domingo, 30 de agosto de 2009

...os últimos anos da vida de um homem...

Nestes dias, por aqui, muito se tem falado de um assunto muito importante e sério. Quase que é difícil aborda-lo dada a sua complexidade e multiplicidade de vertentes e realidades.
A velhice, ou antes os últimos anos da vida de um homem, e claro está, falo obviamente e igualmente dos últimos anos da vida de uma mulher.
Em primeiro lugar vou tentar identificar os diversos intervenientes e interessados neste processo e nesta realidade, sendo que posteriormente tentarei reflectir um pouco, sobre cada um deles.
Bem, para já lembro-me de:

• O indivíduo (que não tem de ser obrigatoriamente velho)
• O filho(a), ou o que resta dele
• A família, ou o que resta dela, ou outra coisa ainda que não se sabe exactamente que é
• Os centros de saúde e hospitais na qualidade de prestadores de cuidados de saúde
• As igrejas e as religiões
• Os “lares”
• O estado e os governantes
...De momento não me lembro de mais nenhum...

Pois bem, então vamos lá.

O indivíduo... O indivíduo tem, antes de mais, de querer e se deixar tratar e cuidar, conheço vários casos em que a prepotência e de falta de humildade, inviabilizam qualquer possibilidade de ajuda. O indivíduo, apesar de se esquecerem disso é uma pessoa, como tal, pensa, vive na verdadeira acepção da palavra, com todas as componentes dessa vida, gostos, direitos, opiniões, deveres, personalidade, sexo e repito sexo, história, passado, presente e também, sim, também tem futuro… A ideia de criar uma sociedade paralela, tipo prateleira, para o pessoal velho e outros, foi a pior dos últimos milénios! Permitir que isso renda bastante dinheiro a terceiros, é a garantia para a permanência e disseminação da coisa. A idade não pode ser causa de descriminação, mas antes de inclusão e ainda mais ampla... O indivíduo, tão-somente, deseja e tem o direito de ser amado e respeitado, até depois de ter morrido. No entanto devemos envolver os nossos filhos na nossa vida e na dos nossos pais, de modo a que façamos parte do seu projecto de vida, com a dedicação e respeito que temos para com eles. Educar e criar um filho é muito mais que garantir através de muito trabalho, dedicação e ausência, que nada, mas mesmo nada lhe falta, em nenhum âmbito. Menos PSP e mais salto à corda, menos inglês e mais horta, menos vergonha e mais conversas teenager, descer do altar e saber como andam as namoradas e os dramas da menina gorda que antes de cisne é patinho feio...
Com a impressão de ainda muito haver para dizer, avanço para o filho, ou o que resta dele... Se relativizarmos o termo filho, ao fenómeno de uma vida na sequência da união anterior de duas; não teremos muito a dizer...manutenção da espécie e ponto. No entanto, não me parece que essa definição nos baste. Nós, como os nossos filhos e como os nossos pais, somos o resultado, um somatório, de consequências das vivências e das realidades a que fomos submetidos, e devemos ter isso sempre presente, em relação a nós e aos outros. Todos nós temos os nossos dramas, e eles têm de ser respeitados pelos outros. Muitas vezes esse resultado vem a mostrar-se, desolador, revoltante, injustificado, inesperado mesmo, ou pelo contrário mas também; mas sê-lo-á?! A colheita das tempestades na volta da sementeira dos ventos, poderá deixar algum sabor menos agradável na boca... Não me atrevo a atribuir culpas absolutas aos filhos e ou outros por detrás, e também por dentro destas realidades. Têm-nas, sem dúvida, mas repartidas. Os filhos dos filhos, os cônjuges dos filhos, as prioridades dos filhos, os problemas dos filhos, as vidas dos filhos, as futilidades ou não dos filhos, o apelo comercial de um mercado muito rentável, o tapar o sol com a peneira e deixar para depois essas coisas, sem a consciência de que, a menos que morramos novos, chegaremos a velhos, um sistema de saúde mal organizado, uma sociedade que ao mesmo tempo que pretende ser de excelência, o é de mediocridade e de abandono após a exuberância da floração da vida, são também cicatrizes e as mãos que vão moldando os caracteres e as vidas...
Com a mesma sensação do ponto anterior, avanço na direcção da família.
Bem, essa é uma instituição em franca decadência! A família é para a sociedade e para a civilização, o que a célula é para a vida; a sua unidade por excelência, e que em tudo a contém!
Muito há para falar e reflectir sobre a família. Considerando o eventual início da família no momento da decisão de viver uma vida a dois, surge todo um universo de realidades a explorar e reflectir. Antes de mais, e correndo o eventual risco de julgamentos por parte de terceiros, tentarei reflectir sobre uma família convencional, cuja união pressupõe uma mulher e um homem, mesmo porque não concebo outro formato. Para começar, (e como já escrevi há dias em “amores descartáveis”), as relações têm tomado nas últimas décadas, um carácter provisório e de fim quase á vista, uma relação em que, desde o primeiro dia se considera a possibilidade de se descartar logo que deixa de ser uma louca paixão... Poderá parecer uma opinião redutora e retrograda e sinónimo de insensibilidade, mas á precisamente o contrario. Ninguém pode viver a ponderar a morte, não se pode amar tendo em conta a traição, é impossível a entrega total quando se não é proprietário. As relações conjugais carecem de capacidade de