujo melhor é o amido de trigo e arroz, mas que também passa por sal-gema, cal, gesso, talco e outras...Faço os comprimidos, dos formatos e cores que me forem encomendados, depois são vendidos a granel às toneladas em leilões cujos licitadores são a industria de blisterização e embalagem e mais tarde introduzem em lotes mistos esse produto no mercado.”, “Mas isso é de loucos!...”, “Achas?”, “Agora imagina que durante uma investigação, os meus cientistas descobriram, por “acaso”, um antigénio que poderia vir a dar uma droga de imunização profiláctica (vacina), porreira para uma pandemia...”, “Sim...E o que é que isso ia dar?”, “Uma extraordinária possibilidade de ganhar dinheiro! Tendo o antigénio, é muito fácil sintetizar um agente infeccioso, depois... Está visto meu amigo, produz-se e distribuí-se no target desejado. Mistura-se nos comprimidos maravilha que estávamos a produzir, ou nas pastilhas, ou na coca que segue para a distribuição, ou no leite em pó dos putos, ou então; também podemos por na ração de uns porquitos num país cujo controlo sanitário seja, digamos... Ligeiro ou ainda nos coktails de hormonas com espermatozóides de inseminação artificial dos frangos, vacas e porcas, etc...e esperar algum tempo...é a gestação...Quando aparecerem os primeiros infectados, voila, eu sou um gajo que não só tenho a cura como a vacina e que ainda ofereço a determinados países os medicamentos para salvar milhões de pessoas que infectei, o país dá-me contrapartidas várias, como axilos e identidades renovadas, proporcionando-me a possibilidade de com a cura, estar a espalhar o meu próximo grande negócio...”.

 

“Épa, mas isso é uma loucura! Tu estás doido?”

“Sim, estou! Ainda ontem teimei durante meia hora que era o Marquês de Pombal... “

 

© Mário Rodrigues - 2009

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

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