ambos os elementos, para evoluir juntos, para se respeitarem nas diferenças, para chorarem muito e rirem bastante mas juntos, para reconhecerem não ofuscados as virtudes e os defeitos um do outro, para se separarem e descolarem definitivamente dos aconchegos dos ninhos parentais, para dialogar em vez de calar, e digo dialogar, não gritar, para não deixar assuntos a meio, com pontas pendentes, para ser e responder pela verdade e pela sinceridade, para tantas outras coisas que infelizmente, cada vez vou vendo menos nos casais de hoje. Ambos têm a obrigação total e imponderável de tornarem as suas casas no seu lar; a nossa casa só pode ser o nosso porto de abrigo, o cais onde atracamos depois de enfrentarmos as tempestades dos oceanos profundos das nossas vidas, o local para onde corremos quando queremos rir, mas também quando queremos chorar, um local onde não há cedências mas sim espaço para ambos, onde acima de tudo haja muita, mas mesmo muita vontade de ser feliz, e de lutar e sofrer por essa felicidade. Vejo muitos sofrimentos neste mundo por causas tão relativas, será que a nossa família e a nossa felicidade os também não merecem? São muitos os sofrimentos de homens e mulheres, não só para subirem Everestes e Kilimanjaros, para correrem dezenas e centenas de quilómetros por uma medalha, mas também para chegarem a horas aos empregos, diariamente, de quem dependem, para serem profissionais e bons no que fazem, enquanto se preocupam com a renda da casa, com o imposto para pagar, com a doença do filho e também do pai, para terem alegria e frescura para receberem o cônjuge no regresso ao lar, para terem braços e coração para apoiarem e chorarem com o outro nas dificuldades... Tenho visto atletas, de uma grandeza e de uma competitividade imensa; gente que ama a vida e quer fazer dela, única e grande! Esta gente, estes pares, são ninhos de veludo para acolherem novas vidas. Pois sim, neste ambiente, um filho desejado e planeado, rebenta como uma semente bruta em solo fértil, sem medos, sem receios, sem dúvidas porque acima de tudo vêem uma campânula aberta, como se de um estádio se tratasse, que os braços e os cuidados dos pais constituem, e lutam para manter e renovar todos os dias e a todas as horas. Fácil? Nada disso! É mesmo muito difícil! Mas é muito bom, mesmo muito bom!
Um crescimento e educação que contemple o convívio diário e em ambiente familiar das nossas crianças com as realidades e do envelhecimento, parece-me imprescindível para que as coisas mudem de trajectória. As circunstâncias, e não só, porque até as habitações conspiram contra a família, têm feito com que os velhos das famílias se tornem em restos de uma civilização que tudo consome. As nossas crianças, cada vez menos, têm a noção de velhice, não sabem como as pessoas envelhecem, das peripécias e das realidades que envolvem a velhice. Um avô a envelhecer na nossa casa, no seio da nossa família, tem vantagens incalculáveis... Os nossos pais, contidos nas nossas vidas, demonstram a continuidade das vidas e das gerações. Conheço crianças que infelizmente não são poucas, que quando questionadas acerca dos seus avós em idades muito avançadas, me dizem “são velhinhos, que têm um cheiro esquisito, e que têm umas conversas que não se percebem”, e que elas vêem uma ou duas vezes por mês, se insistirem com o pai/mãe, “lá numa casa grande onde estão outros velhinhos como eles...” Depois, um dia viram os pais vestidos com roupas escuras e de óculos pretos, com uma cara estranha de aborrecimento. Ficaram em casa de uma vizinha ou de um familiar, ou foram para um dia de actividades culturais muito respeitosas, que as agências funerárias organizam, para ocupar as crianças, durante o período em que se desenrola as cerimónias fúnebres, com o objectivo de não chocar as crianças com a realidade da morte e com a dureza do momento... A cremação apaga definitivamente aquela existência, garantindo que até o trabalho de uma visita aos restos mortais, se torne “higiénica”... dizem... As nossas crianças, são privadas de amar e conviver, com os nossos pais em ambiente familiar, e de se envolverem no envelhecimento e na morte dos nossos pais. Lembro-me perfeitamente de dar comida á minha avó materna, de falar com o meu avô paterno na minha casa (dos meus pais), lembro-me de dar passeios com o meu avô paterno, e de ele me contar historias que mais me pareciam de super-heróis “paleolíticos”, bem como do degradar das suas saúdes e dos dias em que a morte chegou... Na melhor das hipóteses, estamos a criar crianças que ainda que quisessem, não sabem o que fazer com um velho, como se pode e deve lidar com ele e como ira ser a vida com ele por perto... Quanto muito, farão connosco o que viram fazer, quando os nossos pais ficaram com as suas idades avançadas e precisaram dos nossos cuidados... Irão pôr-nos lá nos lares, como se de antecâmaras de morte se tratasse... A velhice e os velhos são vergonhas que embalamos em caixotes e colocamo-los nos fundos das garagens das nossas vidas, esperando que uma qualquer limpeza, os atire definitivamente para o lixo. As nossas famílias nem sempre são os nossos lares, nem dos nossos filhos, muito menos dos nossos pais.
Bem, cá estou eu; hospitais e centros de saúde... Onde me fui meter!!

“Queria de ti um país de bondade e de ternura!
Queria de ti um mar de uma rosa de espuma!...”


De: Mário de Cesaryni de Vasconcelos

Os centros de saúde o os hospitais, deveriam cuidar e tratar quando de tratamento e cuidado é carente, se no hospital no hospital, se em casa em casa. Muito importante a reter a e não esquecer.
Os centros de saúde, nas pessoas dos seus médicos de família, e não vou cair na tentação fácil de dizer mal dos maus, porque esses existem em todo lugar, são locais que têm um papel importante e complexo na vida dos velhos. Ali se procuram, não só as curas dos corpos como as curas das almas, os ouvidos que escutam, as palavras que consolam, etc. Os avanços na área da medicina e da ciência, têm proporcionado o aumento do tempo de vida, mas o sociedade não proporciona a manutenção da qualidade da mesma. Esse aumento não é sinónimo de desejo de viver. A tentativa de corrigir constantemente os valores bioquímicos dos indivíduos, levam a aplicação de terapêuticas pesadíssimas do ponto de vista físico e psíquico, e a um sentimento de culpa profunda por terem prazeres na vida que resta. As listas titânicas de doentes a ver, conjugadas com muitos outros problemas, levam a que a classe dos médicos de família, olhem em vez de verem... Alguma falta de sensibilidade do que é a velhice, retira qualidade de vida aos de idade mais avançada. Posso dar um exemplo e de um local e de um profissional que conheço. Na casa de repouso X, a taxa de mortalidade entre os utentes, (o número de residentes é bastante elevado), rondava as 3 por semana/11 por mês, e numa estimativa que se fez de consumo de drogas antidepressivas, ansiolíticas e soníferas, chegou-se á conclusão que 83% dos utentes, recorriam com regularidade a este tipo de drogas e que 56%, era mesmo consumidor diário. Depois de observar, com alguma preocupação, aquela amostra, o médico responsável decidiu em conjunto com a dietista, fazer alterações de ementas e de alguns hábitos. Os almoços de sábado, passaram a ser churrascos de carne ou peixe, mas nas arcadas, com os grelhadores ali á mão para buscar e comer e com acesso a 1dl de vinho tinto, e o almoço de domingo passou a ser numas semanas cozido á portuguesa e em outras transmontanas ou afim, sendo que depois, as visitas semanais eram feitas no pátio e nas arcadas, integradas na tarde de divertimento que incluía dança, teatro, declamação, etc., os dias deixaram de iguais, houve quebra de rotina, os utentes ajudam a organizar o próximo fim-de-semana, e todas as semanas há o objectivo de chegar fresco como um pêro ao próximo fim-de-semana. A taxa de mortalidade, diminuiu nos primeiros 3 meses para 1,8 por semana/7 por mês e ao fim de um ano para 1,1 por semana/4,5 por mês, e ainda, o consumo das drogas acima referidas passou para 58% de consumo com alguma regularidade e 18% os que consomem diariamente. Eu, talvez prefira viver 80 anos felizes, em vez de 82 angustiados, ou 90 a desejar morrer. Nós, quando tivermos idades bastante avançadas, teremos outras prioridades, que estão bastante longe das de hoje. Devemos nos esforçar para compreende-las assim como fazemos com as nossas crianças, se é que fazemos... Assim, não aumentamos as vidas mas sim os sofrimentos e as angustias. Nos hospitais, para além dos problemas que em parte, apesar de o carácter ser diferente, são idênticos aos dos centros de saúde, acrescem outros. As taxas de ocupação das enfermarias, atiram para a rua, pessoas que ainda se encontram muito instáveis, por vezes, felizmente a maioria, o regresso a casa e ao meio acabam por proporcionar a estabilidade, no entanto o número dos outros também não é pequeno... Para juntar a isso temos o fenómeno que consiste no facto de existirem pessoas que têm alta hospitalar à meses e até á anos, mas que ninguém as vai buscar ou visitar, e mais, todos os anos nas vésperas das festas anuais como as passagens de ano, pascoa, carnaval e mesmo natal, são internadas, ou melhor dizendo, abandonadas dezenas de pessoas nos bancos de urgência dos hospitais, ou com queixas altamente empolgadas, ou com situações de desespero psíquico, que são recolhidas, quando terminadas estão as festas. É prático, é fácil e é vergonhoso. Mesmo porque cada vez que se entra num hospital, as probabilidades de adoecermos aumentam a cada minuto que lá permanecemos, o que naquelas idades, é muito perigoso.

As igrejas e ou religiões, desempenham papeis em duas vertentes fundamentalmente; criadoras e disseminadoras de lares e afins e enquanto instituições religiosas e ideológicas, que é a vertente sobre a qual irei reflectir agora. Independentemente das fés que aclamam, das legitimidades e dos fundadores e até mesmo dos fins, têm um papel muito importante do ponto de vista social. De algum modo, estas instituições podem dar e transmitir, ou pela mensagem ou pelo apoio a causas, sensações de compreensão, bem-estar, objectivos e esperanças; transmitem razões para continuar a querer viver e lutar por isso. Envolvem as pessoas em projectos de caris voluntario ou não, mas que fazem as pessoas sentirem que têm um papel a desempenhar e que fazem falta na sociedade e á sociedade. Só neste sentido, estas instituições evitam que milhares de pessoas se afundem nas toxicodependências legais em que se tornaram os medicamentos, e que entopem os serviços de psiquiatria e psicologia dos hospitais, bem como os médicos de família nos centros de saúde.

Lares, casas de repouso e afins, e centros de dia. Antes de mais, quero separar os centros de dia das restantes valências. Penso que, os centros de dia, desde que projectados e mantidos com os devidos cuidados, podem ter um bom papel na sociedade, como têm o jardim-escola e o ATL (actividades em tempos livres), para as nossas crianças; principalmente se são necessários cuidados e vigilância suplementares devido ao deteriorar do estado de saúde. No entanto, e tal como nos J.I. e nos ATL, o problema é quando esgotamos completamente os horários; se abre às 7.00h, é às 7.00h que entra, se é às 20.00h que fecha é a essa hora que sai, ainda que os pais ou os filhos estejam em casa e até pudessem estar com eles. Quando fazemos isso com um filho, ele fará isso connosco no centro de dia. Mais uma vez, este problema não pode ser visto pelo lado das obrigações mas antes pelos princípios de respeito e do desejo de reunir a família logo que possível. Assim entendo que os outros locais de internamento, apesar de se chamarem muitas outras coisas, são e estão por princípio mal. Acho principalmente que são uma sociedade paralela com realidades á parte e que desconhecemos, não as querendo conhecer. Ouço por vezes idosos a dizerem que “logo que chegue a minha altura, vou para lá espontaneamente, porque é o melhor para mim e para o meu filho”; bem sei que na maioria dos casos mentem, e mentem por razões óbvias. Antes irem que serem levados, ou seja, porventura será o seu último acto de liberdade (como se ela existisse), ou até talvez uma questão de dignidade própria… pelo menos não terão de, envergonhados e tristes, admitirem para consigo e para com os outros que “tenho uns filhos de merda que me enfiaram num asilo”. “Fui eu que escolhi, e vim!”. Quando a mim, acho que esse á só o principio do fim. Quando era pequeno, recordo-me de, muitas vezes e em muitas ocasiões, ouvir uma história que me diziam ser verdadeira, em que se relatava que um dia, estando um homem já muito velho, e de acordo com a tradição, o seu filho acompanho-o ao cume da montanha onde era costume os velhos serem deixados nos fins das suas vidas. O velho trazia com ele um pão, um pote de mel e uma manta. Ao despedirem-se o velho agarrou na manta e rasgou-a ao meio, dando uma metade ao filho dizendo, “toma e leva para que tenhas com que te tapares um dia quando vieres para este mesmo local”, trazido pelo seu filho, neto do velho… A tradição terminou nesse dia, e o velho envelheceu no aconchego do lar, junto dos netos que o viram morrer…

Os lares podem ter vários nomes; casas de repouso, hotéis sénior, resort do descanso, podem cobrar mensalidades que vão dos 500.00€ aos 4.500.00€, (sim não me enganei no número), podem ter massagens, biblioteca, jardim, golfe, restaurante e médico ou tão simplesmente uma tábua para morrer, mas são e serão sempre o cume da montanha de um velho; e eu não gostaria de para lá ir. A alta rentabilidade do negócio tornou-o apetecível e os locais nascem como cogumelos sobre a matéria orgânica morta, que é a família. Conheço-os muitos e de muitos géneros, bons, maus, limpos, sujos, cuidados e descuidados, apetecíveis e nojentos, mas deveriam ser sempre de ultimo recurso, e só para órfãos de família, gratuitos (suportados pela sociedade e pelo estado que somos nós). Repito os “lares” não são nenhuns lares e por principio, estão mal e a sua utilização actual está errada.

Agora, o que me falta? Deixa-me cá ver! Há, governantes!... Os velhos em particular, não são vistos de modo especial, nem diferente do resto dos portugueses; rentabilidade!
Enquanto criança, acelera-se o crescimento para rapidamente se transformarem em contribuintes, enquanto contribuintes, exploram-se até aos últimos suspiros, enquanto velhos, quanto mais degradada for a vida, mais rapidamente desaparecem, aliviando as seguranças sociais e os ministérios das saúdes e afins com os seus consumos sem qualquer rentabilidade… Sinceramente, acho que nessa matéria, possivelmente não iremos melhorar muito, mesmo porque os governantes já de hoje e os de amanhã, nasceram e cresceram em uma sociedade paralela onde não existia velhos; pelo daqueles que cuidamos em casa, simplesmente porque são nossos pais, gostamos deles e são os nossos pais e avós, são os patriarcas e as matriarcas dos nossos clãs… Tenho a ideia que a principal causa das politicas sociais estarem mal é o facto de se não saber exactamente o que constitui e como se constitui a sociedade…

Realmente, constato que a sociedade tem muito para aprender acerca deste assunto. No tempo dos nossos pais, os filhos, eram encarados como mão-de-obra barata, necessária para a agricultura e não só, com poucos cuidados e preocupações, tinha-se grandes quantidades de filhos, sem que eles e as suas educações fossem causa de grandes preocupações. As crianças nas últimas décadas, tornaram-se muito importantes nas vidas dos pais desta sociedade, assumindo um papel central, mas não muito… Os pais até os querem seguir mesmo depois de formarem as suas pequenas famílias. Nem os pais nem os filhos, estão muito interessados em reflectir no facto de ambos sofrerem mudanças físicas e psíquicas naturais e progressivas, decorrentes da existência e que não pedem licença para chegarem e se instalarem. Assim, o ambiente é geralmente de incompreensão, de increspamento e de intransigência. As vidas modernas e os seus problemas crescentes, vão fazendo com que os filhos também deixem de fazer parte das vidas dos pais, aliás conheço casas onde habitam os pais e os filhos, mas em que ninguém faz parte da vida de ninguém, limitando-se a partilhar espaços e a cruzarem-se, não se conhecendo, não se ajudando, não partilhando, não rindo e não sofrendo juntos… Os pais não têm tempo para os filhos, o pai não tem tempo para a mãe nem vice-versa, os filhos não têm tempo para os pais nem para os avós, os filhos não têm tampo para os velhos e estes por sua vez têm tempo, mas não têm ninguém. As crianças têm de ser envolvidas em todo o processo de evolução e desenvolvimento de todas as fases da vida e da família. As famílias têm de ter um lar. As famílias têm de ser uma célula forte e coesa, onde exista amor, respeito mútuo entre os elementos, entrega, muito bom senso e compreensão. O elementos mais velhos da família devem ser encarados como os patriarcas e matriarcas dos nossos “clãs” e em redor dos quais as famílias se devem reunir, na sua diversidade de pequenas células familiares que entretanto se foram formando. Os patriarcas e matriarcas, devem marcar as suas posições de tal, demonstrando e relembrando que o são e não se divorciando desses seus direitos que ao mesmo tempo são deveres. As crianças devem ter conhecimentos empíricos, sobre a velhice, o que é envelhecer e a morte natural pela soma dos anos de vida. As famílias têm de lutar por serem felizes juntas; se não temos tudo o que amamos, amemos tudo o que temos… Os actuais contornos do envelhecimento são muito preocupantes, mas podemos alterá-los, e sermos muito felizes com as alterações. Todos temos um papel muito importante neste processo, de que não podemos prescindir. Gostaria muito de ver os velhos respeitados, porque uma sociedade que não respeita e acaricia as suas crianças e os seus velhos (nas suas qualidades de, futuro e de sabedoria respectivamente), não tem futuro e perde o seu passado, logo se descaracteriza e perde razão para existir. Em culturas supostamente mais evoluídas, estes processos levaram ao auto extermínio e ao desaparecimento.

Será o futuro da nossa?

Seremos nós simples organismos multicelulares, cuja função única e primordial é a manutenção dos genes…

© Mário Rodrigues - 2009

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O AMOR EM VISITA...

O AMOR EM VISITA

Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lúbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar,
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marítimo
e o pão for invadido pelas ondas,
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes
ele - imagem inacessível e casta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.

Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.
Ah! em cada mulher existe uma morte silenciosa;
e enquanto o dorso imagina, sob nossos dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
- Ó cabra no vento e na urze, mulher nua sob
as mãos, mulher de ventre escarlate onde o sal põe o espírito,
mulher de pés no branco, transportadora
da morte e da alegria.

Dai-me uma mulher tão nova como a resina
e o cheiro da terra.
Com uma flecha em meu flanco, cantarei.

E enquanto manar de minha carne uma videira de sangue,
cantarei seu sorriso ardendo,
suas mamas de pura substância,
a curva quente dos cabelos.
Beberei sua boca, para depois cantar a morte
e a alegria da morte.

Dai-me um torso dobrado pela música, um ligeiro
pescoço de planta,
onde uma chama comece a florir o espírito.
À tona da sua face se moverão as águas,
dentro da sua face estará a pedra da noite.
- Então cantarei a exaltante alegria da morte.

Nem sempre me incendeiam o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.

- Porém, tu sempre me incendeias.
Esqueço o arbusto impregnado de silêncio diurno, a noite
imagem pungente
com seu deus esmagado e ascendido.
- Porém, não te esquecem meus corações de sal e de brandura.

Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz como a espada
se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distância amarga, a lua
estiola, a paisagem regressa ao ventre, o tempo
se desfibra - invento para ti a música, a loucura
e o mar.

Toco o peso da tua vida: a carne que fulge, o sorriso,
a inspiração.
E eu sei que cercaste os pensamentos com mesa e harpa.
Vou para ti com a beleza oculta,
o corpo iluminado pelas luzes longas.
Digo: eu sou a beleza, seu rosto e seu durar. Teus olhos
transfiguram-se, tuas mãos descobrem
a sombra da minha face. Agarro tua cabeça
áspera e luminosa, e digo: ouves, meu amor?, eu sou
aquilo que se espera para as coisas, para o tempo -
eu sou a beleza.
Inteira, tua vida o deseja. Para mim se erguem
teus olhos de longe. Tu própria me duras em minha velada beleza.

Então sento-me à tua mesa. Porque é de ti
que me vem o fogo.
Não há gesto ou verdade onde não dormissem
tua noite e loucura,
não há vindima ou água
em que não estivesses pousando o silêncio criador.
Digo: olha, é o mar e a ilha dos mitos
originais.
Tu dás-me a tua mesa, descerras na vastidão da terra
a carne transcendente. E em ti
principiam o mar e o mundo.

Minha memória perde em sua espuma
o sinal e a vinha.
Plantas, bichos, águas cresceram como religião
sobre a vida - e eu nisso demorei
meu frágil instante. Porém
teu silêncio de fogo e leite repõe
a força maternal, e tudo circula entre teu sopro
e teu amor. As coisas nascem de ti
como as luas nascem dos campos fecundos,
os instantes começam da tua oferenda
como as guitarras tiram seu início da música nocturna.

Mais inocente que as árvores, mais vasta
que a pedra e a morte,
a carne cresce em seu espírito cego e abstracto,
tinge a aurora pobre,
insiste de violência a imobilidade aquática.
E os astros quebram-se em luz sobre
as casas, a cidade arrebata-se,
os bichos erguem seus olhos dementes,
arde a madeira - para que tudo cante
pelo teu poder fechado.
Com minha face cheia de teu espanto e beleza,
eu sei quanto és o íntimo pudor
e a água inicial de outros sentidos.

Começa o tempo onde a mulher começa,
é sua carne que do minuto obscuro e morto
se devolve à luz.
Na morte referve o vinho, e a promessa tinge as pálpebras
com uma imagem.
Espero o tempo com a face espantada junto ao teu peito
de sal e de silêncio, concebo para minha serenidade
uma ideia de pedra e de brancura.
És tu que me aceitas em teu sorriso, que ouves,
que te alimentas de desejos puros.
E une-se ao vento o espírito, rarefaz-se a auréola,
a sombra canta baixo.

Começa o tempo onde a boca se desfaz na lua,
onde a beleza que transportas como um peso árduo
se quebra em glória junto ao meu flanco
martirizado e vivo.
- Para consagração da noite erguerei um violino,
beijarei tuas mãos fecundas, e à madrugada
darei minha voz confundida com a tua.

Oh teoria de instintos, dom de inocência,
taça para beber junto à perturbada intimidade
em que me acolhes.

Começa o tempo na insuportável ternura
com que te adivinho, o tempo onde
a vária dor envolve o barro e a estrela, onde
o encanto liga a ave ao trevo. E em sua medida
ingénua e cara, o que pressente o coração
engasta seu contorno de lume ao longe.
Bom será o tempo, bom será o espírito,
boa será nossa carne presa e morosa.
- Começa o tempo onde se une a vida
à nossa vida breve.

Estás profundamente na pedra e a pedra em mim, ó urna
salina, imagem fechada em sua força e pungência.
E o que se perde de ti, como espírito de música estiolado
em torno das violas, a morte que não beijo,
a erva incendiada que se derrama na íntima noite
- o que se perde de ti, minha voz o renova
num estilo de prata viva.

Quando o fruto empolga um instante a eternidade
inteira, eu estou no fruto como sol
e desfeita pedra, e tu és o silêncio, a cerrada
matriz de sumo e vivo gosto.
- E as aves morrem para nós, os luminosos cálices
das nuvens florescem, a resina tinge
a estrela, o aroma distancia o barro vermelho da manhã.
E estás em mim como a flor na ideia
e o livro no espaço triste.

Se te apreendessem minhas mãos, forma do vento
na cevada pura, de ti viriam cheias
minhas mãos sem nada. Se uma vida dormisses
em minha espuma,
que frescura indecisa ficaria no meu sorriso?
- No entanto és tu que te moverás na matéria
da minha boca, e serás uma árvore
dormindo e acordando onde existe o meu sangue.

Beijar teus olhos será morrer pela esperança.
Ver no aro de fogo de uma entrega
tua carne de vinho roçada pelo espírito de Deus
será criar-te para luz dos meus pulsos e instante
do meu perpétuo instante.
- Eu devo rasgar minha face para que a tua face
se encha de um minuto sobrenatural,
devo murmurar cada coisa do mundo
até que sejas o incêndio da minha voz.

As águas que um dia nasceram onde marcaste o peso
jovem da carne aspiram longamente
a nossa vida. As sombras que rodeiam
o êxtase, os bichos que levam ao fim do instinto
seu bárbaro fulgor, o rosto divino
impresso no lodo, a casa morta, a montanha
inspirada, o mar, os centauros do crepúsculo
- aspiram longamente a nossa vida.

Por isso é que estamos morrendo na boca
um do outro. Por isso é que
nos desfazemos no arco do verão, no pensamento
da brisa, no sorriso, no peixe,
no cubo, no linho, no mosto aberto
- no amor mais terrível do que a vida.

Beijo o degrau e o espaço. O meu desejo traz
o perfume da tua noite.
Murmuro os teus cabelos e o teu ventre, ó mais nua
e branca das mulheres. Correm em mim o lacre
e a cânfora, descubro tuas mãos, ergue-se tua boca
ao círculo de meu ardente pensamento.
Onde está o mar? Aves bêbedas e puras que voam
sobre o teu sorriso imenso.
Em cada espasmo eu morrerei contigo.

E peço ao vento: traz do espaço a luz inocente
das urzes, um silêncio, uma palavra;
traz da montanha um pássaro de resina, uma lua
vermelha.
Oh amados cavalos com flor de giesta nos olhos novos,
casa de madeira do planalto,
rios imaginados,
espadas, danças, superstições, cânticos, coisas
maravilhosas da noite. Ó meu amor,
em cada espasmo eu morrerei contigo.

De meu recente coração a vida inteira sobe,
o povo renasce,
o tempo ganha a alma. Meu desejo devora
a flor do vinho, envolve tuas ancas com uma espuma
de crepúsculos e crateras.

Ó pensada corola de linho, mulher que a fome
encanta pela noite equilibrada, imponderável -
em cada espasmo eu morrerei contigo.

E à alegria diurna descerro as mãos. Perde-se
entre a nuvem e o arbusto o cheiro acre e puro
da tua entrega. Bichos inclinam-se
para dentro do sono, levantam-se rosas respirando
contra o ar. Tua voz canta
o horto e a água - e eu caminho pelas ruas frias com
o lento desejo do teu corpo.
Beijarei em ti a vida enorme, e em cada espasmo
eu morrerei contigo.

Autor: Herberto Helder

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Nunca esperei tal coisa...

...Sempre o admirei! Quase venerei! Era um exemplo que queria seguir. Esforçava-me para que reparasse no que eu fazia; que, diga-se de passagem, era uma repetição das coisas que ele fazia... Tinha a esperança de que um qualquer dia, olhasse e visse, e até mesmo dissesse que estava porreiro ou qualquer outra coisa... Nunca assim foi! Quarenta anos depois, as coisas têm outras proporções. O desprezo, que já por si era consequência da ignorância, passou a indiferença que se apodera dos dias e da relação. As amizades, são como os caminhos do bosque; se não forem percorridos, o mato cresce, e fá-los desaparecer! Não se tratava exactamente de uma amizade... O berço embalou ambos... Em histórias, por vezes choradas, e contadas na primeira pessoa.
Repenso e reflicto sobre a história e o passado...
A culpa sempre foi minha!
Aliás, neste, como em outros casos de idênticos contornos, a culpa foi sempre minha. Tenho de o assumir com frontalidade e sem desculpas hipócritas. Que culpa têm os outros das expectativas que depositei neles? Quando e de que modo os questionei acerca delas? Aliás, para ser sincero, nem eles tinham ou têm consciência da existência e da dimensão das tais expectativas que foram depositadas neles!
Reflicto mais um pouco sobre isso. Acho mesmo que, nem poderiam saber, sob pena de que, sabendo, fossem tomados de um exercício de cinismo e encenassem ema personagem para representar no palco das nossas vidas, que então seria uma farsa. Ou então, poderiam ainda ser genuínos, e ignorado como realmente sou, as minhas expectativas caiem por terra, desiludindo-me permanentemente.
Terei eu, alguma legitimidade para depositar expectativas nos outros, e ainda esperar que eles correspondam a elas? Mesmo porque isso é um autêntico jogo de lotaria. Esperar que alguém acerte em algo que nem sequer tem consciência que seria para acertar, só para corresponder às minhas expectativas! Parece-me muito pretensioso da minha parte...
Vou reflectir mais um pouco sobre isto...
Vem-me á lembrança que muitas vezes crio expectativas em pessoas com base nas promessas que me fazem; ou pelo menos em declarações que eu compreendo como se tratando de promessas. Reparo ainda que ao longo da minha vida tenho criado expectativas por razões muito estúpidas! Caras, sorrisos, olhares, espetos exteriores e ou interiores, frases... Eu sei lá... Sou um bocado parvo, e mesmo maniento! Achar que tenho o direito, silencioso e de exclusiva existência na minha cabeça, de esperar que pessoas façam e que eu espero que façam... Quantas vezes espero, que façam coisas incoerentes em contextos diferentes?
O mundo desilude-me tão só porque eu me iludi acerca dele. E ele não tem qualquer obrigação de o não fazer... Estranho seria se tal acontecesse...
Aí... Aí a minha postura perante os mundos mudou. Quanto menos espero, menos me angustio e desiludo com a frustração das expectativas que não tenho. E cada vez mais, espero nas pessoas de quem nada espero, e tudo obtenho...

© Mário Rodrigues - 2009

sábado, 22 de agosto de 2009

O meu horóscopo...

Aquário

AMOR: Se tiver alguém interessado(a)
em si, vá dando trela sem se envolver,
só para ir alimentando as expectativas
em relação à coisa. Ter alguém interessado
em nós é sempre bom para o
ego, mesmo que não se goste dessa
pessoa.
SAÚDE: Estatisticamente, este será o
ano em que urinará mais, de todos os
da sua vida.
DINHEIRO: Este ano vai ter que trocar
as notas de 5 e 10 contos que tinha
guardado para colecção.
OBJECTO DA SORTE: Nota de 5 ou
10 contos

in "Revista365, nº30"

Famílias modernas...


Sexta-feira...Segunda feira...


sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Afinal não passo de um grande sacana...

Todo o que é merda que se faz neste mundo, é útil a alguém, e acaba por ter benefícios inocentes para terceiros, que se essa merda não houvesse, como eu pretendia, não beneficiariam, e os seus respectivos filhos passariam pior... Afinal não passo de um grande sacana.

Se não fosse o que discordo, como teimaria no que concordo??

© Mário Rodrigues - 2009

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Dias úteis...

Este texto foi publicado aqui no Recanto, há alguns meses. Agora que estou uns dias de descanso, reli-o e ele reaviva-me a dúvida...

...não raras são as vezes que um ansiolítico faz parte da ceia de domingo.
Adoro trabalhar sempre que esse trabalho está a ser útil de alguma maneira e ou a alguém , caso contrario limito-me a me arrastar pelo mundo para a sopa (minha e da família ). Gosto de pensar, de inventar, de suar, de ajudar, etc. Eu...não gosto de cavar, gosto sim de ver as flores crescerem, não gosto de "alombar", mas antes da “narta” que proporciona uns momentos com os amigos e a família a dissertar sobre uma...qualquer.
Mas fiquei a pensar, no termo, "dias úteis". Será que os dias que mais prazer me dão, são inúteis?!

© Mário Rodrigues - 2009

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Buxo Sempervirens

BUXO (buxo sempervirens)

Este arbusto é muito utilizado para a topiária. A folhagem é verde escura, muito resistente e regenera-se bem das podas semestrais. Como características principais do buxo, destaco a sua durabilidade e rusticidade, com poucas exigências de manutenção. Deve ser cultivado a sol pleno, com solo fértil e regas regulares. É tolerante ao frio...

© Mário Rodrigues - 2009

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Cinema Paraíso

Há já muito que tenho a sensação de ser o menino, “cinema paraíso”. Por detrás dos cordames que sustentam os cenários de um palco vital, vou espreitando... Ora curioso, ora envergonhado, ora indignado... De quando em vez, chamam-me ao palco. São necessários aplausos para se encha um qualquer ego, insaciável... Os actores, esses representam uma comédia trágica que os contem em si mesma. De fora tenho a sensação de ser espectador único! Mas não! Vou encontrando outros...

© Mário Rodrigues - 2009

Preambulo às instruções para dar corda ao relógio

Pensa nisto: quando te oferecem um relógio, oferecem-te um pequeno inferno florido, uma prisão de rosas, um calabouço de ar. Não te dão somente um relógio, muitos parabéns, que te dure muitos e bons, é uma óptima marca, suíço com não sei quantos rubis, não te oferecem somente esse pequeno pedreiro que prenderás ao pulso e passearás contigo. Oferecem-te – ignoram-no, é terrível ignorá-lo – um novo bocado frágil e precário de ti mesmo, algo que é teu mas não é o teu corpo com uma correia, como um bracito desesperado pendente do pulso. Oferecem-te a necessidade de lhe dar corda todos os dias, a obrigação de dar corda para que continue a ser um relógio; oferecem-te a obsessão de ver as horas certas nas montras das joalharias, o sinal horário na radio, o serviço telefónico. Oferecem-te o medo de o perder, de seres roubado, de que caia para o chão e se parta. Oferecem-te uma marca, a convicção de que é uma marca superior ás outras, oferecem-te a tentação de comparares o teu com os outros relógios. Não te oferecem um relógio, és tu o oferecido, a ti oferecem para o nascimento do relógio...

Autor: Júlio Cortázar in "Histórias de Cronópios e de Famas"

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Passos em redor do mesmo…

Ainda não sei, e não tenho a certeza de algum dia vir a saber, se feliz ou infelizmente, a vida não é o que gostaríamos, o que seria correcto!…
È simplesmente uma sequência de realidades, algumas “destroçantes”… mas que nos amaçam, como o diabo amaça o pão com as suas pútridas mãos…

© Mário Rodrigues - 2009

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Durex...


Amores descartáveis…

…O que procuram, não é amor; assim como o que tinham antes também, já o não era!...
O amor não é coisa que se procure, ou que se compre, apesar de muitos o entenderem dessa maneira.
As pessoas, e infelizmente não estou só a falar dos, “teenager inconsientes”, têm medo de olhar para o seu interior, talvez porque possam não gostar do que vêm. Não param, não fazem “intervalos”, não reflectem, não ponderam… e sinceramente acho que não vivem… apenas correm atrás de um, “dar nas vistas”, que chega a ser inconsciente.
Um amor, um filho, um amigo… e outros marcos das nossas vidas, são únicos, e contendo-nos, contêm-nos. Jamais um, ocupa o “espaço” de outro, são muito poucos, irrepetíveis, insubstituíveis, são pedaços (muito grandes de nós) … e esses devemos lutar por mente-los e aumenta-los, se os perdemos; perdemos pedaços de nós, pedaços tão grandes, que podem por em risco a nossa identidade e a nossa vida…

© Mário Rodrigues - 2009

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

O infinito e mais aquém…

No início era…
Depois, mas só depois; força, matéria e alquimia, em absoluto simultâneo…

© Mário Rodrigues - 2009

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Como chorar...

"Deixando de lado os motivos, atenhamo-nos à maneira correta de chorar, entendendo por isto um choro que não penetre no escândalo, que não insulte o sorriso com sua semelhança desajeitada e paralela. O choro médio ou comum consiste numa contração geral do rosto e um som espasmódico acompanhado de lágrimas e muco, este no fim, pois o choro acaba no momento em que a gente se assoa energicamente.
Para chorar, dirija a imaginação a você mesmo, e se isto lhe for impossível por ter adquirido o hábito de acreditar no mundo exterior, pense num pato coberto de formigas e nesses golfos do estreito de Magalhães nos quais não entra ninguém, nunca.
Quando o choro chegar, você cobrirá o rosto com delicadeza, usando ambas as mãos com a palma para dentro. As crianças chorarão esfregando a manga do casaco na cara, e de preferência num canto do quarto. Duração média do choro, três minutos."

Autor: Julio Cortázar in "Histórias de Cronópios e de Famas")

Farto de...

sábado, 1 de agosto de 2009

Haveremos de ser um dia…

Haveremos de ser um dia…

…Pessoas que felizes no nosso íntimo, constataremos o bem-estar e os sucessos dos nossos companheiros de “viagem”…

…Pessoas, que não nos achando, melhores e mais distintas que outras, olharemos pelos interesses e bem-estar de todos, não só porque fazendo-o, fazemo-lo a nós próprios, mas também pela obrigação de o fazer a quem jamais nos poderá retribuir…

…Uma enorme multidão de pessoas, que pelas ruas pediremos a todos os que connosco se cruzarem, para que tão-somente, vivam de modo inócuo para com os outros. E então, com a luz que nos será endógena, provocarmos o desejo de nos acompanharem…

E então; então seremos dignos da denominação de seres humanos e inteligentes…

© Mário Rodrigues - 2009

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